A produção de milho em Portugal

A produção de milho em Portugal

Por: Eng. Luís de Vasconcellos e Souza, Presidente da Anpromis

O milho constitui, actualmente, uma das mais importantes culturas arvenses. Quer associada à produção de silagem, quer à produção de grão, a cultura do milho afirma-se hoje como um dos casos demonstrativos das potencialidades produtivas da agricultura de regadio, gerando importantes contributos para a vitalidade da economia nacional e mundial.

Sendo este um sector fortemente marcado pela volatilidade dos preços, que se fazem notar a nível mundial, é no crescimento económico e no equilíbrio das balanças comerciais que figuram as principais razões para apostar na cultura do milho. Mais do que uma aposta no desenvolvimento regional, o milho constitui uma aposta economicamente estratégica com claros benefícios para Portugal.

A produção mundial de milho

Em termos mundiais, o milho é o cereal com maior expressão, sendo produzidas cerca de 853 milhões de toneladas, seguindo-se-lhe o trigo com 683 milhões de toneladas.

No que diz respeito ao milho e apesar do constante aumento da sua produção, tem-se revelado insuficiente para satisfazer a crescente procura, o que conduz a uma preocupante redução dos stocks mundiais.

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A produção de milho em Portugal

O milho tem sido, ao longo dos últimos anos, a cultura arvense mais representativa da agricultura de regadio nacional.

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No último ano, semearam-se em Portugal 137.413 hectares, dos quais 87.737 hectares se destinaram à produção de grão e 49.676 mil hectares à silagem. O milho é assim, e de forma destacada, a cultura arvense com maior expressão encontrando-se presente em cerca de 67.000 explorações distribuídas por todo o país.

As inúmeras utilizações que actualmente podem ser dadas ao milho, tais como a silagem, os alimentos compostos para animais, a alimentação humana (amidos, gritz, farinhas, etc.) ou, mais recentemente, a produção de energias renováveis (bioetanol e biogás) e materiais biodegradáveis (bioplásticos e fibras) fazem com que esta cultura seja única na grande diversidade de aproveitamentos que lhe são dados.

No conjunto dos cereais, o milho tem vindo a acentuar o seu papel de liderança, representando actualmente cerca de 40% do total dos cereais.

Analisando a evolução da área de milho por Direcção Regional de Agricultura e Pescas (DRAP), podemos constatar que o maior aumento de área, relativamente a 2010, se verificou na DRAP Alentejo (mais 5.995 ha), seguindo-se lhe a DRAP de Lisboa e Vale do Tejo (mais 2.208 hectares). Pelo contrário, a área de milho reduziu-se nas DRAP´s do Norte (-2.269 ha) e do Centro (-1.584 ha), devendo-se tal facto à difícil situação que atravessa o sector leiteiro nacional.

Consultando os dados estatísticos disponíveis, o nosso país produziu em 2010/11 cerca de 630 mil toneladas de milho passando este ano a produzirem-se cerca de 700 mil toneladas de milho. O nosso país passou de um grau de auto-aprovisionamento de 29% para cerca de 37%.

Confirmando este aumento, e recorrendo aos dados provisórios fornecidos pelos Agrupamentos de Produtores associados da ANPROMIS que, recordamos, representam cerca de 85% do milho grão nacional que é comercializado através dos circuitos comerciais de mercado, verificamos que durante esta campanha foram vendidas pelos nossos associados cerca de 270.000 toneladas de milho, o que corresponde a um aumento de perto de 30%, relativamente à campanha passada.

Por outro lado, e em termos económicos, o sector representa em Portugal, no caso de milho grão, cerca de 130 milhões de euros e no caso da produção de leite (na qual a silagem de milho é a base da alimentação dos animais) perto de 85 milhões de euros.

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Perspectivas para o futuro

O nosso país, recordamos, possui condições de produção extremamente favoráveis para a produção de milho, encontrando-se os produtores nacionais de milho entre os mais produtivos à escala mundial. Nenhuma outra grande cultura consegue, nas nossas condições de produção, obter performances ao nível das que conseguimos com o milho.

Numa altura em que novas áreas de regadio vão surgindo em Portugal, destacando-se de forma notória o perímetro de rega de Alqueva, cujas áreas infra-estruturadas rondam actualmente os 67 mil hectares, o milho afigura-se como a única cultura capaz de, em extensão, vir a ocupar uma parte significativa desta nova área contribuindo desta forma para o aumento do nosso grau de auto-abastecimento em milho.

Por outro lado, a opção de semear milho grão, em detrimento de outras culturas, tem essencialmente a ver com dois tipos de factores que importa destacar:

  • Factores nacionais, tais como a disponibilidade em área regada com boa aptidão de produção, a existência de um conhecimento técnico e prático da cultura e a adaptabilidade do milho às nossas condições de produção. Acresce aqui, e também como factor positivo para a produção deste cereal no nosso país no momento presente, o facto de Portugal continuar a ser muito deficitário no que diz respeito ao milho grão tendo importado em 2011 cerca de 1.150.000 toneladas. Pensamos assim, que em todos estes pontos temos no presente ano boas perspectivas: há mercado nacional para este cereal, há disponibilidade de terra e de água, há know-how da cultura e há variedades muito bem adaptadas às nossas condições de produção.
  • Factores internacionais, que podemos reduzir aos três seguintes: crise económica actual, condições de produção nos países do hemisfério sul para as campanhas de produção que aí estão a decorrer neste momento e finalmente as questões políticas ligadas quer a acordos internacionais, quer a políticas de blocos económicos (Bioetanol nos EUA, PAC na Europa, etc.)

Por último, uma mensagem de esperança quanto ao futuro da nossa fileira, acreditando que neste ambiente de grande rigor orçamental, os actuais dirigentes do Ministério da Agricultura saberão estar à altura de defender de forma desassombrada o regadio e as culturas regadas que, recordamos, constituem um factor essencial para a necessária competitividade da nossa agricultura. Importa nesta fase criar condições políticas para que o milho possa contribuir para a necessária ocupação deste território de modo a aumentar o nosso Produto Agrícola Bruto e a Riqueza Nacional.

 

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