Em Mêda há um projeto que valoriza a castanha portuguesa

castanha portuguesa

Há um ano a Beira Interior via nascer um projeto em torno da castanha e das suas potencialidades. Corria o mês de março de 2014 e a cidade de Mêda (distrito da Guarda) transformava-se no centro da “Sweet Castanea”, uma iniciativa que dá vida a uma nova forma de criar produtos nacionais à base daquele fruto. Sem corantes, conservantes e até isentos de glúten. Além disso, os mentores decidiram conjugar a castanha com outras matérias-primas, como a Maçã Bravo de Esmolfe DOP, o vinho do Porto, a alfarroba algarvia ou o mel de rosmaninho. O Agronegócios foi conhecer o projeto que, em poucos meses, chegou a dez distritos de norte a sul.

Fotos: Sweet Castanea

A ideia dos mentores, que surgiu em março do ano passado, foi simples: dar corpo a um projeto que «visasse a valorização da castanha portuguesa», começa por explicar Maria do Carmo Aleixo, sócia-gerente da Alquimia da Castanha, empresa que suporta o projeto “Sweet Castanea”.

A confeção dos primeiros produtos chegaria apenas em finais de outubro de 2014.

«O que nos moveu e motivou a criar este projeto foi a ideia de ir mais além na valorização da castanha portuguesa. Era para nós incompreensível que em Portugal, um país que produz uma das melhores castanhas do mundo, não houvesse nenhuma empresa que se dedicasse em exclusivo à transformação da castanha, compreendendo-se por transformação da castanha ir bem mais além do simples descasque e ultracongelação», explica a responsável pela produção da “Sweet Castanea”.

Outra realidade que os fundadores do projeto quiseram testar foi o facto de verem «outros povos como os espanhóis, franceses ou italianos a comprarem a nossa castanha, de reconhecida qualidade a nível mundial, para produzirem uma diversidade de produtos alimentares a partir desta matéria-prima, acrescentado um valor bem mais significativo a este nosso fruto, e nós em Portugal nos limitarmos a ficar satisfeitos por escoarmos toda a nossa castanha, em fresco ou ultracongelada, sempre com a mesma margem garantida».

Foi «a vontade de acrescentar ainda maior valor à castanha portuguesa» que motivou os três sócios a iniciar este projeto, «fazendo com ela o que outros povos já fazem há muitos anos mas agora com uma identidade 100% portuguesa», salienta Maria do Carmo.

Entre março e outubro de 2014 houve dois caminhos paralelos na construção da ideia: um no estudo e desenvolvimento dos potenciais produtos a serem comercializados e outro no sentido da criação de toda a imagem associada à nova marca.

A apresentação pública havia de chegar a 7 de novembro, na Feira da Castanha de Trancoso, e a rampa de lançamento chegaria «verdadeiramente» a partir do “Portugal Agro”, que decorreu em Lisboa no final daquele mês. «Foi nesta feira que iniciámos a nossa ação comercial junto do mercado gourmet português», recorda a sócia-gerente.

Apesar de Mêda ser mais conhecida pela produção de vinho e azeite «existem algumas freguesias do concelho que registam produção de castanha, nomeadamente as que fazem fronteira com os concelhos de Trancoso e Penedono», como é o caso da freguesia de Ranhados e a de Prova e Casteição.

Nestas áreas do concelho, informa Maria do Carmo Aleixo, as condições climatéricas e de solo «são, em tudo, semelhantes» às dos concelhos vizinhos de Trancoso, Penedono ou mesmo Sernancelhe, concelhos estes que se encontram abrangidos pela área geográfica associada à produção da “Castanha Soutos da Lapa - DOP”.

Contudo, o fruto que a “Sweet Castanea” utilizou para o arranque do projeto é proveniente de Trás-os-Montes, região responsável pela produção de aproximadamente 80% do total nacional.

«É no entanto nosso objetivo, na próxima campanha da castanha, incorporar uma percentagem de castanhas da nossa região apesar de o mais importante para nós ser a valorização da castanha portuguesa no seu todo, independentemente da sua proveniência a nível nacional», esclarece.

Uma das preocupações durante a fase de testes e experimentação foi «perceber se a confeção com castanhas ultracongeladas não afetaria a qualidade final pretendida para os nossos produtos e, de facto, essa qualidade não é minimamente posta em causa com a utilização da castanha ultracongelada», garante Maria do Carmo Aleixo.

Confeção e métodos de produção caseira

Compotas, doces, caldas, biscoitos e bolachas são alguns dos produtos da “Sweet Castanea” sendo que todos são fabricados de acordo com métodos que podem ser classificados como de “produção caseira”.

«Não incorporamos qualquer tipo de conservante ou corante artificial e todos os nossos produtos são isentos de glúten», garante a responsável.

castanheiros em Mêda

A reação do consumidor, revela, tem sido «excelente». «No âmbito da nossa participação em diversos certames, constatamos que o público em geral reconhece valor no nosso projeto, tanto pela qualidade e imagem dos nossos produtos como pela missão que nos move», acrescenta.

E adianta: «reconhecem a castanha como um fruto de grande importância na nossa cultura gastronómica desde há séculos e ficam surpreendidos com os novos sabores que apresentamos para a castanha que muitos apenas conhecem cozida ou assada».

O trabalho junto das lojas gourmet, de norte a sul, tem compensado, já que muitos proprietários, depois de provarem amostras, não hesitam e manifestam vontade imediata de vender a “Sweet Castanea” nas suas lojas.

Combinação com outros produtos

A combinação da castanha com outros produtos nacionais de reconhecido valor foi outra inovação que os responsáveis quiseram experimentar. Entre eles, destaque para o mel de rosmaninho, a Maçã Bravo de Esmolfe, a alfarroba do Algarve ou o vinho do Porto.

«A combinação da castanha com outras matérias-primas resulta do facto de pretendermos apresentar uma gama diversificada de produtos, dentro da mesma tipologia (compotas, caldas, biscoitos), em que pudéssemos também valorizar outras matérias-primas nacionais», explica Maria do Carmo Aleixo.

Por esta razão, a “Sweet Castanea” fez inúmeras experiências para tentar perceber quais as matérias-primas que melhor se conjugariam com a castanha.

A responsável afirma que «há sempre espaço para a inovação e para reinventar produtos já existentes com recurso a novas matérias-primas nacionais tais como a castanha, a alfarroba ou mesmo a bolota, entre outros».

E lembra que começam a surgir em Portugal «projetos interessantes que se focalizam na transformação de frutos com identidade nacional e acreditamos que uma parte do futuro, com sucesso, do setor agro-alimentar português vai passar pela inovação com base nestas matérias-primas, que têm uma enorme aceitação em inúmeros mercados por esse mundo fora».

«É também para nós importante garantir uma abrangência nacional das matérias-primas que usamos, permitindo dessa forma que um algarvio, um alentejano ou mesmo um beirão reconheça, atribua valor e consuma os nossos produtos da castanha através da alfarroba do Algarve, do mel de rosmaninho do Alentejo ou da Maçã Bravo de Esmolfe das Beiras», sublinha.

Compotas e bolachas

Exportação

A curto prazo a estratégia do projeto está focada na divulgação e promoção dos produtos a nível nacional, «visando a consolidação da nossa marca no mercado gourmet português».

Mas, a médio prazo, a intenção é exportar para «diferentes mercados onde o consumo dos produtos transformados da castanha está bastante enraizado», como é o caso de França, Itália, Suíça, Bélgica e muitos outros países.

Para Maria do Carmo Aleixo, a questão da valorização da fileira da castanha «é central na génese do nosso projeto». Nesse sentido acreditam «que a fileira da castanha pode e deve ser mais valorizada».

«Foi o nosso entendimento de que o potencial da castanha vai muito para além da sua comercialização em fresco ou ultracongelado que nos motivou a criar este projeto e temos a certeza que o futuro da fileira da castanha passa também pelo fabrico em Portugal de produtos de excelência cuja matéria-prima principal seja a castanha», considera.

A “Sweet Castanea” está presente em 30 espaços gourmet de norte a sul do país e os seus produtos podem igualmente ser encomendados online.

Além de Maria integram o projeto outros dois sócios, Eduardo Ferreira, na área comercial e controlo de gestão e Nuno Araújo, ligado à área comercial. 

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