Salários agrícolas disparam no Algarve e Lisboa

Foram os rendimentos que mais cresceram em 2018, mas fora da estatística fica a imigração no trabalho sazonal.

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Casado, com filhos, professor do ensino secundário no Nepal, Kamal deixou tudo por um trabalho na agricultura em Portugal.

Uma agência de recrutamento foi buscá-lo ao seu país. Passou alguns meses na Polónia, a trabalhar num aviário. E apanhou, de lá, um autocarro com destino às estufas de frutos vermelhos que abundam hoje no sul português. Kamal, nome fictício, veio para ganhar o salário mínimo – e reparti-lo com recrutadores, deixando ainda parte para as refeições e para pagar a cama da camarata onde dormia. No fim, sobrará metade.

A agricultura portuguesa continua a atrair, sazonalmente, imigrantes do Nepal, do Bangladesh, e também muitos do Leste europeu como Ucrânia ou Bulgária.

São números que ficam fora das estatísticas do INE sobre o rendimento dos trabalhadores por conta de outrem na agricultura.

Os últimos dados, conhecidos este mês, mostram que os salários agrícolas foram os que mais cresceram no ano passado entre todos os setores de atividade. Subiram 9,5%. Na região de Lisboa, o salário médio agrícola ultrapassou pela primeira vez os mil euros, aumentando 43%; no Algarve cresceu 27% e no Norte aumentou 10%.

A história do rendimento do trabalho agrícola cresceu, nos anos recentes, em dois campos sem simetria.

O lado mais soalheiro, o que vê estes rendimentos entre os que mais crescem, é explicado pela Confederação dos Agricultores Portugueses (CAP), que vê convergir um aumento da produtividade e a escassez de mão-de-obra, bem como a subida do salário mínimo, que este ano ficará nos 600 euros.

A CAP destaca que «o setor está a ganhar escala, muito pela dinâmica das exportações, nomeadamente do setor das frutas, pequenos frutos e legumes – por exemplo na região Oeste e Lisboa -, assim como pelo grande impulso originado pela nova realidade na região do Alqueva», segundo explica o presidente, Eduardo Oliveira e Sousa.

E com o aumento de escala, também puxar pelas qualificações dos trabalhadores, colhem os salários, defende. «Todos estes fatores contribuem, necessariamente, para esta subida dos vencimentos médios dos nossos trabalhadores«.

De fora, admite a CAP, fica a realidade do trabalho sazonal. Com uma população de trabalhadores agrícola cada vez menor – pouco mais de 120 mil em 2011- o setor insiste na necessidade de recrutar fora.

«Quanto à mão de obra sazonal, a questão é mais preocupante e apenas resolúvel através da imigração de trabalhadores de países terceiros», diz a organização. 

Fonte: Dinheiro Vivo

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