Cultura do Espargo (Parte II / II)

Cultura do Espargo (Parte II / II)

Por: Bruno Maciel,
Produção especializada de Espargo: Pedro Miguel Sousa,

Introdução

A cultura de espargo hortícola experimentou, nos últimos anos, um desenvolvimento tecnológico muito grande, principalmente impulsionado pela progressista indústria espanhola de hortícolas temporãs, que procura o desenvolvimento genético de variedades, métodos de reprodução clonal e técnicas de produção.

Curiosamente, o espargo, apesar de ser excelente no seu estado natural, recebeu, já desde há séculos, uma inovação tecnológica que consiste no branqueamento dos turiões.

Embora alguns mercados sejam indiferentes à cor do espargo, outros exigem que este seja branqueado, preferindo-os por serem mais tenros do que o espargo verde, que tem, em contrapartida, um sabor mais intenso, para alguns paladares um pouco delicados. Pelo trabalho acrescido, trata-se como se compreende, de uma iguaria de elevado valor acrescentado.

Apesar de encontrarmos no mercado, e com facilidade, tanto espargo verde como branco, este não corresponde a uma variedade, mas sim aos turiões que ainda não receberam luz solar.

Assim, a cultura do espargo branco faz-se quer com espargo verde ou violeta mantendo-se este branco enquanto não receber luz, e assim não se dar a produção de pigmentos clorofilinos.

Nos tempos atuais, existem cultivares mais aptas para a produção do espargo branco, contendo estas uma modificação genética em relação às outras cultivares, o que reduz o desenvolvimento da clorofila facilitando a sua produção com menor risco de alteração de cor, como são exemplos as variedades de genética espanhola e que se encontram disponíveis para o mercado português. São elas a Darlise, Plamaresp, Darbella, Dariana, a Ciprés entre outras.

A rentabilidade desta cultura, como de outros produtos agrícolas, está relacionada pelo momento de início de produção pela maior ou menor coincidência da sua venda no momento mais oportuno em termos de cotações de mercado sendo a precocidade um dos principais fatores neste cultivo.

Como se disse, o espargo branco tem, geralmente, uma cotação superior em comparação com o espargo verde, pela análise das cotações dos mercados franceses conclui-se que o espargo branco chega a receber uma valorização de quase o dobro do valor do espargo verde, por exemplo no mercado de Estrasburgo pode chegar até 16€ o quilo, estes valores ainda apresentam uma maior estabilidade.

Técnicas de cultivo

O início de cultivo é igual para os diferentes tipos de espargo diferenciando-se depois da transplantação, desta forma todos os aspectos culturais e condições edáficas para o espargo branco estão descritos na Agrotec número 5.

No 1.º ano, logo depois do transplante, o objetivo principal é tentar produzir o máximo crescimento vegetativo e simultaneamente um bom desenvolvimento do sistema radicular (lembrando que as reservas são fundamentais para a produção subsequente). Deve-se ter uma especial atenção ao controlo das pragas e infestantes, efetuando-se lavouras superficiais. No outono, depois das primeiras geadas, deve ser realizado um corte aos caules secos e a remoção dos mesmos no campo por razões fitossanitárias, esta rotina deve ser realizada todos os anos em que a cultura estiver a produzir.

No 2.º ano de cultura e ainda durante o inverno, deve iniciar-se a formação de camalhões para a produção do espargo branco. Os camalhões geralmente são realizados mecanicamente com recurso a uma charrua de discos formando, na zona central, uma altura de 30/40cm. Desta forma, estimula-se que os turiões se alonguem e tenham um bom desenvolvimento. Quando, por efeito de chuvas, o camalhão se desfaz ou por excesso de infestantes, deve o mesmo ser refeito. Neste primeiro ano de colheita esta não se deve prolongar para além dos 15 dias, podendo e devendo, destruir-se o camalhão para favorecer o desenvolvimento da parte aérea.

A partir do 3.º ano, é repetida a remoção da vegetação seca e a formação dos camalhões no inverno, da mesma forma que foi realizada nos anos anteriores. A partir deste ano a colheita vai-se alongando e obtém-se uma produção maior. Esta colheita está compreendida entre janeiro e maio e não deve exceder os 100 dias, pois estar-se-á a prejudicar a vida útil da espargueira, afetando diretamente as colheitas dos próximos anos. É ainda essencial que as plantas tenham, pelo menos, um período de crescimento vegetativo superior a 90 dias.

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Colheita

A colheita do espargo branco só é realizada de duas formas. Na primeira delas, que é a mais utilizada, o operário recorre à observação do camalhão, tentando visualizar levantamento das terras, que é uma característica da emergência do turião, destorroa-se o camalhão lateralmente com o auxílio de um sacho, até o turião ser visível, cortando com um faca comprida exclusivamente os que têm o comprimento adequado, para a venda (16-20 cm). O corte deve ser realizado verticalmente, evitando danificar turiões próximos, para não provocar mal formações que, posteriormente, dariam perdas de venda. Posteriormente à colheita é necessária a reconstrução do camalhão.

O segundo método consiste em cortar o turião com este ainda debaixo da terra, sem desfazer o camalhão, introduzindo uma faca especial. Este método tem de ser realizado com muito cuidado, pois existe maior probabilidade de desferir golpes noutros turiões sendo necessário operários com muita experiência, sendo o método utilizado na cultura industrial.

Em qualquer dos métodos o espargo acaba recebendo alguma luz, nem que seja difusa podendo ser o suficiente para adquirir uma coloração verde-roxa, denominando-se de espargo de “ponta roxa”, de inferior qualidade comercial que o espargo branco.

Inovações tecnológicas

Para a produção de espargo branco recorre-se, hoje em dia, quase exclusivamente, à utilização de plásticos opacos e de anti – condensação, em complemento do camalhão, tornando muito mais económica a cultura e com vantagens em termos de qualidade do turião. A cobertura do solo era já uma técnica muito antiga, nomeadamente a utilização de materiais como palha, serrim e casca de arroz. Na cultura semiforçada para a produção temporã (antecipação), escolhem-se variedades adaptadas e que reajam bem a esta técnica que, geralmente, inclui (os melhores fornecedores de plantas dão já as indicações para usar em cada variedade), a cobertura do solo no final do inverno, e eventualmente entre colheita, com um plástico transparente, que aquece o solo e ativa o crescimento dos turiões, seguindo-se a substituição por plástico negro, que vai manter a opacidade e proteger contra pragas e, sobretudo, tem a adicional vantagem de destruir todas as infestantes desta época do ano.

A colocação do polietileno pode ser realizada manualmente ou de forma mecânica. Para a aplicação manual são necessárias, no mínimo duas pessoas, em grandes áreas duas que desenrolam o plástico enquanto outros o prendem ao solo. A aplicação mecânica é realizada por uma alfaia conectada ao trator que passa por cima dos camalhões com o rolo de polietileno estendendo-o. Em seguida, com as extremidades da alfaia e as rodas, esta máquina cobre o polietileno, pressiona-o, estica-o e fixa-o.

Cobertura micro-túnel

Uma das modalidades mais praticada na cobertura artificial é o sistema do micro – túnel, consistindo na cobertura do camalhão com uma camada de polietileno. Esta cobertura deve ser realizada depois da sementeira/transplantação, que é realizada numa cavidade, dentro da qual se irá desenvolver até atingir o topo do plástico (figura 1). Quando os turiões tiverem já emergido é realizada uma abertura no topo do micro – túnel para o crescimento do espargo continuar, sem queimaduras. Geralmente, este polietileno é preto, ou transparente, tendo como principais vantagens um rápido desenvolvimento da planta, maior controlo de infestantes e menor número de perdas por ataques de predadores (aves).

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Cobertura bolsos laterais

Esta cobertura foi criada por uma empresa Espanhola de Sevilha, patenteada desde 1985. Trata-se de um tipo de cobertura que nas laterais apresenta uma série de bolsas. No momento da colocação são cheias com terra (figura 2) e este enchimento faz com que o plástico fique fixado ao solo sem necessitar de abertura de valas para enterrar e fixar as laterais, convertendo-o num plástico removível, no qual pode-se levantar e voltar a colocar cada vez que o cultivo necessitar de uma operação (colheita, visualização do sistema de rega, tratamento do solo, etc.).

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Produção de espargo branco em hidroponia com cama aquecida

Em Espanha, foi recentemente iniciada a produção de espargo branco em hidroponia em estufa. Esta cultura é realizada de duas maneiras distintas. A primeira é a produção em sacos com dois tipos de substratos diferentes (perlite ou fibras de madeira), e a segunda é em caleiras, apenas com substrato inerte de perlite. O espargo plantado nestes substratos recebe água e nutrientes que necessita mediante a rega por gota a gota.

Este sistema funciona com uma tubaria de água quente no interior do solo, tentando elevar a temperatura do substrato até uma determinada temperatura, induzindo desta forma a planta a iniciar a sua emissão de turiões. Aquecendo unicamente um pequeno volume de substrato consegue-se gastos de aquecimento muito baixos comparando com o sistema de aquecimento normal de uma estufa, sendo este localizado onde realmente importa e conseguindo-se colocar o produto no mercado muito mais cedo do que com qualquer outro sistema de produção. Este sistema é particularmente interessante onde haja, naturalmente, água quente disponível como subproduto de indústrias ou de recursos geotérmicos.

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Bibliografia

  1. Perez G. L. e Muñoz B., 1999. Cultivo mecanizado del esparrago blanco en regadio. Ministerio de Agricultura, Pesca y Alimentacion. Núm. 16/84
  2. Rodriguez J.P. e Rivera I., 1999. Perfil de mercado: Esparrago.

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