Escolha de fontes forrageiras alternativas destinadas ao consumo equino: leguminosas (Parte I / II

Escolha de fontes forrageiras alternativas destinadas ao consumo equino: leguminosas (Parte I / II

Por: Dr. Vinicius Pimentel Silva,
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro - Brasil, Professor de Nutrição Animal – Especialista em Nutrição Equina, Departamento de Nutrição Animal e Pastagem – Instituto de Zootecnia.

Objectivando-se uma criação rentável e tecnicamente planejada, nada mais correcto que o produtor venha a preocupar-se com a disponibilidade de alimentos na propriedade. Nesse sentido, a alimentação é responsável pelo maior custo de produção, de forma que seleccionar plantas forrageiras como a base da alimentação é importante para a redução dos gastos. Nesse contexto, as leguminosas podem ser uma excelente alternativa.

É importante frisar que ao implantar a infra-estrutura forrageira, deve-se fazê-la com a mesma seriedade com que se planeja qualquer outra actividade na cadeia produtiva. Assim, para a idealização dessas etapas devem ser levados em consideração alguns aspectos importantes como as particularidades do comportamento equino, nutrição e manejo.

No aspecto comportamento, é importante ressaltar que os cavalos são animais pastejadores por natureza e apresentam adaptações anatómicas do trato digestivo específicas para essa função. Desta forma, todo o alimento consumido é temporariamente armazenado no estômago, muito embora, o cavalo seja um animal considerado de grande porte, o tamanho do seu estômago é pequeno. Sendo assim, a limitação física de espaço confere-lhe a característica natural do consumo lento. Logo, ao alimentarem-se agem como exímios selectores, escolhendo muito bem o que desejam. Eles separam os alimentos mais saborosos, novos, e que consequentemente são mais nutritivos e que serão ingeridos em pequenas refeições, distribuídos ao longo das 24 horas.

Ainda relativo aos aspectos comportamentais, observamos outra característica, a selectividade, que nada mais é que a capacidade de escolher o alimento (associada também à palatabilidade), e que, em resumo, se refere aos factores que tornam o alimento mais atractivo e, consequentemente, o leva a ser consumido de forma voluntária pelos cavalos. Investigadores, há muitos anos, descreveram que a percepção fisiológica da apreciação envolve a combinação dos sentidos da textura, do sabor e do cheiro. Portanto, a diferença entre as espécies animais na percepção dos diferentes sentidos faz com que os alimentos sejam aceites de forma distinta entre as espécies animais. Sobre isso, é importante informar aos criadores que insistem em utilizar áreas com forrageiras destinadas à criação de bovinos, caprinos e ovinos, que não se trata de prática totalmente recomendável. Isso não quer dizer que essas áreas devam ser inutilizadas, mas reavaliadas quanto à forma de utilização, quando destinada ao consumo equino. Pois nem sempre uma óptima forrageira destinada a ovinos e etc. será adequada aos cavalos. Apesar da possibilidade da planta apresentar óptima composição nutricional, antes de tudo, é preciso verificar se a mesma será consumida em quantidades satisfatórias pelo animal.

Pode-se observar que os cavalos, quando criados soltos, e com disponibilidade de pastagem de qualidade, sabem muito bem como se alimentar e, dificilmente apresentam distúrbios digestivos. Isto porque, nestas condições, o animal está livre para exercer o seu comportamento natural, consumindo o que melhor lhe convém, no local que desejar e o quanto for necessário. De forma que possibilitar áreas de pasto com diversidade botânica torna-se atractivo e saudável aos equinos.

No aspecto nutrição, são inúmeras as características que devem ser levadas em consideração na escolha das plantas forrageiras que serão disponibilizadas como alimento, pois essa decisão terá significativa influência na saúde nutricional dos cavalos. As plantas forrageiras fornecem vários nutrientes, entre eles: a proteína, gordura, açúcares, minerais e vitaminas, além da fibra.

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Os cavalos são capazes de extrair nutrientes de estruturas vegetais que nem todos os mamíferos são capazes. Isto porque, no seu trato digestivo existem bactérias capazes de utilizar a fibra como fonte de alimento e os subprodutos gerados do processo da digestão bacteriana são absorvidos pelo cavalo.

Ao fornecermos o alimento volumoso, seja na forma de pasto ou feno, fornecemos uma quantidade significativa de fibra. Ela é essencial, pois promove o funcionamento normal do trato digestivo, mantém a mastigação por mais tempo, além de fornecer energia para o cavalo. Neste ponto, estrategicamente podemos disponibilizar forrageiras com fibras de melhor qualidade, com mais nutrientes, assegurando uma dieta equilibrada. Resultados de investigações sobre a avaliação nutricional de alimentos forrageiros para equinos serão descritos mais adiante.

Obviamente, a nutrição adequada dos animais da propriedade será alcançada com um planeamento, que se resume no balanceamento da dieta (tudo o que é consumido por dia), neste caso é contabilizado: feno, pasto, concentrado, suplemento mineral-vitamínico e água. A estimativa do balanceamento será efectuada através da avaliação das diferentes categorias animais, uma vez que cada uma necessita de quantidades distintas de nutrientes. Além disso, como o aproveitamento dos nutrientes é diferente dependendo da categoria animal, a escolha estratégica de qual alimento será fornecido, é uma maneira de economizar os recursos. Assim, diferentes fontes de alimentos podem ser combinadas, controlando-se a quantidade e a forma como disponibilizar os alimentos. Consequentemente, o manejo da propriedade deverá adequar-se a um planeamento nutricional.

Neste aspecto, pesquisadores Brasileiros sugerem a utilização de algumas alternativas de forrageiras leguminosas tropicais, muitas vezes desconhecidas, mas que apresentam características satisfatórias e que podem suprir as exigências nutricionais do plantel, o que elevaria a disponibilidade de alimentos e asseguraria uma estratégia alimentar da propriedade.

Muito embora, a alfafa (Medicago sativa) seja a leguminosa forrageira mais difundida e utilizada na alimentação dos equinos, tanto na forma de pasto directo, quanto na forma de feno, a sua exigência em fertilidade, bem como o facto de não se desenvolver em solos arenosos ou compostos, limita a sua difusão por todo o território brasileiro. Geralmente, alguns ambientes tropicais apresentam-se com solos de características ácidas e de baixa fertilidade, assim, uma estratégia racional de aperfeiçoar a oferta forrageira seria disponibilizar leguminosas adaptadas a essas condições.

As leguminosas apresentam a característica de fixar nutrientes no solo, o que favorece o crescimento de todas as plantas que constituem a pastagem. Assim, a longo prazo, o pasto terá maior produção, sem a necessidade de adubação nitrogenada. Também, como outra vantagem, esse grupo de plantas apresenta, na sua composição, maior teor de proteína, que é o nutriente mais caro numa dieta, portanto, ao efectuar o balanceamento da dieta, pode-se reduzir o teor proteico do concentrado, uma vez que boa parte será provida pelo consumo da leguminosa. Além disso, por desenvolver-se durante o período de estiagem, devido ao sistema de raízes profundas, torna-se um alimento estratégico no haras, quando os potros são desmamados e necessitam de consumir proteína de qualidade. Consequentemente, a questão de redução de custos é efectiva em todos esses casos.

É vantajoso dispor de leguminosas na propriedade, seja na forma consorciada na pastagem, em áreas fechadas de produção de feno ou em áreas exclusivas onde o pasto seja controlado. Alguns estudos descreveram o valor nutricional de leguminosas que apresentam potencial de utilização, tais como: Amendoim Forrageiro (Arachis pintoi cv. Amarillo); Estilosantes (Stylosanthes guianensis cv. Mineirão); Campo Grande (Mistura física comercial de 20% Stylosanthes macrocephala e 80% de Stylosanthes capitata); Feijão Guandu (Cajanus cajan). Cada uma apresenta uma particularidade de utilização que será descrita individualmente.

Amendoim Forrageiro (Arachis pintoi cv. Amarillo)

Origem: É originária da flora Brasileira, nativa do cerrado.
Aspectos Vegetativos: Apresenta hábito de crescimento estolonífero e ciclo de vida perene, mantendo folhagem verde ao longo do ano em regiões tropicais.
Clima e Solo: Exigente em fertilidade e humidade do solo, mas adapta-se a solos de baixa fertilidade.
Propagação e plantio: Multiplica-se muito bem por sementes e estolões. Plantio da semente a lanço com profundidade de 2cm, ou em sulcos.  
Rendimento: 4 toneladas/ha/ano.
Utilização: Consorciado com gramíneas forrageiras, controle de ervas em pomares, cafezais e bananais. Fixador de nitrogénio no solo. Pode ser fenado, não precisa de ser picado para fenar.

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A literatura científica já havia sugerido a utilização de variedades da espécie Arachis sp. como forrageira leguminosa com potencial para fenação. Investigações avaliaram a digestão total nos cavalos e concluíram que o Amendoim Forrageiro apresentou digestibilidade elevada, possuindo potencial para o uso nas dietas dos equinos. Descreveram que a fibra do Amendoim Forrageiro é superior às demais leguminosas tropicais, assim como o seu conteúdo proteico. Contudo, muito embora se conheça sobre o seu valor nutricional, não se tem dados técnicos publicados de consumo voluntário desta forrageira por animais da espécie equina, apenas relatos de criadores.

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