Cogumelos desidratados e farinha de bolota entre os novos segredos do Alentejo

cogumelos

Jovens empresários estão a dar nova vida a produtos regionais tradicionais. Usam técnicas inovadoras, que permitem levar mais longe os sabores locais.

A arte de transformar «o que ninguém quer» em produtos DOP (Denominação de Origem Protegida, atribuída pela União Europeia).

A ideia foi de um grupo de jovens empreendedores alentejanos que há quatro anos decidiu meter mãos à obra e desenvolver um projecto que é um caso de sucesso.

A pensar na produção sustentada, conservação e comercialização dos produtos silvestres, dos frutos e hortícolas de excelência da região, nasceu em 2011, no concelho de Marvão, distrito de Portalegre, a Terrius.

Trata-se de um grupo de jovens ligados à região e à actividade agrícola, que desenvolveu este projecto para marcar a diferença, aproveitando sinergias locais, valorizando os produtos oriundos da serra de São Mamede e, ao mesmo tempo, recuperando as certificações DOP, Denominação de Origem Protegida e IGP, Indicação Geográfica Protegida.

A produção começou pelos cogumelos em troncos de madeira, mas os jovens empresários cedo perceberam que era necessário acudir a outros produtos certificados como a maçã Bravo de Esmolfe ou a conhecida castanha de Marvão, em risco de se perder.

«Quando agarrámos no produto e fomos ter com a entidade certificadora, soubemos que estava em risco de se perder essa certificação, porque há 10 anos que não era certificado um quilo de castanha de Marvão, por ser pequena e não ser atrativa para o consumidor final», conta Filipe Verdasca.

A partir daqui partiu-se para a valorização de produtos como a castanha, a maçã, o cogumelo, mas também o tomate, o pimento ou a bolota, aproveitando-os, transformando-os e tornando-os mais apelativos.

Por exemplo, a empresa vende a castanha desidratada ou em farinha, assim como a maçã, permitindo vários tipos de utilizações para estes frutos fora da sua época.

«Decidimos fazer diferente», refere o diretor de marketing e sócio da empresa alentejana.

«Em Portugal, a maior parte dos produtores trabalha a castanha ultracongelada, nós optámos por um processo de desidratação». Para além disso, prossegue, «utilizamos a moagem em que as nossas farinhas permitem aproveitar subprodutos ou frutos de pequeno calibre que o consumidor final não valorizava e ao apresentá-lo em forma de farinhas já não tem esse ‘handicap’».

A inovação é, de resto, um dos pilares da Terrius que sustenta, ainda, a sua existência «na qualidade dos produtos, na imagem do produto e na sustentabilidade».

Tudo isto pela valorização dos produtos da terra, num esforço que já vai além-fronteiras com a participação em eventos nacionais e internacionais.

Uma estratégia que vai mostrando resultados. O mercado externo já representa «15% a 20% da faturação da empresa com uma crescente recetividade em Portugal», assegura Filipe Verdasca.

Para confirmar esta apetência, passou por uma loja de produtos naturais em Évora. Ana Rita Espada, gerente das lojas Alentejo Natural, destaca o facto de a Terrius ser uma marca local de grande qualidade e certificada nos seus vários produtos biológicos.

«O nosso ‘bestseller’ são os cogumelos, nomeadamente o ‘shiitake’ que é um cogumelo desidratado que basta colocar em água 15 minutos, escorre-se e parece que fica fresco. É de grande qualidade com um excelente sabor» conta.

Mas há outros produtos de uma vasta gama. «Temos o tomate desidratado, os chutneys, os espargos, os cardos ou as farinhas, algumas estranhas para o consumidor, que são as de castanha, de bolota ou de maçã mas que estão com saída».

De acordo com Ana Rita Espada, no espaço comercial que gere são sobretudo clientes nacionais que procuram os produtos e por diferentes razões. «Há a pessoa que compra porque é novidade e quer experimentar, mas há já muitos consumidores que pedem esta marca», revela.

E os preços são acessíveis? «Não são mais caros que outras marcas se comparados com outros produtos biológicos e que são importados. Depois, nós damos sempre primazia a um produtor que é biológico, certificado e, ainda por cima, local».

E acentua, «quem come, por exemplo, um cogumelo da terra, nota a diferença quando prova outro qualquer», garante.

Sendo esta uma época propicia às experiências gastronómicas, a Terrius preparou um catálogo com «sugestões que vão desde os 10 aos 150 euros».

São os cabazes de Natal onde se incorporam não só estes produtos mas outros como «os vinhos, os queijos e os enchidos» e que são feitos à medida das preferências e da disponibilidade de cada bolos», finaliza Filipe Verdasca.

Fonte: Renascença

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