Suinicultores regressaram aos protestos

Algumas dezenas de suinicultores concentraram-se este domingo (31 de janeiro) em Santarém numa ação de protesto sobre a forma como o Pingo Doce continua a fazer a rotulagem da carne de porco, mas a cadeia de supermercados assegurou que «cumpre integralmente a lei».

carne

João Correia, porta-voz do «gabinete de crise» criado no início de dezembro de 2015 para sensibilizar a opinião pública para a deficiente rotulagem e para apelar ao consumo da carne de porco nacional, acusou a cadeia Pingo Doce de «continuar a fazer uma interpretação muito própria da lei», ao insistir em não cumprir o estipulado na legislação nacional desde abril de 2015.

Os suinicultores começaram por se concentrar ao final da tarde junto à praça de touros de Santarém, onde, hora e meia depois, fizeram um «miniplenário» após terem detetado uma «operação de cosmética» que consistiu na colocação de autocolantes com a bandeira nacional nas embalagens de carne de porco nas lojas existentes na zona, disse João Correia.

«Isso não me serve, pois continuo sem saber se a carne é portuguesa [...]. Se houver um problema de saúde pública, como é que se chega à origem daquela carne? O Pingo Doce não dá confiança ao consumidor final nesse aspeto», declarou, já à porta de um dos hipermercados do grupo em Santarém, exibindo cuvetes compradas num estabelecimento em Leiria.

Acusando o grupo Pingo Doce de, ao ter tido conhecimento da ação de hoje, ter realizado uma «ação de charme ou de cosmética», colocando «pó de arroz» em «95% das cuvetes» - uma delas «de entrecosto espanhol» -, João Correia reafirmou que o que os suinicultores querem é que a carne «esteja devidamente identificada» e que a Autoridade para a Segurança Alimentar e Económica (ASAE) faça o seu trabalho «como deve ser».

Em comunicado, o Pingo Doce afirma que «cumpre integralmente a lei em vigor, nesta e em todas as matérias de rotulagem, quer estas se refiram a carne quer a outros produtos».

O grupo indica que na carne que é embalada na própria loja pelos profissionais de talho «a presença do país de origem entre os elementos de informação do rótulo não é legalmente exigível», mas que «toda a informação relativa à criação, abate e desmancha dos animais existe» nas lojas e pode ser solicitada pelos consumidores.

O porta-voz dos suinicultores refutou ainda declarações do fundador do grupo Jerónimo Martins, que detém o Pingo Doce, Alexandre Soares dos Santos, segundo as quais a produção nacional não tem capacidade para satisfazer as necessidades do grupo.

João Correia afirmou que os suinicultores portugueses produzem 65.000 porcos para abater por semana e que o Pingo Doce consome 12.500 por semana, dos quais só 3.500 são nacionais, acusando o grupo de olhar a produção nacional «com altivez» e como se fosse «dono disto tudo».

Em comunicado, o Pingo Doce afirma que compra, «semanalmente e em média, o equivalente a cerca de 12.000 porcos à indústria nacional» (já que não possui uma central de desmancha de carne e não negoceia diretamente com a produção), e que, «adicionalmente, importa partes que a indústria nacional não consegue garantir em quantidade suficiente para abastecer as 400 lojas» da cadeia.

«Claramente temos capacidade para garantir [as necessidades do grupo], não podemos é entregar ao preço que o Pingo Doce quer», disse João Correia, lendo um email de 2008 da direção de compras do grupo, alegadamente a impor aos industriais o preço pago à produção.

Os suinicultores voltam a reunir-se em plenário na próxima quarta-feira (3 de fevereiro), em Leiria, «para discutir o que tem sido feito» desde que iniciaram, em dezembro, esta «guerra pacífica" e qual o "caminho a seguir», disse.

Fonte: Lusa

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