Açores: produtores querem maior valorização do vinho verdelho dos Biscoitos

Os produtores de vinho verdelho dos Biscoitos, na ilha Terceira, Açores, consideram aquele produto raro, merecendo ser valorizado e apoiado, tendo em conta que mais de metade da zona demarcada está abandonada.

«Este vinho já esteve em mesas de gente importante, como os papas, os reis de Inglaterra e até os czares da Rússia, mas tem de ser mais valorizado pela raridade da casta e pelo trabalho que ela requer», disse à Dimas Simas Lopes, produtor de verdelho.

Dimas Simas Lopes, cardiologista reformado, herdou uma vinha com 300 ou 400 anos, que o pai adquiriu nos anos 30 do século passado e, tal como outros produtores dos Biscoitos, continua a tradição familiar.

«Desde criança que fui habituado às adegas e às vinhas. Vinha vigiar melros para a vinha branca nas férias grandes da escola primária», disse.

Já José Manuel Cardoso, natural da ilha do Pico, não teve influência da família quando há 20 anos decidiu adquirir vinhas nos Biscoitos. Dimas Simas Lopes já colocou o seu "Vinha Branca" em restaurantes em Lisboa e o "Quinta das Vinhas", de José Manuel Cardoso, recebeu uma medalha de prata, em 2008, num concurso regional de vinhos.

Atualmente, abastecem apenas o comércio local, pois não têm quantidade para exportar, mas garantem que não é um negócio que dê lucro. «Dá trabalho e não é rentável. Só como “part-time” e por amor à camisola. Ganhar dinheiro, não se ganha», salientou José Manuel Cardoso.

Nos Biscoitos, existem muitos vitivinicultores, mas a maior parte são pequenos produtores, alguns apenas para consumo próprio, e mais de metade das vinhas está ao abandono.

José Manuel Cardoso estima que «talvez 75%» das vinhas esteja «por aproveitar» e Dimas Simas Lopes arrisca que só «10 a 15 % da zona demarcada» está em laboração.

Com a vaga de emigração para os Estados Unidos e para o Canadá nas décadas de 1960 e 1970 e com a crescente procura de empregos na cidade, as vinhas foram ficando ao abandono e hoje são pouco atrativas.

A uva do vinho verdelho, de uma "casta nobre", cresce nos terrenos junto ao mar, em curraletas de pedra, o que torna impossível o uso de maquinaria no seu cultivo.

É preciso baixar a vinha para a proteger dos ventos, mas depois levantá-la para que respire e desfolhá-la para que seja exposta ao sol e haja uma boa maturação. É «o mesmo que um rapaz novo ter uma namorada», segundo José Manuel Cardoso, que diz que a vinha dá trabalho todos os dias.

Para Dimas Simas Lopes, a vinha dos Biscoitos é «uma obra de arte feita pelo povo e será uma crueldade deixar que se perca o trabalho de 400 anos», defendendo que «tem de ser apoiada», antes que morra de vez.

O produtor considerou que o verdelho dos Biscoitos terá de se afirmar pela qualidade e não pela quantidade, porque é um vinho para apreciadores.

«É um vinho que tem uma personalidade própria. É um vinho raro, que varia de ano para ano, porque o clima muda de ano para ano. É um vinho feito de mar, de sol, de pedra, de trabalho», frisou.

Fonte: Lusa

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