Captura de Drosophila suzukii em armadilhas alimentares

Captura de Drosophila suzukii em armadilhas alimentares

Por: Diogo Bruno, Maria do Céu Godinho e Elisabete Figueiredo
Instituto Superior de Agronomia, Tapada da Ajuda 1349-017 Lisboa

A drosófila de asas manchadas, Drosophila suzukii (Matsumura), é uma praga polífaga que ataca frutos de aproximadamente 40 espécies pertencentes a cerca de 20 famílias botânicas. Foram referidos prejuízos em pequenos frutos (framboesa, groselha, morango, amora, outras espécies do gén. Rubus e mirtilo), uvas, prunóideas (especialmente, cereja mas, também, pêssego, damasco e, com menor importância, ameixa), e outras espécies como diospiro, nêspera, figo e quivi de quiwi arguta (Actinidia arguata).

Esta espécie é de origem asiática e foi detetada em 2008 na Califórnia. Depressa se dispersou pela costa Oeste dos EUA e Canadá. No mesmo ano, foi detetada na Europa, na região espanhola da Catalunha e em Itália e, posteriormente, noutras regiões do sul e centro do continente europeu. Na Península Ibérica, foi detetada também no sul de Espanha (Almeria, Cádis, Granada, Jaén, Huelva) e no Sudoeste Alentejano.

Os adultos desta praga (Fig. 1) distinguem-se dos de outras espécies de drosófilas pela presença de uma mancha escura nas asas anteriores e de dois pentes negros nas patas anteriores do macho e de um oviscapto com bordo serrilhado na fêmea. Ao contrário do que sucede com a mosca do vinagre e outras espécies do mesmo género frequentes em Portugal, esta espécie consegue fazer posturas em frutos sãos e antes da maturação, dado o oviscapto muito mais robusto e com serrilha que as suas fêmeas possuem, embora a postura aumente com o aumento do teor de açúcar.  

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Em proteção integrada é importante avaliar a possibilidade de utilização de armadilhas para estimativa do risco do ataque de espécies que constituem praga no sentido de diminuir os custos e o tempo gasto com a estimativa do risco. A monitorização das populações de drosófilas pode ser efetuada com recurso a armadilhas alimentares. Sendo a drosófila de asas manchadas uma praga para a qual os meios de proteção preventivos assumem maior relevância, a utilização de armadilhas (dispositivo e isco), caso não se revele demasiado onerosa, poderá também ser utilizada para captura em massa, combinando este meio de proteção com os cuidados essenciais de manutenção da cultura, nomeadamente retirada de frutos maduros e sobremaduros e limpeza do solo.

São várias as armadilhas e os iscos descritos na bibliografia para Drosophila suzukii, em alguns casos, com resultados antagónicos. Algumas destas armadilhas e iscos são já utilizados por produtores de pequenos frutos no Sudoeste alentejano, sobretudo para acompanhar a evolução da densidade populacional desta praga ao longo do tempo.

Com o objetivo de estudar a atração desta mosca para diferentes armadilhas (dispositivos e iscos), está em fase final de preparação uma dissertação de mestrado de um estudante do Instituto Superior de Agronomia orientada por docentes deste Instituto e da Escola Superior Agrária de Santarém, autores desta nota.

Neste estudo, realizado na Herdade da Fataca e em estufas de uma exploração comercial situada também no concelho de Odemira, de abril a agosto de 2013, em culturas de amora e framboesa, foram testados três tipos de dispositivos e quatro iscos alimentares. Como dispositivos foram usados: (i) copo plástico transparente com diâmetro de 122 mm e 1000 ml de capacidade, adquirido numa grande superfície comercial, com 10 aberturas circulares de 6 mm de diâmetro, equidistantes de 3 cm e a 3 cm de distância do topo, feitas artesanalmente na face lateral; (ii) dispositivo DROSO-TRAP®, de plástico vermelho, comercializado pela Biobest; (ii) dispositivo construído a partir de garrafas de água de 1,5 L de capacidade de acordo com as recomendações da DGAV (Teixeira e Rego, 2011). Como atrativos foram testados: vinagre de vinho branco, levedura (355 ml de água, 4 colheres de sobremesa de açúcar, 1 colher de sobremesa de fermento de padeiro), fruta muito madura (50% de banana e 50% de amora ou framboesa) e o atrativo comercializado pela Biobest (DROS’ATTRACT®). O atrativo à base de fruta foi apenas usado no dispositivo construído com garrafas de água. Em algumas das armadilhas de copo transparente foi colocado no interior uma tira retangular de placa adesiva de cor amarela, usada normalmente como armadilha cromotrópica. Em cada armadilha foi usado 150 ml de isco. Semanalmente, contabilizou-se as capturas nas diferentes combinações de armadilha e substituiu-se o isco.

A análise dos resultados, correspondendo apenas a uma campanha e ainda preliminar, indica diferenças significativas entre os dois dispositivos, sendo as capturas mais elevadas no copo de cor vermelha comercializado pela Biobest, independentemente do isco usado, o que está em desacordo com a bibliografia que indica ser o estímulo cromático menos intenso que o alimentar. No que se refere à comparação entre os iscos, a levedura capturou significativamente mais indivíduos D. suzukii do que o vinagre, sobretudo devido às capturas nos períodos de temperatura mais elevada, e estes iscos em copo transparente mais do que a mistura de fruta na armadilha garrafa. Por outro lado, com temperaturas mais baixas a levedura capturou menos adultos do que o vinagre. Não se verificou diferença significativa no número de indivíduos capturados com levedura e com o isco comercializado pela Biobest. Não foi testada a combinação dispositivo DROSO-TRAP® da Biobest e levedura. A introdução da placa adesiva não conduziu a diferenças significativas na captura. Capturou-se significativamente mais fêmeas do que machos de D. suzukii, ou porque na população há maior número de fêmeas (os insetos apresentam muitas vezes razões sexuais diferentes de 0,5) ou porque as fêmeas apresentam maior atratividade para estes dispositivos e/ou iscos. Recorde-se que os resultados apresentados se reportam a uma só campanha, apesar de se ter efetuado observações em várias estufas.

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A atratividade dos iscos utilizados nas armadilhas depende da sua dispersão no ambiente e esta depende, entre outros fatores, da sua volatilidade. Por sua vez, a volatilidade depende da temperatura. É, por isso, importante perceber a diferença de capturas em função da temperatura, aspeto que não é esclarecido neste trabalho. Este fator é especialmente importante para o isco estudado à base de leveduras.

Como já se mencionou, estas armadilhas (dispositivos e iscos) podem ser usadas quer para a estimativa do risco quer para captura em massa. Neste ultimo caso, o número de armadilhas a utilizar tem de ser bem mais elevado, pelo que os custos nem sempre justificarão a utilização da armadilha que melhor capture, caso seja a mais onerosa. O critério de escolha não deverá ser apenas a maior atratividade, mas sim a combinação deste aspeto e do custo associado.

De qualquer forma, a captura em massa só fará sentido, caso seja complementada com outras medidas indiretas e meios de proteção. Destacam-se as medidas relacionadas com a limpeza da parcela. Retirar todos os frutos já maduros ou sobremaduros que não foram colhidos para comercialização e os infestados e manter o solo limpo de restos de frutos é crucial para manter uma desejável baixa densidade da população. Estes frutos devem ser colocados em sacos plásticos que se expõem ao sol (as larvas desidratam facilmente) ou enterrados longe das parcelas, pelo menos, a 50 cm de profundidade. A compostagem não é suficiente, pois não conduz à morte dos ovos, larvas ou pupas.

É, ainda, importante conhecer outros hospedeiros, quer sejam culturas ou plantas adventícias ou silvestres, que existam na vizinhança das parcelas e retirá-las ou, pelo menos, monitorizar as populações nesses hospedeiros. Silvas, medronheiro, camélia e madressilva estão entre os hospedeiros conhecidos, mas outras espécies da flora portuguesa poderão ser repositório e possibilitar a manutenção de populações no ecossistema, entre culturas. Desta forma, é também importante conhecer as espécies vegetais que poderão desempenhar este papel.

Bibliografia
–    Teixeira, R. & Rego, C. 2011. Drosófila da asa manchada. Boletim técnico INRB nº UIPP- BT/11, 2 pp.

Este trabalho é um resumo da Dissertação submetida ao Instituto Superior de Agronomia, Universidade de Lisboa, para a obtenção do grau de Mestre em Engenharia Agronómica e contou com o apoio do projeto europeu FP7 EUBerry (Grant agreement Nº 265942).

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