Descobrir o Vale do Varosa - Uma crónica à cultura do sabugueiro

Crónica por Alice Jones

Alice Jones é cientista de alimentos na Universidade de Nottingham, sendo especializada em ciências sensoriais e tendo passado 12 anos em cargos técnicos na indústria das bebidas. O seu projeto Nuffield Farming Scholarship levou-se a dez países diferentes no ano passado, incluindo EUA, Canadá e muitos cantos da Europa, para estudar o desenvolvimento das bagas de sabugueiro como uma cultura comercialmente viável.

Alice Jones Vale do Varosa

A minha viagem com o objetivo de visitar o Bruno Cardoso, da Associação Inovterra em Portugal, que aconteceu em novembro do ano passado, surgiu depois de encontrar o projeto Sambucus- Valor online enquanto realizava uma pesquisa sobre o cultivo de sabugueiro para o meu projeto de bolsas de estudos, o Nuffield Farming Trust.

Este trata-se de uma instituição de caridade registada e fundada no Reino Unido. A primeira bolsa de estudos foi concedida em 1947. Atualmente, a instituição conta com vários países membros que patrocinam bolsas por todo o globo. Os académicos são selecionados com o objetivo de se tornarem nos líderes de amanhã, tanto nos seus negócios individuais, como no setor agroalimentar como um todo. A intenção é inspirar a inovação e a mudança.

As bolsas de estudo Nuffield são possíveis graças ao apoio generoso de patrocinadores de toda a indústria agrícola e de alimentos.

Depois de passar a maior parte de 2019 a pesquisar e a viajar pelo mundo para observar plantações de sabugueiro (Sambucus), eu não podia acreditar que tinha ignorado Portugal e a sua história de cultivo. Nos últimos 13 anos, vi muito sabugueiros serem associados com o processo industrial da flor de sabugueiro e, claro está, vi ainda mais no último ano aquando da minha tour global. No entanto, quando entrei no Vale do Varosa, percebi que visualizava um nível acima de dedicação.

Os sabugueiros estavam por toda a parte, em volta das vinhas, entre os pomares de maçã e castanha, ao longo das fronteiras das plantações e, o que se demonstrou tão interessante para mim, era que estes também estavam a ser cultivados nos seus próprios campos, existindo fileiras e fileiras de árvores que eram alvo de grande cuidado, atenção e respeito, tal como as vinhas premiadas do próprio vale do Douro.

O meu anfitrião, Bruno Cardoso, que está a conduzir o renascimento da cultura na região, parou pacientemente o carro a cada poucos metros para eu tirar mais uma foto. Eventualmente, deixou-me caminhar e maravilhar com as espectaculares árvores altas, com três ou quatro metros e com os seus galhos curvos! Eu estava no céu!

Ali eu tinha encontrado alguém e um local que representava o que eu tinha sonhado para o Reino Unido, o que eu precisava para inspirar os agricultores locais a ver o sabugueiro como a jóia que é: uma planta nativa e perene, a partir da qual se pode obter duas colheitas valiosas (flores e frutos). Isso é o que me fascina no sabugueiro: existem muito poucas plantas onde o agricultor pode escolher qual colheita colher, e muito menos, mesmo quando gerida corretamente, existe a possibilidade de colher um pouco de ambas. Além disso, o agricultor só precisa de esperar três anos para atingir o rendimento máximo (para comparação, o agricultor pode esperar de 10 a 12 anos para obter uma colheita de castanhas). 

Muitos dos sabugueiros que vi eram, claramente, muito velhos. Fiquei fascinada ao perceber que muitos deles estavam ali há décadas, mas a sua longevidade não dava para perceber a partir dos números de produtividade que o Bruno citava. O segredo que aprendi sobre a longevidade e a produtividade consistente das árvores são as práticas culturais rigorosas, principalmente o ato de realizar a poda anualmente, que começa a partir do dia em que as estacas de madeira são plantadas no campo, sendo que as mesmas devem permanecer plantadas durante toda a vida útil da planta.

Os sabugueiros crescem muito rapidamente e a resposta vegetativa é cada vez menor, por isso a planta precisa ser renovada. Toda a poda é feita seletivamente à mão, tratando-se de uma arte que tem por base princípios científicos. Cada corte feito é pensado e tem um motivo e é por isso que só uma pessoa experiente faz esse trabalho. Durante a poda, o agricultor está a examinar o seu pomar e, ao mesmo tempo procura pelas melhores soluções para a saúde da planta, testando o solo em busca de nutrientes e pH e ajustando-os de acordo com o ideal.

Atualmente, continua o trabalho para desenvolver variedades de alto rendimento e que sejam bem adaptadas à região.

Continua

Nota: Artigo publicado originalmente no suplemento Pequenos Frutos da Agrotec 34

Solicite a nossa edição impressa

Contacte-nos a seguir dos seguintes endereços:

Telefone: 220 962 844

E-mail: info@booki.pt

Regiões

Notícias por região de Portugal

Tooltip