Companhia das Lezírias: há 180 anos a fazer história na Agricultura

É entre os rios Tejo e Sorraia que se situa aquela que é considerada a maior exploração agropecuária e florestal do país. Falamos da Companhia das Lezírias, uma herdade que se estende pela Lezíria Grande de Vila Franca de Xira, Charneca do Infantado, Catapereiro e pelos Pauis de Magos, Belmonte e Lavouras. Estivemos à conversa com António Saraiva, engenheiro agrónomo e presidente do Conselho de Administração da Companhia, que nos fala das várias áreas de um espaço que conta uma história com 180 anos. Agricultura, floresta, vinhos, olival e pecuária são algumas das valências aqui rentabilizadas.

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Agronegócios: É presidente da Companhia das Lezírias desde 2012. Como surgiu a oportunidade?

António Saraiva: Sempre tive uma carreira no setor privado. Sou engenheiro agrónomo de profissão, e sempre estive ligado à Agricultura, tendo desempenhado funções de gestor de produto, chefe de vendas, diretor de logística, diretor de marketing e diretor geral. Depois surgiu o convite para integrar a Administração da Companhia das Lezírias. E para um engenheiro agrónomo com alguma experiência na gestão é um desafio muito aliciante. É a possibilidade de ter uma propriedade com esta dimensão – são 18 mil hectares, cerca de 2,3 vezes o concelho de Lisboa ou três vezes o tamanho de Manhattan, para lhe dar uma noção mais clara. É uma propriedade com muita extensão e diversidade de atividades.

AN: Qual é a importância da Companhia para o país?

AS: A Companhia das Lezírias tem uma reputação no mundo agrícola e na região invejável, uma marca com bastante notoriedade e, por isso, tem todos os ingredientes para ser um local de trabalho interessante. E, depois, o facto de depender do poder político – falamos de uma nomeação feita pelo Ministério da Agricultura – é uma experiência diferente para quem vem do privado. Quando cá cheguei – em 2012 - a missão era aliciante. Contudo, penso que o que tentamos introduzir foi uma focalização para os resultados, motivar a organização, introduzir processos de gestão de negócio, envolvendo as pessoas na estratégia. O que esta administração fez foi olhar para as áreas onde havia melhorias rápidas que se poderiam conseguir e se traduzissem em resultados financeiros. Além disso, investimos noutras áreas, e capitalizando outros investimentos feitos no passado, tentamos obter mais retorno.

AN: De que áreas de atividade estamos a falar?

AS: Temos várias mas as que têm mais peso são os produtos florestais, a produção de vinho e azeite, arroz e, depois, a produção de bovinos. Depois temos a prestação de serviços variados, onde se integra o turismo e visitação.

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António Saraiva

AN: Fale-me um pouco da área florestal.

AS: Em matéria de produtos florestais, o espaço tem um historial sempre muito interessante do ponto de vista da gestão. Acho que é um exemplo-modelo. Todos os anos investimos em operações florestais, preservando e tentando recuperar a sua área de montado, que é significativa – penso que talvez a maior do país, contínua, pertencente a um só proprietário –, à volta de 6700 hectares, com sinais de algum envelhecimento mas onde se tem investido bastante na sua regeneração natural. Desde 2006 já foram instalados cerca de 26 mil protetores individuais para árvores que vão nascendo, e que nós vamos protegendo, inclusive do nosso gado e cavalos, e para que um dia possam substituir as árvores que vão morrendo. A morte dos sobreiros é algo que tem sido frequente um pouco por todo o país, e nós não somos exceção. O que tentamos fazer é entender as causas, e daí também termos uma ligação muito forte às universidades. Trabalhamos com a Universidade de Évora, com a Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, Universidade do Porto, entre outras, em projetos de investigação, como um laboratório vivo onde se desenvolvem trabalhos de mestrado e doutoramento. Quanto ao escoamento, a Companhia vende os produtos à indústria corticeira e a lenha e madeiras a prestadores locais. Em média cerca de 20% das nossas vendas que, em 2015 (foram à volta de 5 milhões de euros) provêm desta área.

AN: E nos vinhos?

AS: Quando cheguei à Companhia existia uma marca de referência, com algum reconhecimento regional, e até nacional. Os vinhos são o produto que pode chegar com a nossa marca a mais consumidores e mais longe. E identificámos claramente o vinho como nosso embaixador e comunicador. E através dele a nossa mensagem pode chegar longe. E havia que a actualizar, não esquecendo o nosso passado. A estratégia passou pela redefinição da estrutura, da adega e a loja, da nossa política comercial, da marca, do portefólio e da eliminação de algumas coisas, pelo que refizemos tudo como se fosse quase de raiz».

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AN: E isso levou a que resultados?

AS: Em quatro anos atingimos os nossos objetivos, sendo que a área dos vinhos e azeites representou em 2015 perto de 1 milhão e 500 mil euros. Através da garrafa e do rótulo contamos os nossos valores, a nossa história e o que nos distingue no mercado. Temos vinha própria (130 hectares) e toda a nossa uva é processada por nós. Temos depois a transformação na nossa adega.

AN: E exportam? Para que mercados?

AS: Os nossos mercados essenciais são a Finlândia, EUA, Inglaterra, Suíça e Holanda.

Fotos: Ana Clara

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