Presença de potenciais vetores de Xylella Fastidiosa em vinhas portuguesas

No nosso país, a vitivinicultura é uma atividade de grande importância económica, sendo a videira cultivada praticamente em todo o território nacional. Esta planta pode ser atacada por várias pragas e doenças que contribuem para a redução quantitativa e qualitativa da produção e que, em determinadas condições, exigem a aplicação de medidas de protecção.

Xylella Fastidiosa

Por: Isabel Rodrigues, Paula Baptista e José Alberto Pereira

Com a deteção de Xylella fastidiosa na Europa, bactéria fitopatogénica que vive no xilema das plantas incluindo da videira (EFSA, 2013) onde origina a doença de Pierce, os vitivinicultores têm um possível motivo de preocupação. Esta doença é caracterizada por causar a murchidão e senescência precoce das folhas das videiras podendo levar a posterior morte da planta (Thorne et al., 2006). 

Na Califórnia, onde foi descrita pela primeira vez, causa anualmente perdas económicas no setor vitivinícola que rondam os 92 milhões de Euros (Tumber et al., 2014). Na Europa a bactéria foi detetada pela primeira vez em 2013, na região da Apúlia (sul da Itália), onde tem ocasionado importantes prejuízos em oliveira. Posteriormente foi identificada noutros países europeus entre os quais França, e Espanha (Confagri, 2019) e, mais recentemente, em Portugal, onde a sua presença foi confirmada em janeiro de 2019 (Landa et al., 2017).

Reconhecendo a importância da problemática que a X. fastidiosa pode representar para diferentes espécies de plantas com interesse agrícola, e com o objetivo de estudar a bactéria, a sua transmissão, biologia, impacto e formas de proteção, encontra-se a decorrer um projeto europeu desde outubro de 2016, financiado no âmbito do programa H2020 da União Europeia, designado H2020-SFS-2016-3. XF-ACTORS – Xylella fastidiosa Active Containment Through a Multidisciplinary- oriented Research Strategy”. Neste projeto faz parte um consórcio de 29 parceiros de vários países, liderado pela Dra. Maria Saponari, do CNR-Bari (Itália), sendo o Instituto Politécnico de Bragança a instituição parceira nacional.

A principal via de dispersão de X. fastidiosa a longas distâncias é a comercialização e deslocação de material vegetal infetado e potencialmente assintomático (Denancé et al., 2017) pelo que devem ser tidos todos os cuidados na circulação de material vegetal. Em curtas distâncias, a bactéria é transmitida por insetos picadores sugadores da ordem Hemiptera, infraordem Cicadomorpha, que se alimentam exclusivamente do xilema das plantas (EFSA, 2013). Estes insetos, ao alimentarem-se de uma planta infectada, adquirem a bactéria e transmitem-na para plantas não infetadas durante o seu processo alimentar. Os principais grupos transmissores são insetos das família Cicadellidae (subfamília Cicadellinae) e superfamília Cercopoidea (famílias Aphrophoridae, Cercopidae e Clastopteridae).

Na Europa, estão confirmados como insetos vetores Philaenus spumarius L., Philaenus italosignus (Drosopoulos & Remane) e Neophilaenus campestris (Fallén) (Aphrophoridae) (Elbeaino et al., 2014). O conhecimento dos potenciais vetores da bactéria nas diferentes regiões e culturas é visto como um primeiro passo para a implementação de medidas de protecção contra a bactéria.

Em Portugal, o conhecimento sobre a diversidade destes potenciais vetores assim como o seu ciclo é reduzido. Assim, desde 2017 a equipa do projeto tem vindo a estudar a presença e diversidade de potenciais vetores de X. fastidiosa em vinhas portuguesas. Até ao momento foram estudadas um total de 21 vinhas de diferentes regiões vitícolas nomeadamente, da região de Trás-os-Montes, Vinhos Verdes, Bairrada e Península de Setúbal.

No total das amostragens efetuadas foram capturados 3685 indivíduos pertencentes à infraordem Cicadomorpha, sendo a região de Trás-os-Montes a que apresentou o maior número de indivíduos, seguindo-se a região vitivinícola da Bairrada. Os indivíduos desta infraordem pertenciam a três famílias, a Cicadellidae, Aphrophoridae e a Membracidae. A família Cicadellidae foi a mais abundante em todas as regiões destacando-se a espécie Cicadella viridis, que foi registada na região vitivinícola da Bairrada e na região dos Vinhos Verdes. Relativamente à família Aphrophoridae, cujas espécies Philaenus spumarius Neophilaenus campestris são considerados dos vetores mais eficientes na transmissão da bactéria na Europa (EFSA, 2013), foram registados em todas as regiões em estudo, embora que em valores relativamente baixos.

Dentro da infraordem Cicadomorpha ainda foi registado um indivíduo da família Membracidae, na região demarcada da Bairrada. Atualmente não há conhecimento se os insetos pertencentes a esta família possuem capacidade transmissora de X. fastidiosa, mas dado que se alimentam do xilema, são apontados como potenciais vetores da bactéria.

O nosso país possui condições edafo- climáticas que favorecem a presença de potenciais vetores de X. fastidiosa. O conhecimento da bioecologia dos insetos vetores, quando ocorrem, onde ocorrem e quais são os factores que os afetam, são aspetos que têm de ser estudados para desta forma melhorar a gestão das suas populações e assim minimizar a disseminação de X. fastidiosa. O combate a este agente fitopatogénico pode passar por medidas de natureza preventiva, atuando sobre o vetor.

Agradecimentos

Projeto H2020-SFS-2016-3. RIA, contrato 727987 “XF-ACTORS Xylella fastidiosa Active Containment Through a Multidisciplinary-oriented Research Strategy”.

Nota: Artigo publicado originalmente na Agrotec 32

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