Opinião: Pesticidas vendidos para a agricultura

Artigo de opinião da autoria do professor Daniel Graça sobre a problemática da utilização de pesticidas na agricultura.

Pesticidas

Há sessenta anos atrás faziam-se caçadas de dezenas de passarinhos que eram o pretexto para um convívio de amigos, havia passarinhos em grande quantidade, hoje não acontecem essas caçadas nem há passarinhos como havia antigamente.

As autoridades têm a incumbência, e bem, de reprimir a caça de passarinhos pela população. Alguns dizem que não existem passarinhos porque foram muito caçados, nada mais errado. A diminuição drástica de aves de pequeno porte deve-se a duas ordens de razões. Por um lado, já não se cultivam tantos cereais, no Algarve ninguém semeia trigo que outrora era abundante, pelo que as aves não têm o que comer e não se reproduzem, para além disso espalha-se herbicidas que impedem de haver sementes para os pássaros comerem; por outro lado assiste-se à desinfeção sistemática dos pomares onde as pequenas aves constroem os ninhos, matando toda a criação que possa existir, quando não existe criação os adultos rejeitam o ninho com ou sem ovos. Creio que toda a gente conhece as máquinas que produzem uma enorme nuvem de desinfeção e outras que, com agulhetas, injetam desinfeção que atravessa as árvores não dando hipótese de sobrevivência às aves.

Nos pomares para rendimento não existem ervas nascidas, isso não é natural, essas terras já estão esterilizadas.

O mal das desinfeções não se fica pelas aves, os pesticidas entram pelas folhas, pela raiz e pelos frutos, estes têm como destino final a nossa alimentação, não é por acaso que existem cada vez mais casos de cancro e de doenças raras nas crianças.

A quantidade de produtos tóxicos vendidos em Portugal é enorme. 

Os valores globais são impressionantes, em 2016 foram vendidas 8184 toneladas, apesar de ter diminuído em 2017 e 2018, em 2019 o valor atingiu as 8821 toneladas! Isto é o produto concentrado, o qual é diluído em água.

É bom que reprimam a caça de passarinhos, mas nos passarões deste negócio ninguém toca. Não me refiro aos pequenos retalhistas, refiro-me às grandes multinacionais como a Bayer, produzem o que querem e têm o poder de “influenciar” os governos no sentido de não proibirem os seus produtos.

Os agricultores precisam ter rendimentos para sobreviverem, uma forma fácil e ‘barata’ é utilizarem os pesticidas. É uma das contradições entre o interesse individual e o interesse coletivo.

Por exemplo, o glifosato, produzido pela Monsanto, já foi proibido nos EUA e em muitos países europeus, mas em Portugal foi autorizada a sua comercialização por mais cinco anos.

Os lençóis freáticos já estão contaminados, não é seguro bebermos a água dos poços como antigamente. Afinal do que estão as entidades competentes à espera para proibirem uma série de produtos tóxicos para todos os seres vivos? O Estado – todos nós – gasta muitas centenas de milhões de euros a curar as doenças provocadas pelos pesticidas, sem contar com as mortes de milhares de pessoas de todas as idades.

Este é um problema demasiado importante para ser ‘esquecido’, creio que as estruturas partidárias devem colocar este assunto nas suas agendas para que diminua o mal que andamos a fazer à natureza e a nós próprios, deixemos os passarinhos em paz.

DANIEL GRAÇA
Licenciado em Economia pelo ISEG – Lisboa
Mestre em Educação de Adultos e Desenvolvimento Comunitário, pela U. Sevilha
Professor aposentado

Fonte: Postal do Algarve 

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