A cultura do sabugueiro

Planta bem conhecida dos portugueses, e para muitos considerada uma autêntica infestante, o sabugueiro é um arbusto espontâneo em muitas regiões húmidas do centro e norte.

Sabugueiro

Por: Daniela Faria

Conhecido de alguns pelas virtudes terapêuticas da flor, de outros pelas fraudes do tempo do vinho a martelo (em virtude da riqueza em antocianinas da sua baga), e por muitos pelas zarabatanas feitas na mocidade com os seus caules ocos ou até pelo facto de a varinha mágica mais poderosa de Harry Potter ser feita com madeira desta planta a verdade é que, de entre os pequenos frutos, este é um dos que há mais tempo se afirmou no panorama nacional do mercado de exportação.

Segundo estatística não validada, a cultura do sabugueiro estende-se por cerca de 700 hectares, dos quais apenas 100 ha em cultura formal, envolvendo mais de 800 produtores e uma produção superior a 3,5 milhões de quilos de baga fresca, exportada em seco para os países do centro e norte da Europa, sobretudo Alemanha e Holanda.

Botânica

Sambucus nigra L. pertence à família Caprifoliaceae. Este possui cerca de 25 espécies, sendo que o Sambucus nigra L. está geograficamente distribuído pela Europa mas também no extremo norte e noroeste da África e sudoeste da Ásia. Em Portugal, ocorre em quase todo o território exceto no extremo sul.

Trata-se de um arbusto ou pequena árvore, atingindo normalmente 5-6m, com tronco irregular, onde se inserem ramos opostos, todos eles cobertos por uma casca rugosa de cor cinzentoesbranquiçada. As folhas são pecioladas, opostas, compostas de 3 a 7 folíolos elípticos, finamente dentados na margem, agudos no ápice, glabros. As flores são amareladas ou brancas, pequenas, dispostas em amplos corimbos terminais, de belo efeito decorativo em jardim, exalando um suave perfume.

Os frutos vulgarmente conhecidos por “bagas” são na realidadem drupas, com cerca de 7,0 mm de diâmetro, quando maduras apresentam uma cor púrpura escura, apresentando-se infrutescências que pendem com o peso.

Variedades

Em Portugal, a principal região produtora é o Vale do Varosa que engloba o concelho de Tarouca, Armamar, Lamego, Tabuaço e Moimenta da Beira, localizando-se a Norte de Portugal. As cultivares utilizadas nesta região para a produção de baga são variedades silvestres, diretamente postas em produção.

Além da produção em pomares, é frequente a planta ser colocada em bordadura nos campos de outras culturas. No centro da Europa, onde a produção é feita em grande escala, estão disponíveis outras variedades, sendo a mais célebre a Hashberg, com origem na Áustria.

Utilizações

O sabugueiro tem diversas utilizações, desde a alimentação até à medicina popular. Contém diversos componentes, como heterósidos flavónicos, sambucina, sambucianina, crisantemina e óleo essencial, entre outros. Das diversas propriedades utilizadas na indústria farmacêutica e cosmética, as antocianinas são procuradas pela indústria alimentar, estando incluídas no grupo dos pigmentos vegetais, sendo utilizada como corante natural de tonalidade vermelha. A nível alimentar, também se utilizam as bagas, mais propriamente o sumo, na produção de geleia, marmelada, licores, iogurtes, tartes, entre outros.

Os grandes benefícios para a saúde que a baga proporciona advêm das antocianinas que fazem parte do grupo de compostos, denominados flavonoides. Apresentam um grande poder antioxidante relativamente a outros compostos. As suas propriedades advêm do sumo das bagas, sendo utilizado como laxante, estimulador do sistema imunitário, no combate de gripes, constipações, problema de brônquios, entre outros.

As flores são utilizadas para preparar refrescos e chás, assim como aromatizar licores. Servem também para obter vinagre, limonada de flores de sabugueiro e confeção de geleia e bolos. As flores são constituídas por flavonoides, ácidos fenólicos, mucilagens, antocianinas, ácidos triterpénicos e sais potássicos. São tradicionalmente usadas nas gripes, constipações, sinusite e outras inflamações das vias respiratórias. Topicamente, em estomatites, faringites feridas e queimaduras.

Dados culturais

O sabugueiro, embora prefira locais húmidos e solos ricos, também se encontra em locais secos e pobres, é resistente ao frio do Inverno e a floração tardia não é afetada pela geada. Prospera tanto em solos ácidos como em solos muito alcalinos.

A densidade de plantação desta cultura pode ir desde as 500pl/ ha até cerca de 650 pl/ha, com um compasso de plantação de 4,5 metros por 3,5 metros em solos profundos e em solos menos férteis de 5 por 3. É uma cultura bastante resistente à poda, mesmo cortando pela base.

A plantação é executada no outono, podendo recorrer a estacas provenientes da poda com um vingamento de cerca de 95%. A floração da cultura acontece entre março e agosto e a maturação dos frutos entre agosto e outubro.

Uma boa produtividade do sabugueiro pode variar entre os 8kg e os 12 kg, de baga, por pé.

Processamento, pós-colheita e e preços

A colheita da baga do sabugueiro pode ser efetuada manualmente como mecanicamente. A apanha mecânica consiste no esbagamento, ou seja a separação das bagas do pé, executada por um equipamento acoplado ao trator, reduzindo o custo da mão-de-obra em cerca de 60%.

A baga do Sambucus nigra pode ser comercializada tanto em fresco como em seco. Para a secagem da baga, atualmente utilizamse secadores solares ou elétricos. Com este tipo de secagem, obtém-se um produto com maior qualidade, consequentemente, obtém-se uma maior valorização e, apesar de maiores dificuldades de processamento, a logística de exportação fica simplificada.

Cultura de grande potencial em quase todas as regiões portuguesas, podendo ocupar áreas marginais, muito interessante quer pela simplicidade de cultivo como em termos de rentabilidade, merece de todos os agentes uma maior atenção a fim de colocar Portugal entre os maiores produtores.

Nota: Artigo publicado originalmente na Agrotec 10, no suplemento Pequenos Frutos

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