Efeito do frio no desempenho agronómico de duas cultivares de framboesa remontante em cultura protegida

Por: Emanuel José Branco de Sousa1, Pedro Brás de Oliveira2 e Cristina Moniz de Oliveira1
1Instituto Superior de Agronomia, Tapada da Ajuda 1349-017 Lisboa
2Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária, I.P., UEIS-SAFSV, Av. da República Nova Oeiras, 2784-505 Oeiras

A framboesa Rubus idaeus L. pertence à família das Rosaceae, género Rubus, e subgénero Idaeobatus que engloba cerca de 200 espécies (Jennings, 1988) (Figura 1). As framboesas distinguem-se das amoras de silva, pertencentes ao subgénero Eubatus, pela facilidade com que os seus frutos maduros se separam do recetáculo. Hoje, graças ao melhoramento genético, existem um grande número de cultivares de framboesa e amora que são produzidas em larga escala.

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A cultura da framboesa fora da sua estação normal de crescimento tem vindo a ganhar um interesse crescente devido à procura do consumidor por framboesas frescas, e à valorização económica dessa mesma produção. Esta procura crescente tem encontrado a sua resposta em países como Portugal e Espanha que têm as condições climáticas mais propícias e uma estação de crescimento mais longa (Gillespie et al., 1999).

O aumento da procura de framboesas a nível europeu levou à necessidade do desenvolvimento de novas tecnologias de produção e do estudo de adaptação de novas cultivares às condições edafo-climáticas particulares de cada região. (Oliveira et al., 2007a). A produção de framboesas frescas fora da estação normal de crescimento é conseguida através da cultura protegida em túneis, usando sistemas de produção que manipulam a floração e a frutificação. Portugal, embora com uma área reduzida de produção, possui regiões com condições edafo-climáticas que o podem tornar líder europeu na produção de framboesas fora de época. A produção intensiva é hoje uma realidade, estando Portugal na vanguarda da produção de framboesa em substrato. Com o aumento da cultura em substrato generalizou-se a utilização de cultivares remontantes dada a facilidade com que se pode manipular o crescimento e desenvolvimento da planta alterando os períodos de produção.

Com o objetivo de estudar a adaptação de novas cultivares remontantes à produção em substrato efetuou-se um ensaio na Herdade Experimental da Fataca (INIAV, I.P.), concelho de Odemira, em que foram testadas as cultivares remontantes, Amira e Kweli. Foram comparadas plantas sujeitas a um tratamento de frio artificial, pois estudos prévios demonstraram que os gomos da base dos lançamentos devem passar por um período de baixas temperaturas para que a floração e consequente frutificação seja abundante (Oliveira et al., 2007b), com plantas sujeitas apenas ao frio natural da região.

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O ensaio foi instalado numa bateria de 3 túneis do “tipo espanhol” (6,5 m × 20,0m × 2,5m) não aquecidos, com cobertura de polietileno térmico. Cada túnel comportava três linhas de plantação com uma entrelinha aproximada de 1,6m. Cada tratamento era constituído por 3 caixas de hidroponia (89 cm ×20 cm × 22cm) cheias com substrato composto por 3 partes de fibra de coco, 2 partes de casca de pinho e 1 parte de perlite (v/v). Cada caixa tinha um total de 5 lançamentos perfazendo assim uma densidade de plantação de 5 lançamentos por metro de linha de cultura (Figura 2).

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Três caixas de cada cultivar foram mantidas dentro dos túneis sujeitas ao clima da região (clima de inverno ameno, média de temperaturas em janeiro de 11,2 °C), tratamento testemunha, e igual número foi colocado em câmara frigorífica a 0/4 °C onde permaneceram até dia 30 de janeiro, perfazendo um total de 528 horas de frio artificial. Os lançamentos foram conduzidos num sistema de suporte em “u” constituído por uma estrutura em ferro com dois prumes que distam cerca de 0,5 m entre eles. As caixas encontravam-se a ±25 cm de altura ao solo. Os lançamentos foram cortados abaixo do nível de frutificação, do ciclo produtivo anterior, no dia 08 de janeiro de 2013.

A cultivar Amira apresentou uma produção total e comercial significativamente inferior, em ambos os tratamentos, à cultivar Kweli. Quando tratada pelo frio a produção da ‘Amira’ não foi significativamente diferente da ‘Kweli’. O calibre dos frutos e a percentagem de refugo não foi estatisticamente diferente entre as cultivares e os tratamentos.

A cultivar Kweli atingiu o pico de produção em ambos os tratamentos mais rapidamente que a ‘Amira’, sendo também muito mais regular e com produções semanais bastante mais elevadas (Figura 4).

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Quando comparando os tratamentos na cultivar Kweli verifica-se que o tratamento de 528 horas de frio em câmara frigorífica promove uma ligeira concentração da produção. No caso da ‘Amira’ a sua curva de produção estendeu-se muito mais ao longo do tempo sendo a sua produção semanal mais baixa e irregular.

A análise dos resultados permite-nos concluir que das duas cultivares em estudo, a que se mostrou mais adaptada às condições do sudoeste alentejano foi a ‘Kweli’. A diferença entre cultivares foi muito significativa apenas quando a cultivar Amira não é tratada pelo frio (Figura 5). A passagem das plantas por câmara frigorífica é uma técnica simples mas onerosa, pelo que existirão vantagens em optar pela cultivar Kweli na produção em túnel no sul de Portugal. No entanto, a análise acima descrita não invalida o valor agronómico da cultivar Amira, pois pode observar-se que esta cultivar melhora o seu desempenho agronómico com o aumento das horas de frio a que é sujeita levando a que, apesar de não se ter destacado no presente estudo poderá revelar-se uma boa alternativa num outro contexto climático (zona norte do país).

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Bibliografia
–    Gillespie T., Brennan R., McNicol R.J., 1999. Cultivar responses to long-cane fruit production in raspberry. Ann. Rep. of the Scot. Crop. Res. Inst.:105-109.
–    Jennings, D.L. 1988. Raspberries and blackberries: Their Breeding, Diseases and Growth. Academic Press, London. 230p.
–    Oliveira, P. B. e Fonseca, L.L., 2007. Framboesa: tecnologias de produção, Edição no âmbito do Projeto PO AGRO DE&D Nº 556. Folhas de divulgação nº3, 40p.
–    Oliveira P.B., Valdiviesso T., Esteves A., Mota M., Fonseca L.L., 2007. A planta de framboesa: morfologia e fisiologia. Edição no âmbito do Projeto PO AGRO DE&D Nº 556. Folhas de divulgação nº1, 36p.

Este trabalho é um resumo da Dissertação submetida ao Instituto Superior de Agronomia, Universidade de Lisboa, para a obtenção do grau de Mestre em Engenharia Agronómica – Hortofruticultura e Viticultura e teve suporte financeiro do projeto europeu FP7 EUBerry (Grant agreement Nº 265942).

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