Produção de carne de porco alentejano

O Porco Alentejano (Sus ibericus) é uma raça autóctone portuguesa, sendo a única espécie suinícola autóctone que tem como habitat o montado alentejano no qual são produzidos em regime extensivo, aproveitando e valorizando o sistema agro-silvo-pastoril que utilizam como habitat, alimentando- se de ervas dos pousios, restolhos dos cereais e os frutos com origem nos montados de azinheira e sobreiro bem como os pastos aí existentes.

Porco alentejano

Por: João Cordeiro, Pedro Camacho, Madalena Vieira-Pinto e António Silva

Esta raça que foi sendo melhorada ao longo dos tempos pela sua aptidão adipógénica (Nunes, 1993), tendo a capacidade de acumular e infiltrar gordura entre as massas musculares e no interior do músculo, qualidade tão desejada por conferir características organoléticas e apresentações únicas aos produtos transformados, como os conhecidos presuntos de Barrancos DOP, enchidos e carne de Porco Alentejano (Bento, 2009).

A seleção e melhoramento desta raça baseia-se também na capacidade em conseguir converter de forma e!ciente os frutos do montado, como a bolota e a lande, em carne (Ferreira, 2008) bem como pela sua rusticidade e adaptação ao meio ambiente onde se encontra, sendo este um elemento chave na manutenção e preservação do ecossistema do montado (Carbó e Andrada, 2001).

O Porco Alentejano é um animal de elevada rusticidade, com temperamento vivo, com esqueleto aligeirado de tamanho médio a pequeno. Caracteriza-se por apresentar uma pele de cor preta e com cerdas raras e !nas podendo variar entre cor preta aloirada ou ruiva. A sua cabeça é comprida e fina com o ângulo frontonasal acentuado e com o pescoço musculado de comprimento médio. É caracterizado por apresentar um tronco roliço, com espádua bem desenvolvida e região do ventre descaída. Os membros são de comprimento médio, delgados e bem aprumados terminando em pés pequenos e unhas rijas (Ferreira, 2008).

Relativamente aos aspetos reprodutivos, são porcos caracterizados por terem uma idade reprodutiva precoce apesar do seu crescimento lento. São pouco prolí!cos (cerca de seis leitões por ninhada) e com capacidade média de aleitamento (Nunes, 1993).

Variedades

Dentro do Porco Alentejano existem quatro variedades distintas entre si: a Lampinha, a Caldeira, a Ervideira e a Mamilado. A variedade Lampinha pode ir da cor negra a cinzento com ausência total de cerdas, as suas orelhas costumam ser maiores e caídas, caracterizam-se por terem um desenvolvimento corporal mais reduzido relativamente às outras variedades.

A variedade Ervideira tem como principal característica diferenciadora a presença de múltiplas zonas de despigmentação nas unhas, já a variedade Caldeira tem ausência total de despigmentação e possui sempre uma cor avermelhada (Carbó, 2001).

A variedade de Porco Alentejano Mamilado caracteriza-se pela cor preta ou ruiva, com cerdas !nas e escassas em toda a superfície, com uma papada pouco pronunciada, a qual é caracterizada pela existência de mamilos uni ou bilaterais (Oliveira e Nobre, 2010).

Origem e História

Atualmente considera-se a existência de três troncos principais de suínos, o tronco Céltico onde se incluem os porcos do Norte da Europa, Norte de Portugal e Norte de Espanha, o tronco Asiático, e o tronco Ibérico, que se desenvolveu nos territórios meridionais e deu origem ao Porco Alentejano (Nunes, 1993).

As raças pertencentes ao tronco Ibérico tiveram origem inicialmente no Sus mediterraneus que invadiu Espanha no sentido ascendente, desde a periferia do litoral mediterrâneo até ao centro, onde posteriormente se instalou (Carbó e Andrada, 2001).

As espécies de suínos com origem no tronco Ibérico representavam até à década de sessenta, tanto em Portugal como em Espanha, cerca de 50% do efetivo de suínos da Península Ibérica (Nunes, 1993). No início da década de sessenta veri!cou-se uma grande diminuição do efetivo de suínos de raça Alentejana, devido ao abandono progressivo do montado como consequência da evolução da produção do sistema intensivo do “porco de carne” (Freitas, 1998).

Foram também responsáveis pelo decrescer do setor do Porco Alentejano a migração das populações do interior para o litoral, a mudança dos hábitos alimentares, a destruição de grandes áreas de montado devido à intensificação da produção de cereais que se veri!cou no início da década de sessenta, assim como o aparecimento da Peste Suína Africana (Nunes, 1993).

No início dos anos noventa, com o surgimento da integração das componentes agrícolas, ambientais e rurais nos sistemas de produção e com o incentivo à produção de produtos locais e de qualidade elevada, despoletou-se, novamente, o interesse na suinicultura extensiva e na produção de Porco Alentejano (Freitas, 1998).

Atualmente com a reorganização da fileira do Porco Alentejano, realizada por vários agentes, organizados em associações de produtores, como a ACPA (Associação Criadores de Porco Alentejano) e a ANCPA (Associação Nacional de Criadores de Porco Alentejano), tem-se assistido a um incremento da produção de animais de raça pura e o seu registo no Livro Genealógico Português de Suínos-Secção Raça Alentejana.

Estas associações não se responsabilizaram apenas pela defesa e proteção da raça, mas também se dedicaram à proteção da origem das carnes e produtos tradicionais transformados, por via da certificação, sendo reconhecida pela União Europeia desde 1992, existindo já 27 produtos diferentes e cerca de 200 empresas fornecedoras (Rodrigues, 2008).

Continua

Nota: Artigo publicado originalmente na Agrotec 18

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