Escolha de fontes forrageiras alternativas destinadas ao consumo equino: leguminosas (Parte II / II)

Escolha de fontes forrageiras alternativas destinadas ao consumo equino: leguminosas (Parte II / II)

Por: Dr. Vinicius Pimentel Silva, Professor de Nutrição Animal – Especialista em Nutrição Equina, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro - Brasil,

Este artigo informativo é a continuação de uma discussão iniciada na edição n.° 2 da AGROTEC, de forma que, a fim de obterem as informações de forma integral, consultem a primeira parte da reportagem. Nesta ocasião, será dada continuidade aos aspectos vegetativos e de produção das leguminosas forrageiras, bem como aos resultados de aplicação na alimentação dos equinos.

Estilosantes (Stylosanthes guianensis cv. Mineirão)

Origem: Brasil, Minas Gerais.
Aspectos Vegetativos: É uma planta perene, com ramos finos, pilosos em toda a sua extensão, flexíveis e prostrados (cai sobre si), pode formar touceiras de 1,5 m.
Semente: 264000 – 35200/Kg.
Clima e Solo: Necessita de índices pluviométricos acima de 900 mm/ano. Indicado para solos de cerrado, em função da adaptação natural a baixa fertilidade, acidez elevada, baixa capacidade de troca catiónica e altos níveis de alumínio, sendo uma boa opção de fonte proteica no momento que ocorre o declínio de produção de matéria seca e na qualidade das gramíneas.
Propagação e plantio: Estabelece-se por sementes, necessita de ser inoculada por rizobium específico para obter maiores produções.
Rendimento: Capaz de atingir no corte 30 t de Matéria Verde/ha/ano.
Utilização: Pastejo (consorciado) e fenação. Precisa ser picado para uniformizar o processo de desidratação.
Resistência a Pragas, geada, seca: Boa resistência à seca. Susceptível a Antracnose.

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O estilosantes é uma das leguminosas tropicais que apresenta melhor degradação da proteína bruta, e com teor de fibra de potencial fermentativo para a espécie equina. Outros estudos identificaram altos teores do aminoácido lisina e metionina, com 6,3 e 10,4 g/100 g de aminoácidos, respectivamente, que, de acordo com a literatura específica de nutrição, são substâncias de origem proteica mais importante na dieta de potros em crescimento. Contudo, estudos recentes com o fornecimento estilosantes Mineirão, descreveram que o consumo desta planta, na forma de feno, por potras desmamadas não foi satisfatória, e sugeriram que factores associados à apreciação (palatabilidade) foram responsáveis pela redução do consumo. Também, faltam informações de consumo do Mineirão na forma de pasto, isto é, verde no campo. (Fig. 1)

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Estilosantes Campo Grande (Stylosanthes macrocephala e Stylosanthes capitata)

É na verdade um produto comercial, uma mistura física de sementes: 20% Stylosanthes macrocephala e 80% de Stylosanthes capitata. A associação destas duas plantas proporcionam características favoráveis.

Aspectos Vegetativos: São plantas perenes de crescimento erecto, atingem 1 m de altura e na base são lenhosas.
Semente: São espécies que produzem muita semente por hectare, persistindo no solo e espalhando com facilidade.
Clima e Solo: Desenvolve-se nas zonas tropicais semi-áridas e subtropicais. É encontrada até altitudes de 1000 m, em habitat de savanas ou de bosques abertos. Cresce bem em solos arenosos, de baixa fertilidade do cerrado, que são tipicamente ácidos (pH 4,5). Necessita de precipitação mínima de 500 mm até mais de 1500 mm.
Propagação e plantio: Plantio realizado por semente. Necessita de inoculação com rizobium específico e alguns cultivares são resistentes à antracnose (Skerman et al. 1991).
Utilização: Pastejo (consorciado) e fenação.

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A fim de comprovar o consumo do estilosantes pelos equinos, foi realizado um estudo, onde se confeccionou o feno de estilosantes Campo Grande e o de Mineirão, sendo que somente o feno de alfafa foi comprado comercialmente.

O estudo foi realizado na Fazenda Santa Helena – Haras Catuni, situada no município de Montes Claros/MG, a 784 metros de altitude. A região apresenta o período de estiagem das chuvas bem definido, com índices de precipitação de 1100 mm/ano, concentrados em 4 meses.

As potras da Raça Mangalarga Marchador foram desmamadas aos seis meses e, logo de seguida, receberam uma dieta baseada em 60% de volumoso (feno) e 40% de concentrado. De modo que, o volumoso ofertado foi exclusivamente de uma das três leguminosas. Os valores de consumo e ganho de peso de potras por um período de 25 dias podem ser observados na tabela 3.

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A digestibilidade dos nutrientes das dietas contendo o feno de alfafa e de Estilosantes Campo Grande foram muito parecidas, sendo um bom indicativo (Dados não descritos). Muito embora, o teor proteico do Campo Grande seja menor do que a alfafa, ainda assim o Campo Grande apresenta características muito promissoras. Devido às condições ambientais de seca, que reduz drasticamente a disponibilidade e a qualidade das gramíneas, o estilosantes mantém o seu crescimento, por apresentar raízes profundas. De forma que, torna-se uma possibilidade para utilização em regiões que apresentam dadas condições climáticas. Além disso, quando comparado com o nosso controle, a alfafa, o consumo do Campo Grande foi semelhante. O mesmo não ocorreu para o feno de Mineirão, pois questões ligadas à aceitação reduziram o seu consumo e, consequentemente, reduziu o ganho de peso das potras. Envolvendo agora a parte económica no raciocínio, se a leguminosa que é consumida disponibiliza proteína no período mais crítico e para a categoria de maior exigência, estaremos a economizar na compra de concentrados proteicos.

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Passos para a confecção do feno de estilosantes:

  1. O corte das leguminosas visando à produção do feno deve ser feito antes da floração, com idade aproximada de 100 dias de crescimento.
  2. O corte na altura de 20 cm do solo.
  3. O estilosantes apresenta uma estrutura na base da folha que a desprende quando inicia o processo de desidratação, de forma que é preciso removê-la do campo. De outra forma, será necessária uma superfície limpa no campo, a qual o material colhido possa ser desidratado sobre ela. Esse problema é mais acentuado na confecção do feno de Campo Grande.
  4. Para uniformizar o processo de desidratação das folhas e caule, o material colhido deve ser picado.
  5. O material deverá ser posto sobre o terreiro para secar ao sol, em finas camadas. Revirar o material.
  6. Nas condições da propriedade foram necessárias 6 a 8 horas de exposição ao sol.
  7. O ponto de feno pode ser facilmente observado: utilize um frasco de vidro com uma quantidade de sal, coloque uma amostra do material que se deseja saber o ponto. Agite bastante, depois observe se o sal estiver solto sem aderir nas partículas, o ponto de feno foi atingido.

Feijão Guandu (Cajanus cajan)

Aspectos Vegetativos: O feijão guandu é uma leguminosa da família Fabaceae de cultura perene, de clima tropical, cultivado na Ásia, África e América do Sul. É uma planta arbustiva de 2 a 3 m de altura, de folhas geralmente pequenas e trifoliadas.
Clima e Solo: Vegeta muito bem em solos de baixa fertilidade, necessitando de precipitações acima de 760 mm/ano.
Propagação e plantio: A propagação é realizada por sementes, de 20 a 30 Kg/ha. Utilizam-se 3 a 4 sementes/cova, com espaçamento de 0,20 entre covas e 0,5 entre linhas.
Utilização: Pode ser utilizada verde ou na forma de feno, para o melhor aproveitamento deve ser cortada a 10 cm do solo, quando as plantas estiverem na altura de 0.5 ­­- 0.6 m e a idade de corte deve ser realizada entre 75 a 90 dias, período em que a composição nutricional do Feijão Guandu está melhor.

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Estudos com o fornecimento do feno de Guandu já foram realizados, sendo utilizado como parte do volumoso nas rações dos equinos. Os pesquisadores trabalharam com níveis de adição de feno de Guandu na dieta de até 30%, proporcionando maior consumo voluntário de matéria seca, melhores coeficientes de digestibilidade dos nutrientes e atendeu as exigências energéticas e proteicas de um equino adulto em manutenção. Em outros estudos o feno de Guandu foi utilizado com níveis de 10 a 20% de substituição de um capim.

Muito embora, a inclusão do feno de Guandu em níveis de substituição de gramíneas na dieta de equinos tenha sido avaliada com resultados satisfatórios. O mesmo não foi constatado quando se estudou a digestibilidade dos nutrientes, exclusivamente do Guandu. De acordo com os resultados da pesquisa, o Guandu não possuiu parâmetros satisfatórios, pois apresentou proteína de baixa qualidade, caracterizada pelo baixo coeficiente de digestibilidade de 52,8%. Portanto, é preferível o fornecimento associado desta leguminosa com um capim de qualidade.

Perspectivas

Espera-se que com os maiores esclarecimentos quanto às características nutricionais dessas plantas, bem como a forma de utilização dos alimentos volumosos tropicais, que essas alternativas alimentares sejam utilizadas nas dietas dos equinos de forma mais habitual. Além disso, espera-se que outras novas fontes de alimentos volumosos possam ser investigadas na intenção de buscar alimentos de maior digestibilidade, que sejam perenes e mais baratos. Consequentemente garantiremos incremento das possibilidades de estratégia alimentar nas propriedades de criação de equinos.

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