Alterações climáticas na indústria do vinho em debate no Porto

Os desafios que as alterações climáticas representam para a indústria do vinho vão ser debatidos em março numa conferência internacional no Porto que contará com a presença do prémio Nobel e ex-vice-presidente dos EUA Al Gore.

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Em entrevista à agência Lusa, o presidente executivo da Taylor's e principal organizador do evento que decorre entre 5 e 7 de março, Adrian Bridge, avançou que o objetivo da "Climate Change Leadership - Solutions for the Wine Industry" é «discutir ideias concretas, partilhar experiências reais e fornecer soluções efetivas, que foram testadas e funcionam», no combate às alterações climáticas.

«Esta conferência permitirá que todos os setores da indústria do vinho trabalhem em conjunto para garantir um futuro seguro e sustentável, compreendendo melhor o nosso papel nas alterações climáticas e reduzindo o impacto coletivo», refere a organização.

No último dia, a conferência culminará com a segunda edição da "Climate Change Leadership", que decorreu a 6 de julho de 2018 e teve como orador principal o ex-presidente dos EUA Barack Obama, contando desta vez com a presença de especialistas e ativistas das alterações climáticas como Afroz Shah (distinguido como 'Champion of the Earth' pelas Nações Unidas pelo maior projeto mundial de limpeza de praias), Marco Lambertini (diretor-geral da organização não governamental World Wide Fund for Nature - WWF International) e Kaj Török (responsável pela área da sustentabilidade da Max Burgers).

Ainda presentes estarão o ministro do Ambiente e da Transição Energética, João Pedro Matos Fernandes, e o prémio Nobel ex-vice-presidente dos EUA, Al Gore.

Segundo Adrian Bridge, o setor dos vinhos «pode assumir um papel de liderança no combate às alterações climáticas», não só porque «precisa» de o fazer, mas também porque «é uma indústria que tem uma visão de médio/longo prazo» e da qual dependem economicamente «zonas remotas» em todo o mundo.

«Plantamos as nossas videiras com um prazo de retorno do investimento à volta dos 35/40 anos, que é o tempo de vida de uma videira», explicou.

Quanto à videira «é uma planta muito forte (apesar de ter um fruto frágil), e por isso está normalmente plantada em zonas remotas, sendo disso exemplo o Vale do Douro».

«Se tirarmos a videira do Vale do Douro não é fácil encontrar outros produtos alternativos, além do azeite. A economia do Douro e de muitas zonas remotas de todo o mundo está suportada pela indústria de vinhos, pelo que as alterações climáticas têm muito impacto socioeconómico», sublinhou Adrian Bridge.

Por outro lado, notou, o vinho é um produto agrícola cuja comercialização é feita com uma «fortíssima ligação» à terra de origem, seja o país, a região ou mesmo as plantas de onde provém, distinguindo-se ainda pelo facto de ser o produto agrícola com o maior número de marcas ativas a nível mundial.

Estas características da indústria do vinho conferem-lhe «um peso adicional para liderar o tema das alterações climáticas», que o empresário diz estarem já «definitivamente a afetar» as regiões produtoras, «muito vulneráveis e expostas às mudanças de padrão de clima».

É que, explicou Bridge, se tempestades violentas provocam erosão do solo e inundações, o ar instável pode causar quedas destrutivas de granizo e uma seca prolongada enfraquece as videiras, desseca as colheitas e baixa os rendimentos.

E isto «nota-se já no Vale do Douro, no Alentejo e noutras partes do mundo, como é o caso dos incêndios no Napa Valley ou da seca de quase três anos na África do Sul».

Convicto de que estes efeitos podem ser minimizados «se todos fizerem a sua parte», Adrian Bridge defende que «não há tempo, nem necessidade, de reinventar a roda: mundialmente há muitas empresas que estão a fazer coisas, o problema é que ninguém fala muito sobre isso».

O empresário garante que é precisamente isso que a Taylor's vem fazendo «há mais de 20 anos», ao longo dos quais já foi distinguida por investimentos ambientais nas suas explorações que lhe permitiram, por exemplo, eliminar os herbicidas nas plantações ou produzir 70% da energia consumida com recurso a painéis fotovoltaicos. 

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