Conferência sobre a oferta cerealífera demonstra o crescimento do setor em França

Realizou-se ontem, na cidade do Porto, a conferência sobre a oferta cerealífera francesa da colheita de 2019. O evento contou com diversas palestras sobre os diferentes tópicos do setor.

François Gatel, Diretor da France Export Céréales, organização responsável pelo evento, introduziu o certame com uma breve apresentação, que contou com vários agradecimentos a todos os envolvidos, bem como uma sucinta explicação sobre o trabalho da organização. Esta é uma associação sem fins lucrativos, criada em 1997, por iniciativa dos produtores de cereais. O seu objetivo passa por promover os cereais e a fileira cerealífera francesa no âmbito da exportação. 

Gatel foi acompanhado por Jerôme Froute, o Conselheiro de Assuntos Agrícolas da Direção Geral do Tesouro e Finanças de França. Froute realçou a relação privilegiada, a todos os níveis, entre Portugal e França e reforçou a necessidade de manter o laços entre os dois países.

Após a nota introdutória, a primeira intervenção ficou a cargo de Marc Zribi, da FranceAgriMer, e focou-se nos balanços cerealíferas mundiais e franceses, mais especificamente, nas previsões 2019/2020 para os mercados.

Zribi começou por apontar a conjuntura política e económica que atravessamos atualmente, principalmente a instabilidade que existe no hemisfério sul, que prejudicou diversos países. O ambiente económico incerto prejudica os diferentes mercados. Já no hemisfério norte, registou-se uma das melhores colheitas de sempre, o que demonstra um desfasamento quando comparado com o sul.

Em relação às condições de cultura, o palestrante fez questão de realçar três regiões que mereciam atenção. Primeiro, foram apontados os EUA e o Canada, que foram prejudicados pelo clima, que provocou uma menor colheita e com pior qualidade quando comparada com anos anteriores. A maior parte dos países do hemisfério sul, como referimos anteriormente, além da conjetura económica também enfrentou uma situação de seca. O mesmo aconteceu no leste da Austrália, onde a seca extrema reduziu as previsões de 19 milhões de toneladas para 15,8 milhões.

No panorama geral, a produção de trigo mole deverá progredir cerca de 5%. A oferta em relação ao volume é mais incerta no sul. Como maiores importadores aparecem o Egito, a Indonésia, as Filipinas, o Brasil e a Algéria. Em relação aos exportadores, a Rússia continua a liderar o ranking, apesar do decréscimo situado nos 6%. EUA e União Europeia seguem a mesma.

Em relação ao mercado da cevada, é expetável que a produção aumente 10% e a União Europeia surge como o maior exportador, sendo seguida pela Rússia e pela Ucrânia. A última tem vindo a apresentar números interessantes durante a colheita de 2019.

Em relação ao milho, existe uma grande incerteza mundial, muito provocado pelo panorama norte-americano. A produção vai reduzir cerca de 2,7%. O maior importador continua a ser a Rússia, contudo, reduz as importações em 25%, o que pode significar uma maior auto-suficiência. Os maiores exportadores continuam a ser os EUA, apesar do decréscimo situado nos 22%. O trigo duro também apresentou um decréscimo mundial acima dos 6% e o maior importador continua a ser a União Europeia, com mais 52%.

Em relação à produção europeia de cereais de trigo, esta aumentou em 7,6% quando comparada com a última campanha. Esta é a segunda produção recorde. A colheita francesa revelou-se a segunda maior colheita histórica, tendo uma evolução de 14% nos cereais.

A campanha de exportações revela-se positiva para o trigo mole e a cevada mantém os seus envios para a União Europeia. Ambas as culturas revelaram um aumento do fabrico para a alimentação animal. O milho francês depara-se atualmente com exportações para a UE privilegiadas e o trigo duro apresentou uma diminuição em quantidade, mas uma qualidade acima da média.

Qualidade da colheita francesa em 2019

A segunda apresentação do dia ficou a cargo de Adeline Streiff, do ARVALIS - Institut du végétal. A oradora apresentou a qualidade da colheita francesa de cereais em 2019. Após uma breve introdução sobre as condições climáticas em que a campanha ocorreu, Streiff apresentou dados sobre o trigo mole, em que a colheita se revelou a mais abundante nos últimos 20 anos, registando-se nos 39,7 milhões de toneladas.

O clima revelou-se favorável na altura da colheita e os pesos específicos excecionais, tendo 79,5 kg/hl como média nacional. O trigo mole francês apresenta boas condições para um bom valor de moagem, teores de proteínas satisfatórios e uma forte força panificadora.

Em relação ao trigo duro, a área de colheita apresentou decréscimo, mas os rendimentos bateram os recordes anteriores, tal como referido anteriormente por Zibri. Os trigos duros revelam-se muito secos, com excelentes PS e, assim como o trigo mole, com teorias em proteínas elevados e de boa qualidade.

Philippe Vincent foi o orador da terceira palestra, sendo esta sobre os trabalhos da Cooperativa Agrícola francesa Agrial, que conta com mais de 14 mil membros ativos, de 18 regiões distintas, e a rota do grão.

Vincent apresentou a importância dos cereais para a agricultura francesa, sendo que, as superfícies forrageiras dominam a mesma. 50% dos cereais produzidos em território francês são exportados, daí a importância de adaptar os organismos armazenistas aos pedidos dos clientes utilizadores. É necessário encorajar os agricultores a efetuarem a melhor comercialização possível, passando tal por conhecer com precisão as quantidades e qualidade disponível; conhecer com precisão as necessidades dos clientes; facilitar os fluxos logísticos; dispor das mercadorias para veja e agir de forma irrepreensível nos carregamentos.

O orador deixou a ideia que, conhecendo o cliente, saberemos como satisfazer o mesmo nas mais diferentes etapas do processo. Foram explicadas todas as etapas do acompanhamento que a cooperativa tenta passar ao agricultor.

A última palestra da conferência ficou a cargo de Pierre-Jean Huré e Simon Aimar e focou-se na preparação de um navio para Portugal e acompanhamento da escala.

Huré explicou, de uma forma sucinta e simplificada, o processo de envio de cereais para território português, passando pela ações que devem acontecer no silo portuário e que são da responsabilidade do agente marítimo e do carregador. A interação entre o agente marítimo e o silo portuário é a chave para uma escala bem sucedida e para o sucesso das trocas entre os dois países. Segundo Huré, a preparação é a palavra-chave.

A conferência terminou com uma breve conclusão de François Gatel sobre todo o certame, onde realçou a importância dos cereais para todo o território nacional francês, assim como, a importância das relações com Portugal.

Regiões

Notícias por região de Portugal

Tooltip