Fontes de energia para a produção de leite

Fontes de energia para a produção de leite

Por: Luís Queirós,
Pioneer Hi-Bred Sementes de Portugal S.A.

Com a escalada do preço dos cereais, nomeadamente do milho, muitos produtores vêem na incorporação de mais silagem de milho na dieta uma solução, na tentativa de produzir leite a mais baixo custo. Além disso, a utilização de silagem de grão húmido (vulgo Pastone, ou HMC – High Moisture Corn) ou silagem de espigas (vulgo Pastone integral ou HMEC – High Moisture Ear Corn), é cada vez mais vista como uma alternativa viável, e até fundamental, à substituição parcial, ou mesmo total, da farinha de milho.

A utilização de Silagem de Grão Húmido e Silagem de Espigas

A utilização de Silagens de Grão Húmido (Pastone de grão) ou Silagens de Espiga (Pastone Integral) é, sem dúvida nenhuma, uma forma vantajosa de diminuir os custos de produção, ainda mais com o preço da farinha de milho bastante elevado, podendo esta ser substituída integralmente, em determinadas fases do ciclo produtivo da vaca leiteira.

O Pastone de grão é uma matéria-prima de elevado valor energético, maior ainda do que a farinha de milho, pelo facto da sua digestibilidade ruminal ser maior. Além disso, o preço ao produtor de leite será sempre bastante competitivo. Esta tecnologia será até atractiva para o produtor de grão, que pode decidir comercializar o grão não aos 14% de humidade, mas poupar os custos de secagem, vendendo o grão como silagem de grão húmido.

Em termos gerais, no nosso país podemos produzir dois tipos de Pastone: Pastone de Grão e Pastone de Espigas. O Pastone de Grão, como o nome indica, é produzido apenas com o grão, colhido por uma ceifeira debulhadora, e depois triturado convenientemente. De seguida será conservado da mesma forma que a silagem de milho. Deveremos esperar pela maturação completa do grão, para assegurar a maior produção de amido. O Pastone de Espigas é produzido utilizando a espiga completa, brácteas incluídas.

Para tal, geralmente utilizamos uma auto motriz de corte de silagem, mas com uma frente de uma ceifeira debulhadora para “ripar” a espiga. A altura de colheita deverá ser a mesma que para o Pastone de Grão.

As diferenças nutricionais para este último revelam-se ao nível da humidade, geralmente 4-6% mais do que o Pastone de Grão, e pela presença das brácteas e de toda a espiga, deveremos contar com um teor de fibra (NDF) mais elevado e um teor de amido mais baixo (diluído pela fibra). No entanto, esta fibra é de elevada digestibilidade. Além disso, regra geral, o Pastone de Espigas produzirá cerca de 15 a 20% mais do que o Pastone Grão, por hectare.

Pontos-chave na obtenção de Pastone de Alto Valor Nutricional

  • Escolha do Híbrido
  • Humidade
  • Digestibilidade do Amido
  • Conservação

Escolha do Híbrido

A selecção do híbrido deverá inicialmente ser baseada no ciclo cultural adaptado à zona de sementeira, de modo a evitar qualquer risco agronómico. Deveremos seleccionar híbridos que garantam:

  • Elevada produção de grão/ha
  • Bom Stay green (verdor final)
  • Dry down lento (secagem do grão lenta)
  • Peso específico do grão elevado

Humidade

A humidade é essencial para garantir uma adequada compactação e uma fermentação de qualidade. Deverá rondar os 28-32% no grão. Devemos evitar humidades do grão abaixo dos 26%, pela difícil fermentação e utilização posteriores. Aconselhamos a adicionar água no caso da humidade se cifrar abaixo deste valor. Os estudos científicos revelam que quanto maior for a humidade, mais eficiente será também a digestão do amido a nível ruminal, sendo positivo no fluxo microbiano ruminal, mas se mal ajustada a dieta, poderá ser um risco potencial de acidoses (figura 1).

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Digestibilidade do Amido

A Digestibilidade do Amido  (figuras 2 e 3) é provavelmente o ponto mais importante e também controverso na qualidade final do Pastone de Grão e no Pastone de Espigas. Três factores são extremamente importantes na digestibilidade do amido:

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Processo de fermentação e tempo de fermentação

A Digestibilidade Ruminal do Amido do Pastone de Grão ou Pastone de Espigas aumenta, ao longo do tempo de fermentação. Isto ocorre pelo facto de que o amido no grão está envolto por proteínas, denominadas proteínas Zein ou Prolaminas, que no início da fermentação impedem o ataque da flora microbiana. Os ácidos de fermentação hidrolisam as ligações entre a proteína e o amido, permitindo que este se torne mais disponível ao longo do tempo. Assim sendo, é imprescindível ajustar a formulação da dieta para a percentagem de amido, principalmente quando iniciamos a utilização de um silo novo, e quando passamos para um silo com um período de fermentação mais elevado, sob risco de poderem surgir casos de acidoses ruminais. Como regra geral, podemos admitir que a Digestibilidade Ruminal do amido é de 70% no início do processo de fermentação, aumentando em média 3% por mês, atingindo um plateau ao fim de 150-160 dias. No exemplo da figura, a alteração da digestibilidade levou a que o rúmen do animal ficasse exposto a mais amido, com a mesma quantidade de alimento. Ajustando a dieta para os valores iniciais, podemos diminuir a quantidade de amido da dieta, levando a uma poupança nos custos de produção de leite.

Processamento do grão

Tal como na Silagem de Milho, o processamento do grão é fundamental. Podemos averiguar a qualidade do processamento através de uma análise laboratorial ao diâmetro médio da partícula do grão. Este método utiliza um conjunto de crivos que tem como objectivo averiguar a percentagem de grão que é de dimensão superior a 4,75 mm. Todas as partículas do grão que sejam inferiores a 4,75 mm estão imediatamente disponíveis para a flora microbiana do rúmen. Idealmente, devemos garantir que 70% do grão seja de menor dimensão que os 4,75 mm de referência (figura 4).

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Características do Grão

Vitreosidade do grão

A vitreosidade do grão é uma característica que tem em conta a quantidade de proteínas zein que envolvem o amido. Quanto maior for a vitreosidade, maior será o peso específico do grão. Estudos científicos revelam que o peso específico é directamente proporcional à produção de grão/ha. Algumas vezes tida como uma desvantagem, hoje sabemos que a digestibilidade do amido na silagem de milho e nos dois tipos de Pastone não é influenciada negativamente pela vitreosidade do grão, pelo facto do amido ser devidamente processado e fermentado aquando da conservação.

Conservação

O Pastone é uma matéria-prima de elevado valor biológico, que sofrerá um processo de fermentação idêntico ao da Silagem de Milho. A dificuldade de fermentação prende-se com a baixa percentagem de açúcares, quer no Pastone de Grão, quer no Pastone de Espigas (1-2% na Matéria Seca), e também na elevada percentagem de Matéria Seca, assim como elevada concentração de leveduras indesejáveis. Por esse motivo, a utilização de um inoculante específico para esta cultura, comprovado cientificamente, é essencial. Este deverá garantir uma fermentação rápida, produção equilibrada de Ácido Láctico com Ácido Acético e Propiónico, de forma a aumentarmos a estabilidade aeróbica e diminuirmos as perdas de Matéria Seca, durante a sua utilização.

Conclusão

Numa análise final, a utilização de Pastone de Grão ou Pastone de Espigas, se bem manuseados, aumentam a eficiência alimentar, quando comparados com Farinha de Milho. E com o preço desta última, isso faz toda a diferença.

O artigo foi escrito no ano 2011, tendo sido publicado na primeira edição da Revista Agrotec.

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