Avaliação de cultivares de mirtilo no Alentejo Interior – Resultados preliminares

Rui Machado e Ricardo Jesus


 

As plantas de mirtilo eram cultivadas em climas frios, pois as cultivares utilizadas «Northern highbush» após a entrada em dormência necessitam de acumular entre 800 a 1200 h de temperaturas entre 0 e 7.2 oC («chilling»). Contudo, devido ao aparecimento das cultivares «Southern highbush » e «Rabbiteys» com menores necessidades de acumulação de baixas temperaturas; respetivamente, entre 150 a 800h e entre 300 a 700h, a cultura tem vindo a expandir-se para áreas climáticas mais quentes, de países como: Brasil, Chile, Argentina, Marrocos, Espanha, Austrália, Africa do Sul, E.U.A. Portugal, etc. No nosso país, a maior área de produção situa-se em Sever do Vouga e no litoral Alentejano. Contudo, a cultura tem vindo a expandir-se para o interior do País, destacando-se a implantação de 60 ha em Idanha-a-Nova, onde no verão a temperatura atinge valores muito elevados. Para analisar o comportamento de diferentes cultivares sob estas condições, instalou-se em 2010 na Universidade de Évora um ensaio de cultivares de mirtilo. O ensaio foi delineado em blocos casualizados com 4 repetições. Em cada repetição foram implantadas 4 plantas de cada cultivar. Na tabela 1, apresentam-se as cultivares estudadas e as suas principais características. As plantas com um ano, em vasos de 2 litros foram adquiridas a um viveirista e plantadas em camalhões, distanciados de 3 m e distanciadas na linha de 0,75 cm (4444 plantas ha-1). Os camalhões com 0,40 m de altura e 0,70 m de largura foram feitos com 6 meses de antecedência e o solo destes foi enriquecido com matéria orgânica (± 5%) e acidificado, através da aplicação de 900 kg ha-1 de enxofre elementar, para baixar o pH do solo de 7.2 para 5.

 

Tabela 1. Principais características das cultivares estudadas

 

 

Para regar a cultura foi instalado de cada lado da linha da cultura, a 10 cm, um tubo de rega gota-a-gota, com gotejadores de 40 em 40 cm e um débito de 2,3l h-1. Sobre o camalhão foi ainda colocada uma tela preta (permeável ao ar e à água). No primeiro ano, para estimular o crescimento dos ramos de formação, procedeu-se à eliminação de todas as flores. No 2.o ano aplicaram-se em fertirrega 80 kg de N ha-1, repartidos por doze aplicações semanais. O adubo utilizado foi o sulfato de amónio. Não se aplicaram outros adubos pois a concentração dos diferentes nutrientes no solo era elevada. Entre abril e meados de setembro a cultura foi regada três vezes por dia, tendo a dotação variado entre os 0,5 e 5 mm dia-1. No segundo ano procedeu-se à avaliação da produção e da qualidade dos frutos (calibre, «oBrix» e pH). A colheita realizou-se semanalmente entre meados de maio e de julho tendo-se iniciado em cada cultivar quando cerca de 25% dos frutos atingiu a maturação total (figura 1 C).

 

Figura 1. Estádios de desenvolvimento dos frutos. A. Crescimento dos frutos, B. Alteração da tonalidade do fruto, passando da tonalidade verde a cor-de-rosa. C. Cerca de 25% da totalidade dos frutos atinge a maturação (cor azulada), D. Cerca de 75% dos frutos maduros.

 

 

Todas as cultivares produziram frutos, mesmo as mais exigentes em acumulação de horas de frio (´Nui´ e ´Orzakblue´), tendo a produção variado entre 26 e 614 g planta-1 (Tabela 2). A produção foi mais elevada na ´Misty´ (614 g planta-1) e na ´Star´ (250 g planta-1), enquanto a mais baixa foi na ´NUI´ e na ´O'Neal´. As produções obtidas são semelhantes às determinadas por Jiminez et al. (2005) para as mesmas cultivares com a mesma idade em ensaios realizados na Califórnia, Fresno. As cultivares nestes dois anos cresceram significativamente, pois na altura da plantação as plantas tinham aproximadamente 20 cm de altura. A cultivar Star e Ozarkblue apresentaram maior crescimento, respetivamente 117 e 138 cm (Tabela 2). Pelo contrário a «Nui» foi a cultivar que cresceu menos, não ultrapassando os 61 cm, o que pode estar relacionado com o facto de ser uma cultivar de porte arbustivo aberto e de reduzida estatura. O peso médio dos frutos foi o mais elevado na ´Nui´, seguindo-se os da `Ozarkblue´, «Southmoon´, ´Star´, ´O´Neal´ e por último os da ´Misty´. Ainda que o calibre dos frutos seja muito influenciado pelas técnicas culturais e pela maturidade das plantas, Jimenez et al. (2005) e Bremer et al. (2008) obtiveram calibres semelhantes. O «obrix» dos frutos das diferentes cultivares foi superior a 12%, variando entre 12,4 (´Nui`) e 14,1 (´ Misty`) (Tabela 2). Os frutos de mirtilo devem ter um mínimo de 10% de «oBrix», mas os consumidores dão preferência a frutos com um teor de sólidos solúveis superior a 12% (Sousa et al., 2007). O pH dos frutos variou entre 2,77 e 3,37, o que são valores normais para a cultura (Molina et al., 2008; Sousa et al., 2007).

 

Figura 2. Aspeto do ensaio em maio de 2013.

 

Figura 3. Aspecto de uma planta da cultivar ´Orzakblue´ em meados de junho 2013

 

Tendo em consideração que este estudo foi efetuado no 2.o ano após a instalação da cultura, os resultados obtidos sobre o comportamento das cultivares no Alentejo (Évora) são preliminares, mas promissores. Assim, as cultivares continuarão a ser avaliadas nos próximos anos e implantou-se um novo ensaio, com outras cultivares.

 

Tabela 2. Produção, altura das plantas, peso e diâmetro transversal dos frutos, "oBrix" e pH

 

Referências 

› Bremer, V., Crisosto, G., Molinar, R., Jimenez, M., Dollahite, S. e Crisosto, C. H. (2008). San Joaquin Valley blueberries evaluated for quality attributes. California Agriculture. 62 (3): 91-96.

› Jimenez, M., Carpenter, F., Molinar, R. H., Wright, K., Day, K. D. (2005). Blueberry research launches exciting new California specialty crop. California Agriculture. 59 (2).

› Molina, J. M., Calvo, D., Medina, J. J. (2008). Fruit quality parameters of some Southern highbush blueberries (Vaccinium corymbosum L.) grown in Andalusia. Spanish Journal of Agricultural Research. 6 (4): 671-676.

› Sousa, M. B., Curado, T., Vasconcellos, F. N. e Trigo, M. J. (2007). Mirtilo – Qualidade pós-colheita. Folhas de divulgação AGRO 556, n.o 8.

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