Indústria de alimentos para animais com dificuldade no acesso a matérias-primas

Pode não haver ruturas na cadeia de produção e abastecimento ou ruturas de stocks de géneros alimentícios, mas há subsetores da indústria agroalimentar com dificuldades no acesso a certas matérias-primas.

Porcos

É o caso da indústria para alimentação animal, que registou um volume de negócios de 1426 milhões de euros em 2018 (11,5% do agroalimentar nacional), emprega cerca de 3400 pessoas e cuja atividade é essencial à sobrevivência de milhares de explorações pecuárias e agropecuárias em todo o país.

Em declarações à Vida Económica, Jaime Piçarra, Diretor-Geral da IACA – Associação dos Industriais de Alimentos Compostos para Animais, remete para as preocupações já transmitidas ao Governo através do Grupo de Acompanhamento das Condições de Abastecimento de Bens nos Setores Agroalimentar. 

«Nos próximos tempos, num horizonte relativamente curto, as empresas da alimentação animal podem vir a confrontar-se com problemas de aprovisionamento de aditivos, de algumas pré- -misturas e de outras matérias-primas», revela o responsável da IACA. É o caso da soja, cujos preços «têm subido» devido a problemas nos países de origem, como o Brasil, EUA ou Argentina.

A própria FPAS – Federação Portuguesa de Associações de Suinicultores deu feedback ao Governo das “preocupações” com as matérias-primas e o fornecimento de alimentos compostos para os animais.

Perturbação na cadência de abates dos matadouros espanhóis

João Bastos, diretor-geral da FPAS, diz que «é fundamental minimizar os impactos desta crise na produção de carne». Desde logo, porque «o setor é particularmente sensível por ser deficitário, acusando um maior grau de exposição às perturbações que a evolução da epidemia pode causar na cadeia de abastecimento». E lembra a «situação dramática vivida por Espanha», revelando que «será inevitável a perturbação na cadência de abates dos matadouros espanhóis». Até ao momento, «não sentimos constrangimentos de maior», mas há «pontos críticos» que já foram assinalados ao Governo como «fatores de risco»: o tráfego portuário, os procedimentos que possam ser tomados no caso de surgimento de um caso positivo em fábricas de rações e matadouros e, ainda, a questão que mais nos preocupa, que tem a ver com o escoamento dos leitões, um segmento altamente penalizado pelo encerramento de restaurantes.

Entre os animais que necessitam de alimentos estão os bovinos. A produção de leite, garante Jorge Rita, presidente da Associação Agrícola de S. Miguel (Açores), «não pode parar, porque é essencial e imprescindível à alimentação da população”, até porque “o leite possui elementos de grande valor proteico e mineral, contribuindo para a melhoria da qualidade de vida dos consumidores».

Jorge Rita lembra que, para que o leite e demais produtos lácteos nos cheguem à mesa, «as vacas têm de ser ordenhadas e alimentadas diariamente». Daí que o funcionamento das explorações tenha de continuar, «para que o abastecimento alimentar seja regular e capaz de satisfazer as necessidades da sociedade».

Raças autóctones de bovinos e pequenos ruminantes em risco

Idalino Leão, Presidente da FENAPECUÁRIA, também deixa o alerta: «O setor agropecuário faz parte do imaginário coletivo nacional, da nossa gastronomia de norte a sul» e, «infelizmente, pelos piores motivos, está a ser valorizado». Espera, pois, que esta «seja uma tendência para ficar» e que «os portugueses saibam que o setor está mobilizado e focado em produzir alimentos como a carne, leite e ovos que cheguem às mesas de todos os consumidores».

«Nesta fase não existem constrangimentos na aquisição de alimentos para os animais, contudo, há outros problemas graves que urgem de solução: as raças autóctones de bovinos, pequenos ruminantes e leitões, como são produtos essencialmente consumidos na restauração, estão a sofrer». A FENAPECUÁRIA diz que «é fundamental articular uma solução conjunta que envolva a produção, indústria e governantes para encontrar uma solução real para estes casos».

FONTE: Vida Económica

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