Covid-19: As tendências do consumidor no setor agroalimentar
A Inovcluster dinamizou um webinar sobre a temática das tendências do consumidor no setor agroalimentar, orientado às recentes alterações no consumo. Esta iniciativa surge na continuidade de um ciclo de webinares cujo objetivo assenta em preparar os diversos agentes, para responder de forma positiva às questões que sucessivamente vão sendo identificadas neste especial contexto que o setor agroalimentar atravessa.
Neste contexto, segundo a organização, as recentes alterações nos hábitos de consumo que surgiram com a pandemia Covid-19, constituem o foco da discussão, visando contribuir ativamente para informar os intervenientes das melhores estratégias a adotar. Assim, este webinar contou com o contributo de vários oradores de referência, especialistas nas diferentes vertentes do consumo. A presidente da Inovcluster, Cláudia Domingues Soares, também moderadora do evento, referiu que «este webinar possibilita às empresas conhecer as novas tendências na ótica do consumidor, e adquirir as ferramentas necessárias para criar novas estratégias que diminuam o diferencial por elas criado».
Cláudia Domingues Soares realizou a sessão de abertura e começou por agradecer aos presentes e apresentar a Inovcluster, que conta, atualmente, com cerca de 165 associados, na sua maioria empresas, mas também instituições do Ensino Superior, associações empresariais e institucionais, municípios, entre outros. O objetivo passa por «preparar os próximos agentes» no «contexto tão especial que o setor agroalimentar vive», realçando que o tópico da vez são as alterações do hábito do consumo. «Temos a expectativa de contribuir para informar os participantes das melhores estratégias a adotar» perante o panorâma atual.
No início do webinar, foi realizado um apanhado geral sobre as alterações do consumo nos últimos três meses. A forma como os portugueses reagiram à pandemia marcaram alterações radicais a nível social e económico. As alterações ocorreram na forma como a indústria e o retalho reagiram de forma correta à situação, bem como na forma como o e-commerce evoluiu nos últimos meses. A digitalização do mercado foi uma das mudanças mais vincadas, sendo que várias insígnias do mercado abriram canais digitais durante o pico da pandemia. Tais alterações vão provocar uma mudança na forma como os portugueses consomem, sendo que as estatísticas demonstram que o consumo dentro de casa veio para ficar.
O canal convencional e o canal digital enquanto aliados
Pedro Pimentel, diretor-geral da CentroMarca, focou a sua intervenção na importância do Branding e na forma como as empresas se devem adaptar ao contexto atual. Este defende que, «sendo o e-commerce o que mais se salienta neste período, enquanto variação relativamente ao período anterior, também é necessário contextualizar a atitude do consumidor em relação a este ponto», destacando que agora os consumidores já podem sair de casa normalmente, o que pode voltar a fazer recuar o e-commerce. «Quando nos movermos, quando sairmos de casa, é preciso compreender se a compra online se manterá ou se será mais prático fazer a compra convencional», aponta.
O diretor-geral da Centromarca admite que algumas das pessoas que experimentaram pela primeira vez e gostaram, mas que «as pessoas gostam de ir ao supermercado». Pedro Pimentel aproveitou o momento para alertar que as marcas nunca poderão abdicar dos dois canais, convencional e digital, sendo que têm que apostar mais no segundo, que está a crescer, pois as pessoas ultrapassaram a desconfiança que existia anteriormente perante os canais digitais. Contudo, Pedro Pimentel recorda que apenas três das cadeias de grande distribuição em Portugal têm retalho online, nomeadamente o Continente, a Auchan e o El Corte Inglés, sendo que o Pingo Doce o faz de forma indireta.
Já sobre as marcas, Pedro Pimentel realça que «não há marca convencionais ou digitais, há marcas e ponto. As marcas estão nos meios e retalhos todos e têm que se expandir mais ainda nesta altura. Se há alturas em que podemos ser mais seletivos nos canais de comercialização, eu diria que nesta altura ninguém pode limitar-se. Temos que utilizar todos os canais disponíveis para colocar o nosso produto, principalmente as empresas que não estavam bem presentes», alertando que é preciso existir uma preocupação com a comunicação, pois «se as marcas não comunicam, elas não existem». As marcas devem estar presentes no digital enquanto marca e enquanto venda.
Pedro Pimentel partilhou que existiu de tudo sendo que, se algumas empresas beneficiaram da situação, como as que produziam produtos que podem ser facilmente armazenados, outras saíram extremamente prejudicadas. Apontou, ainda, que as marcas providenciaram «tranquilidade» aos consumidores, pois garantiram que os produtos se encontravam nas prateleiras. «Acredito que existiram dois momentos (para as empresas): O momento de cumprir e o momento de fazer as contas à vida, que chegará mais à frente».
«Se existisse uma segunda vaga (pandemia Covid-19), eu acredito que nenhum de nós teria a mesma tentação de acumular produtos como aconteceu nas primeiras duas semanas, isto porque as pessoas compreenderam que o sistema funciona, a resposta funciona e a logística funciona», realçou.
A adaptação das empresas à nova realidade
Para partilhar a experiência de quem está no terreno, bem como expor de que forma as empresas trabalham no sentido de se adaptarem a estas alterações por parte do consumidor, a Inovcluster convidou António Plácido Santos, administrador da sua associada Prisca.
O orador começou por referir que a Covid-19 surpreendeu de uma forma extraordinária e que tal conduziu a alterações significativas nos consumidores, o que conduziu a alterações nas empresas, a nível de segurança e comunicação. «Se passamos a consumir mais em casa e menos nos restaurantes, os produtos são diferentes, a forma das empresas os prepararem terá, também, que ser diferente», exemplificou. «A preocupação teve que cingir-se em colocar o produto ao serviço do consumidor final», apontou, destacando o aumento da confiança no canal digital ao nível da alimentação, principalmente ao nível dos frescos, perante os quais as pessoas não se sentiam tão à vontade a realizar uma compra online.
Segundo António Plácido Santos, todas as alterações passam por garantir a confiança dos consumidores. «Mais do que produzir com qualidade, se calhar neste momento o mais importante é produzir com segurança», afirmou. «O produto tem que ser bom, mas ao mesmo tempo tem que ser seguro. Temos que o consumir e não estar preocupados com as consequências que vamos encontrar de seguida. Agora tem que ser um produto que seja seguro e nos inspire confiança e eu acredito que essa é a barreira que temos que deitar abaixo ao nível do online», reflete.
Sobre as vendas do biológico, que aumentaram a nível europeu durante a pandemia, o orador explicou que «vender pouco ou vender muito depende das ambições de cada um. A Prisca, sinceramente, ambicionava vender mais. Estamos a vender alguma coisa, estamos a aparecer nas prateleiras com algum destaque mas depois, em termos de consumo, eu acredito que as pessoas querem consumir produtos biológicos, mais saudáveis, mas não é o mesmo preço que os restantes produtos. Depois, quando o preço é mais elevado, aí a questão já é outra».
«Nós não conseguimos produzir produtos bio de qualidade ao preço dos outros», afirma, exemplificando que vários países europeus exportam produtos com menor qualidade e realçando que as margens para vender os produtos ainda são elevadas. Segundo os oradores, o preço continua a ser o principal problema dos produtos biológicos.