Chegou a prova: quanto maior a diversidade vegetal melhor o funcionamento dos ecossistemas

Por: Cristina Sousa Correia

Uma análise recente, publicada na revista Nature, revela que quase todas as plantas presentes num ecossistema de pastagem (84%) contribuem, pelo menos durante algum tempo, em determinado local, ou tipo de cenário ambiental, para o funcionamento normal desse ecossistema.

É já de conhecimento geral que a diversidade vegetal e animal tem vindo a diminuir drasticamente, tanto ao nível do número de espécies, como ao nível da diversidade intra-específica e mesmo ao nível da diversidade de habitats dentro do ecossistema. É também consensual que a diminuição da biodiversidade poderá resultar em perturbações ao nível do funcionamento do ecossistema, levando eventualmente a uma diminuição dos serviços por ele prestados ao ser humano.

Contudo, torna-se difícil arranjar fundos para a conservação da biodiversidade se não existirem estudos que revelem o verdadeiro valor ecológico das espécies a conservar. Em suma, porque é que se deve gastar dinheiro em conservar a biodiversidade? Em quantas e em quais espécies se deve investir exactamente?

Estudos anteriores, realizados perante um só cenário ambiental, indicavam um máximo de 27% das espécies como sendo importantes para o funcionamento de cada ecossistema considerado. Ora dado que apenas um pequeno número de espécies era importante, o argumento para a conservação ficava enfraquecido pois não parecia haver grande perca ecológica se a diversidade de espécies presentes diminuísse, desde que as tais espécies chave se mantivessem presentes. Contudo, o novo estudo multi-anual e de múltiplos cenários ambientais valoriza um muito maior número de espécies como contribuidoras chave para o funcionamento do ecossistema. Explicando melhor, se se tomasse em consideração um só ano e um só local, poderia parecer que a espécie A e a espécie B são muito mais importantes que as restantes espécies. Contudo, o que se verifica é que se se estender a análise a vários anos, vários locais e variados cenários ambientais, muitas mais espécies se revelam importantes.

Tornou-se agora evidente que as espécies que proporcionam um tipo de função ecológica durante vários anos não são as mesmas que proporcionam variadas funções no espaço de um ano. Este estudo revela também grande diversidade funcional entre as espécies, por exemplo, algumas espécies são importantes em encostas viradas a norte e outras em encostas viradas noutras direcções. Algumas espécies são importantes em pastagens intensivas porque ajudam a manta vegetal a recuperar. Algumas são importantes na fixação do azoto e assim por diante.

Este estudo realça também que, embora muitas espécies pareçam redundantes na suas funções perante determinado cenário ambiental, cada uma delas poderá ter importância individual no desempenho de outras funções em etapas temporais, locais ou condições ambientais diferentes.

Manter o máximo da biodiversidade presente deverá tornar-se no lema das políticas de conservação, em oposição à conservação de apenas algumas espécies chave, não só como salvaguarda do funcionamento normal e sustentável do ecossistema mas também como medida facilitadora da adaptação do ecossistema à mudança climática.

 

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