Escassez de água em várias partes do mundo ameaça segurança alimentar
O alerta partiu da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) e do Conselho Mundial da Água (CMA) num relatório publicado a 16 de abril: são necessárias melhores políticas e mais investimentos, incluindo a adaptação da agricultura às alterações climáticas, para fazer face aos problemas da segurança alimentar.
E o relatório é claro: em 2050 haverá água suficiente para a produzir os alimentos necessários para alimentar a população global que se espera que superará os 9 mil milhões de pessoas, mas o consumo excessivo, a degradação e o impacto das alterações climáticas irá reduzir a disponibilidade de água em várias regiões, especialmente em países em desenvolvimento.
O documento intitulado “Rumo a um futuro de segurança hídrica e alimentar”, pede políticas governamentais e investimentos dos setores público e privado para garantir que a produção agrícola, animal e piscatória seja sustentável e contemple também a salvaguarda dos recursos hídricos.
Estas ações são essenciais para reduzir a pobreza, aumentar os rendimentos e assegurar a segurança alimentar de muitas pessoas que vivem em zonas rurais e urbanas, segundo destaca o relatório.
«A segurança alimentar e hídrica estão estreitamente ligadas. Acreditamos que desenvolvendo abordagens locais e fazendo os investimentos certos, os líderes mundiais podem assegurar que haverá um volume suficiente, qualidade e acesso a água para garantir a segurança alimentar em 2050 e na posteridade», disse Benedito Braga, Presidente do Conselho Mundial da Água, ao apresentar o relatório no 7º Fórum Mundial da Água em Daegu e Gyeongbuk, Coreia do Sul.
«A essência do desafio é adotar programas que envolvam investimentos com benefícios a longo prazo, como a reabilitação de infraestruturas. A agricultura tem de seguir o caminho da sustentabilidade e não o da rentabilidade imediata», acrescentou Braga.
«Numa época de alterações aceleradas e sem precedentes, a nossa capacidade de proporcionar uma alimentação adequada, inócua e nutritiva de forma sustentável e equitativa é mais relevante que nunca. A água como um elemento insubstituível no alcance deste fim, está já sob pressão pelas crescentes exigências dos outros usos, agravada por uma governança débil, falta de capacidade e falta de investimentos», disse a Diretora Geral Adjunta da FAO, Maria Helena Semedo.
Em 2050 serão necessários mais 60% de alimentos – até 100% nos países em desenvolvimento – para alimentar o mundo e a agricultura vai manter-se como o maior setor consumidor de água a nível mundial, o que representa em muitos países cerca de 2/3 ou mais da disponibilidade procedente de rios, lagos e aquíferos.
Mesmo com o crescimento da urbanização, em 2050 grande parte da população mundial e a maioria dos mais pobres continuarão a obter sustento através da agricultura. Ainda assim, este setor verá o volume de água disponível reduzir-se devido a uma maior competição por parte das cidades e indústria, indica o relatório conjunto da FAO e do CMA.
Como tal, através da tecnologia e das práticas de gestão, os agricultores, especialmente os pequenos agricultores, terão de encontrar maneiras de aumentar a sua produção com uma disponibilidade limitada de terra e água.
Recorde-se que atualmente, a escassez de água afeta mais de 40% da população mundial, uma percentagem que alcançará os 2/3 em 2050.
Esta situação deve-se em grande parte a um consumo excessivo de água para a produção alimentar e agrícola. Por exemplo, em grandes zonas da Ásia meridional e oriental, no Médio Oriente, Norte de África e América Central e do Norte, é usada mais água subterrânea do que a que pode ser reposta naturalmente.
Em algumas regiões a agricultura intensiva, o desenvolvimento industrial e o crescimento das cidades são responsáveis pela contaminação das fontes de água, acrescenta o relatório.
O Fórum Mundial da Água, que decorreu entre 12 e 17 de abril é o maior evento internacional destinado à procura de soluções conjuntas a muitos dos desafios hídricos do planeta.
Para além de produzir o relatório conjuntamente com o Fórum Mundial da Água, a FAO apresentou também no Fórum, em conjunto com vários parceiros, a Visão 2030 e o Quadro Global de Ação, um conjunto de diretrizes e recomendações para melhorar a gestão das águas subterrâneas.