Por: Emanuel Moreda, Estudante da Escola Superior Agrária de Ponte de Lima
Nos dias de hoje, a agricultura mostra ser um sector de grande exigência. Devido a factores tais como a concorrência, a necessidade de evitar desperdícios, prejuízos e/ou perdas obriga a tal atenção tornando-se atitude fulcral. Deste modo, o controlo/combate de pragas assume um papel particular e preponderante no sucesso de qualquer produção Agrícola.
A Cydia pomonella L., conhecida como “Bichado da fruta”, é um insecto Lepidóptero da família dos Torcídeos definido como praga e referenciado já há várias décadas em Portugal. As pomóideas são os hospedeiros de eleição deste insecto/borboleta, como macieiras, pereiras, marmeleiros, entre outros.
Contudo, é na cultura de macieiras e pereiras que o seu ataque apresenta um maior impacto sendo, por isso, também reconhecida como uma praga-chave das pomóideas.
C. pomonella L. caracteriza-se por ser um insecto holometábolo, porque ao longo do seu ciclo de vida sofre alterações muito marcadas entre os vários estádios de desenvolvimento, nomeadamente Ovo, Larva, Pupa e Adulto (figura 1).
Após o acasalamento, as fêmeas realizam uma postura de cerca de 60 ovos distribuídos quer pelos frutos quer pelas folhas (estádio de Ovo). Estes ovos apresentam um aspecto granuloso, exibindo colorações entre o branco opalescente e o cinzento, e após a eclosão nascem as larvas com cerca de 1 mm (estádio de Larva). Neste estádio a larva apresenta grande mobilidade o que lhe facilita a procura do local onde se alimentar, sendo regra geral o fruto. Uma vez em contacto com ele, a larva abre uma galeria até atingir as sementes, as quais representam uma fonte de proteínas e gorduras, fundamentais para cada indivíduo completar o seu desenvolvimento.
Findo o período larval, os indivíduos abandonam o fruto, procurando um local protegido normalmente na casca das árvores. Aí inicia-se o estádio pupal, que se caracteriza pela formação de casulos, os quais apresentam geralmente coloração castanha amarelada e comprimentos aproximados entre os 10 a 12 mm, permanecendo neste local até irromperem dos casulos indivíduos adultos - as borboletas (fase Adulta).
Os adultos apresentam uma envergadura de aproximadamente 14 a 21 mm e 10 a 12 mm de comprimento.
Exibem, para além disso, uma coloração geral acinzentada com uma mancha circular escura, mancha esta rodeada de escamas avermelhadas (figura 2) - é de salientar que é neste estádio que os indivíduos têm a capacidade de acasalar e realizarem posturas.
Durante as estações de Outono e Inverno, o insecto encontra-se em hibernação, sob a forma de pupa nos abrigos que, como referido anteriormente, tanto podem ser as cascas das árvores, como também armazéns, estações fruteiras, instalações agrícolas, etc. Chegada a Primavera, os adultos eclodem dos casulos, dando inicio à primeira geração da praga. Após o acasalamento destes indivíduos adultos, as fêmeas iniciam a postura dos ovos, os quais originarão os adultos de segunda geração, em meados de Junho. Alguns casulos, porém, permanecem em inactividade na primeira geração, não dando origem a indivíduos adultos. Estes só irromperão na Primavera seguinte dando, desta forma, continuidade à espécie. O mesmo acontece à totalidade de pupas da segunda geração (no caso da existência de apenas duas reproduções no ano), denominando-se este período por diapausa.
De forma geral a presença da larva de C. pomonella L. nos frutos é detectada pela existência de excrementos da própria à superfície e em volta do orifício criado para penetrar no fruto (figura 3). Sendo ainda importante dizer que estes orifícios se podem localizar desde o cálice ao pedúnculo ou até mesmo na parte lateral do fruto.
A presença do bichado provoca a queda prematura dos frutos e/ou a inviabilidade dos mesmos para comercialização. E se os frutos colhidos na fase final do ciclo de vida da traça seguirem para armazenamento com as larvas no seu interior ou apenas com as galerias já vazias, constituem uma porta aberta a fungos, promovendo assim o apodrecimento dos frutos. Com efeito, as perdas/prejuízos da produção no pomar, poderão ser quase totais, caso se verifique ausência de meios de luta. Por outro lado, no caso de aplicadas todas as medidas de combate projectadas e devidamente enquadradas com a orgânica e desenvolvimento da praga, o controlo passa por ser quase total.
Actualmente os fruticultores têm á sua disposição um conjunto alargado de soluções que, correctamente empregues no pomar, poderão contribuir eficazmente na luta contra a presença do bichado. A sua aplicação, à semelhança das boas práticas no controlo de qualquer praga, requer um envolvimento responsável por parte dos fruticultores, neste caso, para que os mesmos meios tenham o máximo de eficácia e o menor impacto negativo possível nos restantes ecossistemas. Assim sendo, entre os meios de luta actualmente mais utilizados são o exemplo, a luta biotécnica – sendo modelo, a confusão sexual através da utilização da hormona sintética Feromona, que atrai os machos para armadilhas, não permitindo o acasalamento – e a luta química, que prevê a utilização de insecticidas de origem natural (insecticidas biológicos) não tóxicos quer para o homem quer para outros seres vivos, incluindo ácaros auxiliares, ou ainda insecticidas químicos de síntese que, até aos dias de hoje, mostram-se ser a opção mais recorrente.
C. pomonella L. encontra-se disseminada um pouco por todo o globo logo, os meios de combate desta praga são tema de várias investigações persistentemente efectuadas, no sentido de se reprimir a evolução da praga, bem como a continuação dos danos que dela advêm. Devidamente enquadradas, todas as evoluções práticas nos métodos de combate contra elas são de real importância. E, de facto, é possível a partir delas como base de amostragem e seguinte comparação, obter alguma forma de aplicabilidade adaptada à realidade próxima ou, no mínimo, toda a informação servir como objecto de análise para uma evolução seguinte.
Bichado é erradicado no Brasil
Neste contexto surgem notícias vindas do Brasil, mais concretamente a sul do País, onde nos é dado conta da proximidade da erradicação da Cydia pomonella L..
Segundo Giovani António Capra, ao “Portal Dia de Campo”2 em 1991, pela primeira vez, a praga C. pomonella L. foi detectada num dos principais pólos de produção de maça do Pais, Vacaria, Rio Grande do Sul. O maior foco verificou-se sobretudo nas áreas urbanas, em árvores hospedeiras que não se destinavam ao comércio, ou seja, árvores que não recebiam nenhum tipo de tratamentos. Uma vez realizada a monitorização da praga, até cerca de 1997/1998, iniciou-se o programa de erradicação. Inicialmente foi aplicado o método de luta biotécnica utilizando hormonas sexuais: feromonas. Contudo, devido ao custo do método e das dificuldades de importação do material em questão, foram adoptadas medidas diferentes. O passo tomado passou pela criação de um plano de substituição de hospedeiros da praga nas referidas zonas urbanas. Desta forma, espécies como macieiras, pereiras, marmeleiros, pessegueiros, entre outros, hospedeiros do bichado, foram substituídos por espécies como a videira, actinídea, citrinos e até mesmo outras espécies nativas: goiaba, pitanga, etc. as quais não permitem o desenvolvimento de C. pomonella L.. Assim, com os “pomares comerciais” rigorosamente tratados e controlados, e nas zonas mais urbanas uma redução muito significativa de árvores hospedeiras do bichado, os resultados foram céleres em aparecer.
De salientar que a monitorização desde o início do programa implementado até aos dias de hoje revela que o número de indivíduos capturados tem diminuído substancialmente: “… na safra 2010/2011, foram capturados sete indivíduos da espécie; na 2011/2012, somente um. (...) na safra 1997/1998, a captura foi de aproximadamente 22,5 mil insectos da espécie.”
A praga, no entanto, apenas se poderá considerar erradicada quando o registo de indivíduos for nulo durante mais de dois anos. É fulcral, no entanto, o controlo da importação de frutas, a fim de se evitar nova introdução de bichado no País.
Em suma fica uma vez mais a perspectiva de que desde as metodologias mais complexas às mais simples, as características do ambiente circundante junto do profundo conhecimento da praga, mostram ser um importante contributo na minimização dos estragos e prejuízos provocados nas culturas. ¦