História da engenharia alimentar em Portugal

engenharia alimentar

Por Rui Alves | Coordenador do Grupo de Engenharia Alimentar, Instituto Politécnico de Viana do Castelo

Introdução

O setor alimentar é, em qualquer nação, um setor fundamental: sem alimentação em quantidade suficiente e de boa qualidade, a população não cresce nem se desenvolve.

Cada vez mais a capacidade para alimentar um povo é vista como a chave para o sucesso económico e a independência. Este aspeto é tanto mais importante quanto mais se sabe que, com o aumento da população mundial e no cenário atual de economia globalizada, cerca de 16% da população mundial depende de alimentos produzidos em áreas distantes, sendo Portugal um dos casos de maior dependência de importações.

Pior: estima-se que em 2050 este número aumente para 51% da população mundial (Fader et al., 2013), o que significa que metade da população mundial não será capaz de se alimentar pelos seus próprios meios.

Quando se discutem temas relativos à alimentação é essencial distinguir dois setores genéricos: (i) o setor primário alimentar, que envolve a produção agrícola e pecuária, as pescas e a piscicultura; (ii) o setor das indústrias alimentares, que envolve as indústrias responsáveis pela maior ou menor transformação e processamento dos alimentos com vista à sua conservação desde a produção até ao consumo.

Como se disse anteriormente, sendo a alimentação cada vez mais dependente do comércio mundial, a indústria alimentar é cada vez mais importante, não só para conservar os alimentos, como para evitar os desperdícios atuais, e assumirá um papel cada vez mais proeminente nas sociedades modernas.

Ao mesmo tempo, os consumidores são cada vez mais exigentes, obrigando as indústrias alimentares a constantes desenvolvimentos de novos produtos que satisfaçam as exigências dos consumidores. Estas razões fazem com que a formação superior na área alimentar seja essencial para dotar as indústrias de pessoal técnico capaz de defrontar todos os desafios com que a indústria alimentar se vai defrontando.

Definições

O Institute of Food Technology dos Estados Unidos da América (IFT, 2016), tal como o Institute of Food Science and Technology europeu (IFST, 2016) definem Tecnologia e Ciência Alimentar do seguinte modo:

· Ciência Alimentar: estudo das propriedades físicas, biológicas e químicas dos alimentos, as causas da deterioração e os conceitos subjacentes ao processamento alimentar. Inclui disciplinas de química, engenharia, microbiologia e nutrição. Envolve a pesquisa de formas de processar, conservar, embalar e armazenar alimentos que respeitem normas e leis governamentais.

· Tecnologia Alimentar: aplicação da ciência alimentar à seleção, conservação, processamento, embalagem, distribuição e utilização de alimentos seguros. Recorre a conceitos de química, biotecnologia, engenharia, nutrição, controlo da qualidade e gestão da segurança alimentar.

Como se pode verificar, nestas definições, a Engenharia Alimentar é uma parte integrante da Ciência Alimentar e da Tecnologia Alimentar. Aliás, Singh e Heldman (2013), ao definirem engenharia alimentar, dão razão a essa dependência da engenharia alimentar em relação à ciência e tecnologia alimentares, ao defini-la do seguinte modo:

· Engenharia Alimentar: conjunto multidisciplinar de ciências físicas, incluindo engenharia agrícola, engenharia mecânica e engenharia química nas suas aplicações a materiais alimentares.

Vê-se assim que, internacionalmente, a Ciência Alimentar é definida como o estudo do alimento e das alterações que sofre durante a deterioração e o processamento, bem como a investigação de novas formas de processar os alimentos.

A Tecnologia Alimentar trata essencialmente da aplicação prática da ciência alimentar, incluindo o manuseamento e processamento dos alimentos desde a produção até ao consumo. Já a Engenharia Alimentar restringe-se essencialmente às operações industriais propriamente ditas, tendo por base os equipamentos necessários para o processamento alimentar e a optimização dos processos.

*Artigo publicado na íntegra na edição impressa da revista TecnoAlimentar n.º 9. Faça a sua assinatura aqui.

Fonte: TecnoAlimentar 

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