Plástico para mulch que o solo regenera

Silvex - Agrobiofilm

Agrobiofilm® - Empresa portuguesa Silvex lidera projeto de investigação
Plástico para mulch que o solo regenera

Organizações de produtores podem reduzir custos com uma solução amiga do ambiente, desenvolvida num consórcio liderado por uma empresa portuguesa.

Cumpridos 3 anos de investigação e ensaios de campo do Agrobiofilm®, os resultados são “bastante positivos” e “francamente animadores”. Quem o garante é o coordenador científico do projeto, Carlos Rodrigues, da Silvex, a empresa portuguesa que coordena a nível europeu o desenvolvimento deste plástico para mulch cuja grande novidade é ser inteiramente biodegradável e compostável no solo.

“Conseguimos um produto que cumpre as mesmas funções que o plástico em polietileno, em que os agricultores usam as mesmas alfaias, sem quaisquer quebras de produção e de qualidade a nível da cultura”, explica Carlos Rodrigues à Agrotec. O objetivo do Agrobiofilm® é precisamente assumir-se como uma alternativa viável para substituir o uso agrícola de plásticos feitos à base de produtos petrolíferos.

Sendo biodegradável, o agricultor só tem que o enterrar na terra após cada ciclo de cultura e deixar os microorganismos do solo fazer o resto. Além de ser uma solução amiga do ambiente, elimina ainda os custos que os produtores são obrigados a suportar para remover dos campos o polietileno e o respetivo transporte para aterro ou centros de valorização de resíduos.

À atenção das Organizações de Produtores e agricultores biológicos

O Agrobiofilm® é uma solução com vantagens óbvias junto das Organizações de Produtores (OP’s) e na agricultura biológica. No primeiro caso, os agricultores podem beneficiar da medida “7.6 - utilização de plásticos biodegradáveis” e obter uma comparticipação de 52,2% na utilização deste tipo de mulch, desde que estejam enquadrados numa OP com esta norma programada. Ou seja, podem obter uma redução direta ainda mais significativa nos custos de produção com o uso do Agrobiofilm®.

Mesmo tendo um preço por quilo superior ao do plástico convencional, o Agrobiofilm® poderá sair mais barato em termos de custo por hectare. O produto da Silvex “pode ser economicamente mais vantajoso, desde que todos os custos sejam tomados em consideração”, explica Carlos Rodrigues. Além de eliminar os custos da retirada do plástico dos terrenos agrícolas, que rondam, em média, os 250 euros por hectare (podendo ir de 150 a 400€), o Agrobiofilm® usa também menos quantidade em termos de espessura do plástico. Ou seja, segundo o mesmo responsável, com os mesmos quilos, os agricultores cobrem uma área maior, em comparação com o polietileno.

A Silvex presta todo o aconselhamento técnico aos produtores que queiram usar o Agrobiofilm®, tendo em conta o tipo de cultura, a extensão dos campos de cultivo e as características do solo onde desenvolvem a sua atividade.

No que respeita à agricultura biológica, o uso do polietileno tem vindo a ser tolerado para controlar as infestantes sem recurso a herbicidas porque não havia no mercado uma alternativa. Feito de uma matéria-prima à base de milho e óleos vegetais livres de organismos geneticamente modificados, a Mater-Bi®, o Agrobiofilm® poderá impor-se como a solução para os agricultores que queiram definitivamente produzir sem recurso a produtos de fontes de energia não renováveis.

Ensaios de campo produzem resultados “francamente animadores”

Nestes três anos de investigação, o Agrobiofilm® tem vindo a ser testado e otimizado em quatro culturas tipo, escolhidas com base no seu porte e no seu ciclo: o morango (em Portugal e Espanha), o melão, o pimento (em Portugal) e a vinha (em Portugal e França). Os resultados indicam que a produtividade obtida com o mulch film biodegradável foi igual ou superior nos casos do melão, do pimento e do morango, quando comparada com o plástico de polietileno.

A qualidade dos frutos não apresentou diferenças significativas em todas as culturas hortícolas testadas, sendo que, no caso da vinha, verificou-se um aumento assinalável do vigor e da expressão vegetativa das videiras.

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Quando se comparam os resultados entre as vinhas onde foi utilizado o Agrobiofilm® e as vinhas plantadas em solo nu, verificou-se ainda que o plástico biodegradável permite a realização da primeira vindima comercial no ano seguinte ao da plantação (com rendimentos à 2ª folha entre 9,0 a 17,8 t/ha), e que o sistema radicular das videiras têm mais raízes, mais profundas e com maior massa do que as plantadas sem recurso a plástico ou com polietileno.

“Todos os ensaios foram realizados de forma independente pelas Universidades, em ambiente real e seguindo as práticas normais dos agricultores, com todos os benefícios e dificuldades que isso acarreta para a investigação científica”, explica Carlos Rodrigues. “Mas fomos nós que escolhemos este método de trabalho, porque os resultados dos ensaios feitos em pequena escala, no campus de uma universidade nem sempre têm as mesmas implicações reais”, salienta o responsável.

Só para o melão, foram testados cinco tipos de plástico Agrobiofilm® diferentes. Em Portugal, no morango, foram testados quatro soluções diferentes e 24 em Espanha, a que se juntam ainda outros nove na cultura do pimento. “Estamos a desenvolver a formulação que melhor se adapta não só a cada tipo de cultura e ao seu ciclo de produção, mas também ao solo e às condições meteorológicas específicas de cada região”, afirma Carlos Rodrigues, para quem é perfeitamente normal “ter chegado a uma solução final para o morango em Portugal que não é necessariamente igual àquela que será aplicada para o morango em Espanha, por exemplo”.

“Estes três anos de ensaios já nos permitem ter soluções comerciais para todas as culturas testadas, mas o trabalho de investigação não vai parar”, diz Carlos Rodrigues, sublinhando que “o Agrobiofilm® pode ser adaptado a qualquer tipo de cultura”. A Universidade Dinamarquesa, com base nos resultados obtidos, extrapolou as soluções encontradas para outras culturas, tais como brássicas em geral, courgette, beringela, tomate, milho doce, espargos, frutos vermelhos, kiwi e fruteiras em geral. Para confirmar esses resultados estão a decorrer este ano em Portugal ensaios com physalis peruviana e pereiras.

Os resultados certificam ainda que o Agrobiofilm® cumpre duas normas obrigatórias importantes, no que se refere aos prazos de degradação no solo. Em ambiente de compostagem, a sua matéria prima cumpre a Norma Europeia EN13432, que exige que 90% do produto esteja compostado em seis meses. Fora do ambiente de compostagem, em condições reais, em solos com baixa percentagem de matéria orgânica, e à falta de legislação europeia, cumpre a norma francesa NFU-52001, que exige que 60% esteja biodegradado no prazo de dois anos.

Segundo Carlos Rodrigues, os resultados obtidos pela Universidade de Montpellier II mostram que o Agrobiofilm® utilizado na vinha atinge estes 60% em apenas 480 dias e os 70% em 600 dias. Os resultados obtidos pelo Intituto Superior de Agronomia, em solos de culturas hortícolas, são ainda mais positivos.

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Um percurso de sucesso assente em parcerias

O projeto Agrobiofilm arrancou oficialmente em abril de 2010, depois de ter concorrido ao 7º Programa Quadro da União Europeia e de ter sido aprovado com 14 pontos em 15 possíveis. A primeira fase de desenvolvimento, que se concluiu em maio de 2013, envolveu um consórcio formado por três PME’s: a Silvex, coordenadora do projeto e líder em Portugal no mercado da conservação e embalagem alimentar, a norueguesa Biobag, líder mundial no fabrico de plásticos 100% biodegradáveis, e a francesa ICS Environnement, que se dedica em exclusivo à comercialização de plásticos totalmente compostáveis.

A nível da investigação científica, associaram-se o Instituto Superior de Agrononia (ISA), a Faculdade de Ciências Agrícolas de Aarhus, na Dinamarca, a Universidade de Montpellier II, em França, e o Centro Tecnológico de la Agroindustria (ADESVA), em Espanha. Os ensaios de campo envolveram ainda outros parceiros e empresas do ramo agro-alimentar, como a MONLIZ.

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