Agricultura e indústria: a fileira do arroz

Agricultura e indústria: a fileira do arroz

Por: Victor M. P. Rouxinol, Eng.º Técnico/Orizicultor

Como introdução desta crónica começo por indicar alguns dados estatísticos sobre a fileira do arroz: Agricultura e Indústria, para que se possa ter uma ideia mais concreta sobre o sector orizícola e quanta importância económica ele pode representar para o país.

Assim, actualmente na fileira Agricultura temos:

  • Cerca de 2000 agricultores;
  • Pessoas directamente envolvidas na fileira: 5.000;
  • Pessoas indirectamente envolvidas na fileira: 10.000;
  • Área de produção nacional em 2011: Cerca de 29.000 hectares;
  • Produção nacional 2011: Cerca de 165.000 toneladas em casca, o que corresponde a +/- 115.000 toneladas de arroz branqueado;
  • Produtividade agrícola média: 6 toneladas/hectare;
  • Taxa de cobertura das necessidades internas: Cerca de 60%;
  • Maior taxa de consumo per capita da UE: Cerca de 16 Kg/ano, o que representa 4 vezes a média.

Na fileira Indústria temos:

  • Cerca de 10 indústrias a operar no mercado;
  • Tem em conjunto cerca de 500 trabalhadores directos;
  • Vendem anualmente cerca de 180.000 toneladas de arroz branco;
  • Importam 40% do arroz que consumimos, cerca de 70.000 toneladas de cargas índicas (Agulhas, Basmati, Thai);
  • Actuam no mercado há décadas e têm forte ligação à agricultura sendo que algumas também são produtoras;
  • Adquirem toda a produção nacional (70% japónica na grande maioria Carolinos e 30% Índicas - Agulhas).

    Visão geral do mercado

O arroz é o alimento básico de mais de dois terços da humanidade.

Há indícios do seu cultivo na província de Hunan, na China, na Tailândia, e nas margens do Rio Ganges, na Índia, há mais de 4.000 anos. Cerca de 90% da produção e do consumo de arroz concentram-se na Ásia, onde a qualidade nutricional do arroz permite sustentar elevadíssimas densidades populacionais. O consumo mundial do arroz é assim dominado essencialmente por dois factores:

  • A melhoria do nível de vida das populações, que conduz a uma diminuição do consumo à medida que as pessoas têm disponibilidade para uma dieta mais variada;
  • Crescimento populacional (actualmente 1,8% ao ano) que conduz a um aumento das necessidades deste alimento.

O arroz é considerado um produto natural, fonte de carbohidratos e de proteínas que não envolve nenhum processamento para além da secagem e processos físicos a baixa temperatura (branqueamento), não requerendo a utilização de aditivos ou conservantes e mantendo portanto toda a qualidade nutricional original (exceptuando a remoção de minerais da película, motivo pelo qual o arroz integral é nutricionalmente de qualidade muito superior ao branqueado).

Não contendo gorduras nem açúcares, nem colesterol, o arroz é uma fonte de nutrientes essenciais inteiramente saudável.

Esta introdução abrangendo de um modo geral todo o sector orizícola e realçando a importância deste nobre produto – arroz – seria mais do que suficiente para que o elevemos e respeitemos e também que ao mesmo tempo haja consciencialização e respeito por quem o produz – o orizicultor –, proporcionando-lhe estímulo e condições de sobrevivência que a breve prazo poderá estar comprometida. O orizicultor português tecnicamente está ao nível dos melhores do mundo perdendo apenas sob o ponto de vista de condições estruturais e apoios para outros orizicultores que noutros pontos dele mais beneficiam.

Sendo uma indústria ao ar livre será como outras uma cultura de alto risco, sujeita a grandes adversidades climatológicas.

Como técnico agrícola e orizicultor ligado há vários anos ao sector posso comprovar o que atrás enunciei.

Actualmente sob o ponto de vista da produtividade e tecnologia, o nosso orizicultor é no sector agrícola do mais receptivo a novas técnicas culturais, experimentação de novas variedades e soluções de protecção fitossanitária, tendo sempre em vista a melhoria quer da produtividade quer da qualidade, e ao mesmo tempo o respeito pelo equilíbrio do meio ambiente, fauna e flora, com o objectivo de poder apresentar um produto de altíssima qualidade ao Industrial, que por sua vez irá fazer repercutir estes adjectivos ao consumidor final.

No entanto, para que todo este equilíbrio se possa manter será necessário que a quebra de rentabilidade que já vem ocorrendo de alguns anos a esta parte não se prolongue podendo com ela levar o sector à ruína.

Actualmente o custo de cultura médio/hectare cifra-se em cerca de 2.200€/hectare distribuídos por: mecanização (tractor/avião) (+/- 18%), fertilização e protecção sanitária (+/- 20%), meios humanos, custos administrativos e financeiros (+/- 7%), sementes certificadas (+/- 10%), água de rega (+/- 10%), colheita e transporte (+/- 10%), secagem (+/- 10%) e valor de utilização do terreno de cultivo (+/- 15%).

Reportando-nos ao ano agrícola 2011/2012 em que o preço médio se cifrou em 275€ para Índicas (Agulha) e 300€ para Japónicas (Carolino) ao rendimento industrial, sendo que devido às condições climatéricas a qualidade e produtividade não foi de um modo geral a esperada, fácil é entender que com uma produtividade na ordem das 6 ton/ha que a cultura não é autosuficiente em termos financeiros, tendo o orizicultor que recorrer a grande parte das ajudas compensatórias para conseguir sobreviver com muita dificuldade. Ora se as projecções para a nova PAC pós-2013 anunciam que os valores das ajudas vão baixar drasticamente, a conclusão que posso chegar é que se não forem criados mecanismos que possibilitem a sua manutenção, o sector orizícola corre sérios  riscos de extinção. Será necessário que impere o bom senso para futuras decisões e que este sector seja dignificado como bem o merece.

Quero realçar que é o único cereal na União Europeia em que somos deficitários. Outro problema que considero extremamente grave é o facto do grande poder negocial da grande distribuição cada vez mais concentrada e agressiva e que não mostra qualquer tipo de sensibilidade para o sector, arrasando preços, praticando "dumping", sem que hajam penalizações agravadas, degradando, como consequência e em cadeia os preços finais do orizicultor, não tendo qualquer tipo de sensibilidade para o sector. O resultado é o esmagamento de preços que vão influir negativamente nas já depauperadas margens do sector. Penso que a grande distribuição também deveria participar de uma forma mais positiva neste delicado assunto para  o poder sentir de uma forma mais realista embora, como é bom de ver, os objectivos não sejam coincidentes. Desconheço qualquer alimento de primeira necessidade que possa ter um rendimento tão grande na alimentação como o arroz. Daí que qualquer pequeno benefício no preço não tenha qualquer tipo de repercussão no preço final do arroz branco. Um quilo de arroz branco dá para uma média de 10 refeições!...

Só uma fileira a actuar de forma mais concertada, através de um projecto associativo "Casa do Arroz" & "Cotarroz", poderá dar resposta a esta conjuntura muito difícil.

Teremos também que criar mais valor na fileira e distribuí-lo equitativamente.

Só através de um produto diferenciado poderemos ter "força negocial".

Os tempos estão muito difíceis para todos os sectores e o nosso só evoluirá se soubermos adaptar e reinventarmos o nosso produto: o ARROZ.

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