Carta aberta à direção de informação da RTP

A Federação Portuguesa de Associações de Suinicultores, enquanto organização representativa dos suinicultores portugueses, vem repudiar a reportagem emitida no passado dia 25 de fevereiro no programa “Linha da Frente”, denominado “E se eles falassem”.

Suinicultura

A reportagem apresenta-se como “a primeira vez que na televisão portuguesa é abordado o tema da consciência animal” relativamente às espécies pecuárias, mas consubstanciou-se numa peça jornalística pautada por falsas premissas, manipulação de dados, ausência de contraditório, incorreções técnicas e omissões estratégicas.

A FPAS lamenta não ter sido ouvida ou sequer contactada pelos autores da supracitada reportagem, cujo assunto nela abordado é do manifesto interesse e âmbito de atuação desta federação.

A reportagem não só estigmatiza um setor retratando um cenário que não encontra adesão à realidade dos factos, como o faz de forma preguiçosa exibindo imagens recolhidas e editadas por terceiros sem autorização nem garantias de autenticidade.

Para além de erros factuais sobre a fisiologia dos suínos e as práticas de maneio veiculadas pela peça, a FPAS considera particularmente gravosas as afirmações de alguém que se identifica como engenheira zootécnica relativas à prática da inseminação artificial supostamente praticada em mamíferos fora do período de cio. Para além da inutilidade e custos de exploração da operação, revela um nível de negligência técnica que coloca em causa a integridade dos animais e a normal produtividade que a reportagem transmitiu como prática corrente nas explorações suinícolas portuguesas.

Não é em Portugal, nem em parte nenhuma do mundo. As declarações proferidas pela entrevistada configuram não só uma violação da deontologia profissional a que se obriga, como a confissão de um crime por si cometido.

A evolução experimentada pela área da produção animal nos últimos anos – também a nível do bem-estar animal – muito se deveu à melhoria das técnicas de maneio nas explorações pecuárias introduzidas pelo aumento do número de diplomados em medicina veterinária, em engenharia zootécnica e engenharia de produção animal, formados pelas instituições de ensino superior mais prestigiadas do país.

Mas não foi unicamente com o intuito de atacar produtores pecuários e uma classe profissional altamente qualificada que a reportagem “E se eles falassem” foi exibida. A peça constitui uma manobra de difamação da administração pública com a tutela do bem-estar animal integrada numa agenda que tem em vista o desmantelamento dessa mesma tutela. Seria mais ajustado exibi-la no programa “Linha do Frete”.

A FPAS não pode deixar de condenar que o canal público em horário nobre exiba uma peça que nada mais é que uma tentativa de manipulação da opinião pública sobre um setor que num ano extremamente difícil para toda a população portuguesa, como foi o ano 2020, manteve postos de trabalhos, reduziu importações e aumentou exportações. Contribuiu com mais de 1.200 milhões de euros para a economia nacional e desenvolveu projetos na área do bem-estar animal, da sustentabilidade, da inovação e da formação.

O compromisso desta FPAS e dos suinicultores portugueses com o bem-estar animal é inequívoco, como o comprova o programa de certificação “Porco.PT” que introduziu na produção suinícola nacional procedimentos de bem-estar animal mais rigorosos e exigentes que os legalmente exigidos e como o comprovam os dados comparativos dos indicadores de bem-estar animal a nível europeu, publicados regularmente pela Comissão Europeia.

A FPAS manter-se-á sempre atenta na denúncia de práticas que configurem maus tratos animais. Também se manterá firme na defesa da nobre atividade que desenvolvemos: alimentar o mundo.

Os suinicultores portugueses estão de portas abertas para mostrar a realidade nacional da atividade suinícola.

“E se nós falássemos” podia ser o nome de uma reportagem que desse voz ao sofrimento das cerca de 230 milhões de pessoas vítimas da fome, muitas delas em Portugal. Um problema que a Fundação Nobel assinalou quando atribuiu o Prémio Nobel da Paz em 2020 ao Programa Alimentar Mundial da ONU.

Quando a RTP entender que este flagelo é merecedor de debate público, cá estaremos disponíveis para o discutir.

Grato pela atenção,

Com os melhores cumprimentos,

Vítor Menino
Presidente da FPAS

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