Evolução do Programa Nacional de Melhoramento Genético do Arroz

Evolução do Programa Nacional de Melhoramento Genético do Arroz

Por: Ana Sofia Almeida1, José Coutinho1, Carla Brites1, Filipe Lavrador1, Benvindo Maçãs1, Paula Marques2 e António Jordão3
1 Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária, MAM
2 Centro Operativo e Tecnológico do Arroz - COTArroz
3 Direção Regional de Agricultura e Pescas do Centro

O arroz é um alimento básico da população em várias regiões do globo. O consumo europeu não é relevante para o comércio internacional global, que transaciona quantidades que não são significativas, correspondendo apenas a cerca de 7% da produção mundial, que atualmente é de 464 milhões de toneladas. Em contrapartida, a produção (180.000 t) e o consumo português (18 kg/ano/per capita) são significativos no contexto europeu.

Em Portugal, a área total semeada com arroz tem vindo a aumentar desde 2008, tendo sido em 2013 (AOP) de 29.885 ha, o que representa mais 4.044 ha do que em 2008. Entre 2010 e 2012, verificou-se um aumento na área semeada com arroz do tipo Japonica (carolino) a par de uma diminuição na área semeada com arroz do tipo Indica (agulha), tendência que foi invertida em 2013 (Figura 1).

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O Programa de Melhoramento Genético do Arroz

No final da década de 80, a investigação em melhoramento genético que se realizava em Portugal, desde a década de 50, pelo atual Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária (INIAV, I.P.), foi interrompida, com consequente suspensão do movimento constante de seleção de novo germoplasma e descontinuidade no fluxo de obtenção de novas variedades portuguesas, as quais eram utilizadas pelos agricultores portugueses. Este facto levou a que os orizicultores e as indústrias começassem a importar variedades, principalmente de Itália.

O INIAV, consciente de que o melhoramento genético nacional - atividade de criação, seleção de variedades e a produção de semente - torna possível disponibilizar aos agricultores nacionais novas variedades, ajustadas às condições agro-económicas do sistema de produção de arroz em Portugal, estabeleceu em 2003 o recomeço do programa de melhoramento genético do arroz. O INIAV extinguiu o Centro de Orizicultura, mobilizando os recursos disponíveis e envolvendo os interessados para dar início a uma nova fase da investigação. Foi criado o Centro Operativo e Tecnológico do Arroz – COTArroz, em que participam todos os agentes da fileira (investigação, produção e indústria).

O programa base é desenvolvido nos campos experimentais do COTArroz, em Salvaterra de Magos, onde são instalados, anualmente, o bloco de cruzamentos (grupo de progenitores base de cada ano) e executados os cruzamentos artificiais. São ainda semeadas as parcelas de gerações segregantes, os ensaios de avaliação de rendimento, os ensaios de carácter ecofisiológico, as parcelas de avaliação de germoplasma, introduzido de outros programas internacionais, e as parcelas de seleção de manutenção.

Uma vez que as probabilidades de sucesso aumentam efetuando a seleção das plantas nos locais a que a cultura se destina, foram identificados inicialmente dois locais-chave para o processo: a) Salvaterra de Magos (COTArroz) e b) Vale do Mondego (DRAP Centro). Assim, a seleção das gerações segregantes é efectuada nestes dois locais, onde as plantas são sujeitas à pressão natural de cada região.

Avaliação agronómica das linhas avançadas do Programa de Melhoramento do Arroz (2010 – 2013)

O Programa Nacional de Melhoramento Genético do arroz tem progredido continuamente. Desde 2010 que se instalam, anualmente, ensaios que incluem as linhas avançadas selecionadas no Programa Nacional de Melhoramento do Arroz e variedades comerciais (testemunhas de comparação), com o objetivo de avaliar diversos parâmetros agronómicos e de qualidade (Tabela 1). Estes parâmetros incluem a avaliação do vigor inicial (nº de plantas à emergência); as principais datas fenológicas (aferição do ciclo de desenvolvimento do genótipo), as alturas do colmo e da panícula, os componentes da produção, nomeadamente o nº de grãos por m2 e o peso de mil grãos; a produção de grão e a avaliação da qualidade, através da biometria e do rendimento industrial. Conjuntamente, a resistência ou susceptibilidade às principais doenças, nomeadamente à piriculariose foliar e panicular (Pyricularia oryzae) e à helmintosporiose (Helminthosporium oryzae), é avaliada nos diversos ensaios.

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Os ensaios são conduzidos em dois locais: na região do Vale do Tejo, nos campos experimentais do COTArroz em Salvaterra de Magos (Figura 2) e na região do Vale do Mondego no campo experimental do Bico da Barca (DRAPCentro), concelho de Montemor-o-Velho (Figura 3). Os ensaios são instalados com uma densidade de sementeira de 500 grãos/m2, em blocos casualizados com 3 repetições. Os ensaios são semeados com um semeador de ensaios (Figura 4), em talhões com 10m2 de área, com seis regos, e são conduzidos com um itinerário técnico idêntico ao adoptado pelos produtores de arroz para cada região.

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A produção média de grão dos genótipos incluídos nos ensaios de avaliação agronómica de 2013 em Salvaterra de Magos são apresentadas na Figura 5 e em Montemor-o-Velho na Figura 6. Este grupo de genótipos reúne linhas avançadas que são ensaiadas desde 2010 (OP 10..., 4 anos de ensaios); 2011 (OP 11..., 3 anos de ensaios) e 2012 (OP 12..., 2 anos de ensaios). Os valores representam as médias obtidas para cada um dos genótipos, abrangendo o total de anos em ensaio. A realização de ensaios plurianuais permite confirmar bons resultados e selecionar os genótipos que serão eliminados e consequentemente não serão incluídos nos ensaios do ano seguinte.

Nos ensaios realizados no Vale do Mondego (Figura 6), 5 linhas avançadas produziram, em média, acima de 7.700 kg/ha, designadamente, OP 1001 (Figura 7); OP 1207; OP 1206; OP 1205 e OP 1201, tendo superado a testemunha mais produtiva (Ronaldo). A produção média dos genótipos OP 1001 e OP 1201 superou igualmente a produção das variedades comerciais nos ensaios do Vale do Tejo.

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Na campanha de 2014 será reforçada a avaliação da adaptação e da interação com o ambiente das linhas avançadas do Programa de Melhoramento Genético (aferição de características agronómicas, da produção e qualidade) com o alargamento da instalação de ensaios de rendimento à região do Vale do Sado, para além das outras duas regiões produtoras de arroz (Vale do Tejo e Vale do Mondego).

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