Amoras silvestres, uma nova cultura?

Por: Pedro V. Trindade1, Vânia Sousa2, Lucélia Tavares3,4, Cristina Oliveira5, Paula Pinto2,4, Cláudia N. Santos3,4, Pedro B. Oliveira1

1Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária, I.P., UEIS-SAFSV, Av. da República Nova Oeiras, 2784-505 Oeiras
2Escola Superior Agrária, Instituto Politécnico de Santarém, Qta do Galinheiro, 2001-904 Santarém
3Instituto de Tecnologia Química e Biológica, Universidade Nova de Lisboa, Av. da República, Apartado 127, 2781-901 Oeiras
4Instituto de Biologia Experimental e Tecnológica, 2781-901 Oeiras
5Instituto Superior de Agronomia, Tapada da Ajuda 1349-017 Lisboa

(Este texto constitui um resumo do artigo que foi publicado na revista AGROTEC n.º 9)

As amoras silvestres possuem um peso significativo na produção mundial de amoras. Estima-se que no ano de 2005, tenham sido colhidas amoras selvagens de 3 600 ha (R. glaucus) no Equador, 2 400 ha na Roménia (R. armeniacus, R. laciniatus), 2 000 ha no Chile (derivadas da introduzida R. ulmifolius) e 100 ha de R. glaucus na Venezuela. Estes 8 000 ha terão produzido, em 2005, cerca de 13 460 toneladas.

Cerca de um terço da produção mundial de amoras selvagens registada em 2005 (5 800 t) foi processada e exportada pelo Chile (Strik et al., 2007).

Devido ao elevado potencial das amoras para a saúde, e tendo Portugal um conjunto único de espécies de amoras silvestres, um estudo recente destacou algumas destas espécies com potencial interesse para a saúde. Neste sentido tem vindo também a aumentar a importância da introdução deste germoplasma em programas de melhoramento para posterior exploração comercial. Nesse âmbito foi estabelecida uma linha de trabalho no projeto Europeu FP7 EUBerry onde foram efetuados ensaios agronómicos, de qualidade pós-colheita e avaliação de fitoquímicos com o objetivo de caracterizar algumas destas espécies presentes em território Português.

No ensaio de caracterização agronómica, foram cultivadas cinco espécies: R. vigoi; R. radula; R. henriquesii; R. sampaioanus e R. brigantinus. Foram analisados o vigor, percentagem de abrolhamento, precocidade e produção que apresentaram uma grande variabilidade com diferenças significativas em todas as características analisadas. De todas as espécies apenas duas, R. henriquesii e R. sampaioanus apresentaram características vegetativas e produtivas aceitáveis (quantidade e qualidade da produção). Foi também testada a qualidade dos frutos, tendo sido analisados diversos parâmetros biométricos e físico-químicos e, ainda um ensaio de exportação dos frutos. No que respeita as características reológicas dos frutos destas espécies, R. radula e R. brigantinus apresentaram os valores mais elevados de dureza, sendo que apenas os segundos mantiveram esta propriedade uma semana após colheita. A percentagem de matéria seca foi superior na espécie R. radula. Os restantes parâmetros de análise proximal (humidade, cinzas, proteína total, lípidos totais e glúcidos totais) encontraram-se dentro dos valores descritos para este tipo de fruto. Registaram-se diferenças entre os frutos para os glúcidos totais que apresentaram valores estatisticamente mais altos para R. radula e R.brigantinus. As espécies com maior teor em sólidos solúveis totais (ºBrix) foram a R. brigantinus, R. radula e a R. henriquesii. As espécies que apresentaram níveis mais baixos foram R. sampaioanus e R. vigoi. Os valores de acidez total foram mais elevados para R. radula. Um dos parâmetros que reflete a aceitação dos consumidores é o rácio açucares/acidez, sendo o fruto de R. brigantinus o que apresentou o rácio mais elevado. Este valor refletiu-se na opinião que se registou num painel de 51 provadores, que consideraram os frutos desta espécie os mais doces, e com menor acidez e adstringência. Essa sensação foi mantida mesmo após a prova (sensação residual). De acordo com o painel também se destacaram o R. radula e R. brigantinus pela uniformidade da cor e o R. sampaioanus pela suculência. Na apreciação global dos frutos o R. brigantinus revelou-se como sendo o mais agradável e preferido. Sendo R. sampaioanus o fruto menos apreciado.

Na caracterização fitoquímica, as espécies R. henriquesii e R. radula apresentaram maior teor em fenóis totais. Este parâmetro é normalmente associado com presença de compostos com efeitos benéficos para a saúde humana. A capacidade antioxidante é uma característica frequentemente associada a este tipo de compostos. R. vigoi seguido por R. henriquesii apresentaram os frutos com maior capacidade antioxidante. Embora esta propriedade seja reconhecida para o grande publico como uma mais-valia, estudos recentes não valorizam como sendo a propriedade diretamente implicada nos efeitos no organimo humano.

O ensaio piloto de exportação para mercados Europeus revelou interesse e aceitação deste tipo de frutos selvagens, em particular no mercado Italiano.

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Em conclusão, a caracterização realizada para as espécies silvestres demonstrou que as espécies com melhores características agronómicas não são as que apresentam melhores características pós-colheita e de aceitação pelo consumidor. Desta forma, é reforçada a ideia de que as espécies silvestres para serem introduzidas em cultura necessitam de melhoramento de forma a serem economicamente rentáveis. O melhoramento deverá atuar ainda ao nível de características pós-colheita, tais como aumento do teor em sólidos solúveis totais, redução da adstringência, entre outras. A existência de uma elevada variabilidade de germoplasma em território Português representa assim uma mais-valia a ser explorada, visando a obtenção de variedades de amoras com valor nutricional acrescentado, bem adaptadas ao clima Português, com boas características agronómicas e boa aceitação comercial.

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