Epitrix Similaris praga dos batatais

Paulo Jorge Barbosa Rodrigues / Biotecnólogo /  

 


 

Situação actual

Este pequeno escaravelho, oriundo do continente americano, identificado pela primeira vez em 2004 tem, em Portugal, e desde 2008, provocado estragos de importância económica nos batatais de algumas regiões, estando em curso estudos para compreender melhor a biologia da praga e a sua relação com os danos observados, existindo já meios de luta homologados para o combate a esta praga quando se verifiquem infestações que justifiquem o controlo químico, esgotadas que estejam as possibilidades de controlo cultural.

 

Figura 1. E. similaris

 

Como identificar

Os adultos de Epitrix similaris têm cerca de 1,5-2 mm de comprimento e são negros e ovais, podendo revelar uma tonalidade levemente acastanhada na parte posterior dos élitros (asas duras exteriores), os quais são percorridos longitudinalmente por fileiras de pêlos brancos semi-erectos muito curtos e fileiras de pontuações profundas.  

As antenas são filiformes, com 11 artículos, e são mais claras que o resto do corpo, assim como as patas. As fêmeas põem ovos esbranquiçados, lisos e alongados, bem como as larvas, as quais têm uma pequena cabeça castanha e patas curtas junto à cabeça. As pupas são esbranquiçadas e difíceis de detectar devido ao seu pequeno tamanho e localização no solo.

 

Figura 2. Ciclo de vida da Epitrix similaris

 

Biologia e ecologia

Este insecto hiberna no estado adulto fora das plantações, nas fendas do solo, em detritos da cultura, sebes ou em margens não cultivadas. No início da Primavera, os adultos despertam e retomam a alimentação nas plantas solanáceas (por exemplo, erva-moira, tomate, beringela), passando para as batatas após a emergência destas, mas não se sabe a que temperatura esta espécie retoma a sua actividade. O E. similaris pode também afectar, para além da batata, a beringela, erva-moira (solanum nigrum) e figueira-do-inferno (Datura stramonium), o que evidencia uma preferência pela família das solanáceas e tolerância aos tóxicos presentes nestas plantas. 

 

Figura 3. Danos de E. similaris em folhas e tubérculos

 

Depois do acasalamento, que ocorre nas plantas, a postura dos ovos é feita no solo, junto aos caules da batateira. Depois da eclosão dos ovos, as larvas dirigem-se para as raízes onde completam o seu desenvolvimento roendo as raízes e a superfície das batatas, sendo este o principal estrago com impacto económico pelas galerias que fazem na superfície que, além de deteriorarem o aspecto do produto, propiciam o aparecimento de podridões. As larvas pupam no solo, emergindo uma segunda geração (neste caso de adultos de Verão, que dão início a mais uma geração). No entanto, não se sabe o número de gerações que podem ter nas nossas condições, sabendo-se apenas que o ciclo de vida na Europa varia entre 3 a 5 semanas e que foram observados adultos vivos no mês de Outubro, em beringelas e figueira-do-inferno (Datura stramonium), o que poderá indicar mais do que duas gerações anuais.

 

Natureza dos estragos

Os adultos de E. similaris alimentam-se das folhas das plantas causando estragos que normalmente não afectam o desenvolvimento da planta nem a formação dos tubérculos. Já as larvas podem causar danos importantes, pois roem as raízes e a superfície dos tubérculos, que ficam marcados por sulcos estreitos e sinuosos. 

 

Vigilância

Devido à possibilidade de introdução no país de outras espécies americanas do género Epitrix extremamente parecidas com Epitrix similaris e potencialmente perigosas, a monitorização do Epitrix da batateira deverá ser rigorosa e os serviços oficiais informados das infestações.

 

Formas de luta disponíveis

A melhor estratégia de luta é a prevenção, que consiste na utilização de medidas culturais que diminuam a população de insectos de ano para ano. As medidas culturais utilizadas para esta praga são a rotação da batata com culturas não solanáceas, a eliminação de “volunteer crops” – que são batatas esquecidas no terreno que vão germinar dando alimento e abrigo para a hibernação – e a remoção de resíduos de batateira e infestantes. 

Outra estratégia é o cultivo de variedades de batatas que possibilitem a recolha dos tubérculos mais cedo, podendo ser colhidas antes do início da eclosão dos primeiros ovos da praga ou serem colhidas como batata nova, no estado imaturo. Também existe outro meio de controlo que consiste na colocação de uma linha de batatas que germinem mais cedo, atraindo os insectos para estas linhas podendo de seguida ser aplicado um tratamento localizado, reduzindo, assim, o ataque à cultura, o que se torna mais económico do que a aplicação de um insecticida sobre toda a superfície cultivada. 

Crê-se que é possível o controlo biológico com o recurso a um nemátodo, Steinernema carpocapsae, o qual reduz os danos causados pelas larvas de Epitrix similaris. Se as medidas culturais e biológicas se revelarem ineficazes, devemos recorrer à luta química com a utilização de insecticidas, repelentes ou fago-inibidores. 

 

Figura 4. Exemplo de utilização de plantação armadilha (Boavida, 2010)

 

Para o tratamento ser mais eficaz deverá ser feito no início da colonização, atingindo os adultos que emergem no Inverno e as suas posturas, uma vez que as larvas (ao puparem no interior do solo) estão a salvo dos comuns insecticidas de contacto. O produto Talstar da empresa FMC Corporation, com base em substâncias activas piretróides, como bifentrina (o qual deve ser aplicado na concentração de 4-5 gramas/hectolitro, com um intervalo de segurança de 91 dias e no máximo com uma aplicação) e o produto Epik SG da empresa Sipcam Quimagro, com base em substâncias activas neonicotinóides como acetamiprida (que deve ser aplicado na concentração 3-5 gramas/hectolitro com um intervalo de segurança de 7 dias e com 2 aplicações no máximo), são geralmente eficazes, sendo os únicos insecticidas homologados pelo Ministério da Agricultura para o controlo do Epitrix na batateira em produção integrada. Ao todo, são actualmente quatro os fitofármacos homologados para o combate a esta praga, nomeadamente os já citados Talstar e Epik SG, e o Gazelle SG e Gazelle da empresa Nisso (com base em substâncias activas acetamiprida), que também são aplicados no controlo mas não são autorizados em produção integrada. Os produtos organofosfatados, apesar de serem eficazes, têm uma persistência de acção menor e uma ecotoxicidade maior. A utilização da luta química deverá ser feita com recurso a uma estratégia que procure evitar o aparecimento de resistências e não prejudicar os auxiliares e abelhas. ¦

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