4ª Edição das Jornadas ANIPLA: Por uma Realidade Agrícola (ainda) mais Competente, Sustentável e Eficiente

Setor aponta sistemas de precisão, pesquisa, investigação e uma maior coesão na defesa do papel da ciência como caminho para o sucesso.

ANIPLA

Realizou-se no passado dia 12 de maio, pelo 4º ano consecutivo, a edição anual das Jornadas de Homologação da ANIPLA, Associação Nacional da Indústria para a Protecção das Plantas. Uma iniciativa que pretende reunir anualmente numa conversa única, representantes da indústria, produtores e entidades reguladoras e legisladoras para um debate sobre a homologação de produtos fitofarmacêuticos e sobre os principais temas que deixam o setor em alerta.

Este ano dedicada ao tema da importância da agricultura nacional e das novas tecnologias na sua produção e proteção fitossanitária, foi clara para todos a principal conclusão a retirar face aos tempos que vivemos: «É urgente lutar contra campanhas depreciativas à volta da agricultura, que quebram a confiança do consumidor no processo produtivo, na sua maioria sem fundamento científico. O Pacto Ecológico Europeu é uma enorme oportunidade para defender o papel do setor, a sua missão, e reforçar a importância de proteger e assegurar a sanidade das plantas como o único caminho para alimentar e garantir a saúde de uma população em forte crescimento», referiu Felisbela Campos, Presidente da ANIPLA na abertura e apresentação dos principais temas da sessão. «Sem agricultura não há paisagens, não há cenários românticos, não há plantas, não há vida. É um contínuo de não existência. Dramático, mas real», concluiu.

No primeiro momento da sessão, Bruno Dimas, Subdiretor Geral do Gabinete de Planeamento, Políticas e Administração Geral (GPP), do Ministério da Agricultura, começou por enquadrar os participantes quanto à sustentabilidade do sistema alimentar português no quadro europeu, indicando que apesar dos 7,6 mil milhões de euros que resultam da produção agrícola em Portugal, «o nosso país apresenta um défice agroalimentar de 3 a 4 mil milhões de euros [entre 2019-2020], por oposição a um cenário de excedente no quadro da UE», tendo ainda destacado que ao nível da agricultura biológica «Portugal está alinhado com a média da UE, tendo cerca de 8% das terras agrícolas em modo de produção biológico». No que toca ao uso de produtos fitofarmacêuticos, o responsável do GPP indicou que «no que se refere ao indicador de risco harmonizado verificou-se uma redução de 34% em Portugal, ao passo que na UE essa redução foi de apenas 17% [2011-2018]», tendo finalmente apontado nas notas finais à sua intervenção que a principal ameaça para Portugal quanto às metas definidas pela UE, é estas tenham «uma perspetiva burocrática e desligada dos objetivos interligados de sustentabilidade económica, ambiental, social e territorial dos sistemas alimentares».

Este ano centrada no tema das tecnologias e das ferramentas utilizadas pela agricultura nacional em prol da sanidade vegetal, coube a Paulo Lourenço, Vice Presidente da ANIPLA, chamar à atenção para alguns aspetos fundamentais. «Se queremos devolver a terra à natureza, para que esta se regenere, não podemos retroceder cegamente para sistemas de produção extensivos», começou por referir. Numa altura em que investigações e meta análises nos permitem verificar que há um movimento gradual e expressivo de pragas em latitude como consequência das alterações climáticas, capazes de atingir uma maior extensão geográfica e de provocar enormes prejuízos económicos. «A tecnologia usada no processo de investigação e desenvolvimento de substâncias activas, já é usada pelos agricultores no uso dos produtos fitofarmacêuticos, a dita Agricultura de Precisão, contudo há um hiato a nível Regulamentar. No processo Europeu de avaliação das substâncias activas não é tido em consideração o salto quântico tecnológico a que assistimos nos últimos anos, e esta realidade tem de mudar em benefício da Sustentabilidade da Agricultura Europeia», referiu ainda Paulo Lourenço em tom de conclusão.

Durante uma manhã de partilha entre profissionais, técnicos e indústria, foram ainda abordadas algumas das principais preocupações de produtores, este ano representados por João Roseiro, da Portugal NUTS, Associação de Produtores de Frutos Secos, que aproveitou o momento para reforçar que o mais importante é «coordenar esforços entre a academia, o setor produtivo e a industria fitofarmacêutica, no sentido de identificar soluções ainda mais eficientes para o combate às pragas e doenças, que afetam não só a cultura dos pomares de frutos secos, mas também muitas outras cujas perdas representam enormes prejuízos. É prioritário definir processos sustentáveis e eficazes de proteção das plantas, consciencializar as entidades públicas para a necessidade de disponibilizar aos produtores nacionais meios de proteção de culturas através da homologação de substâncias ativas e ainda formar tecnicamente e consciencializar todos os profissionais do setor para aquilo que são as boas práticas», uma mensagem que a ANIPLA, subscreve inteiramente. 

Ricardo Braga, Professor do Instituto Superior de Agronomia, e especialista na utilização de novas tecnologias na atividade agrícola, falou sobre Técnicas de Agricultura de Precisão para uma proteção de culturas mais eficiente e realçou a importância da Agricultura de precisão e da digitalização na utilização de produtos fitofarmacêuticos, que na opinião do Professor Ricardo Braga «ajudará a resolver um vasto e problemático conjunto de situações num futuro próximo. Não sendo a única solução, a agricultura de precisão é uma estratégia de gestão que combina uma série de variáveis e ajuda a melhorar a eficiência dos recursos, a aumentar a produtividade, rentabilidade e sustentabilidade da produção agropecuária». No que respeita à sua utilização, disse ainda: «As organizações de produtores têm um importante papel em disponibilizar estas tecnologias aos seus produtores. Para a sua utilização, é fundamental cuidar da capacitação técnica de técnicos e agricultores na utilização deste tipo de ferramentas».

Ana Bárbara Oliveira, Directora de Serviços de Meios de Defesa Sanitária da DGAV, reforçou, na sua comunicação, que «há ainda um trabalho muito importante a fazer na aprovação de substâncias ativas em Portugal: até maio de 2021 temos aprovadas 464 substâncias face a 908 não aprovadas, o que reflete algumas das medidas sugeridas na estratégia Do Prado ao Prato e para as quais a discussão e o debate são ainda essenciais», conclui. Sendo também responsável pelo encerramento da quarta edição das Jornadas, realçou que «estamos a viver uma mudança de paradigma iminente, que nos volta a todos, novamente, de frente, para o crucial papel da ciência e que, no fundo, é a base de uma linha condutora que nos guia em toda esta jornada: a mudança. Aquilo que conhecemos como agricultura convencional está a mudar e dentro de pouco tempo é um termo que cairá em desuso, porque caminhamos a passos cada vez mais largos para aquilo que é um modelo de agricultura holístico, que responde a desafios crescentes e constantes. A sabedoria e o sucesso deste caminho serão tanto maiores quanto mais formos capazes de integrar num mesmo sistema a ciência, a tecnologia, o apoio financeiro e todas as ferramentas que temos à nossa disposição, ao serviço de uma realidade agrícola mais competente, sustentável e suficiente».

 

REVEJA AQUI A 4ª SESSÃO DAS JORNADAS

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