Covid-19: Agricultura reforça segurança alimentar para produzir mas escoa menos
Com a produção de legumes e frutas para manter e colher, os produtores desdobram-se a aplicar normas de segurança alimentar contra o novo coronavírus para as explorações e centrais não pararem, mas começam a escoar menos.
À corrida aos supermercados e mercados que se registou até à semana passada correspondeu um esforço acrescido das explorações e das centrais hortofrutícolas para responder à procura.
Mas, esta semana, a procura de produtos hortofrutícolas em fresco é menor e a produção «está em queda», concluem os empresários na esperança que «volte a subir», tendo em conta que é um setor fundamental da cadeia alimentar.
«A curgete chegou a valer para a produção 1,40 a 1,45 euros e neste momento está a 0,90 euros», exemplifica à agência Lusa Paulo Maria, proprietário da empresa Hortomaria, com 40 trabalhadores para 20 hectares de estufas de curgetes, feijão verde e tomate, no concelho de Torres Vedras. «Os pedidos são muito mais reduzidos, na ordem dos 50%», acrescenta.
Na central hortofrutícola Hortorres, no mesmo concelho do distrito de Lisboa, até à semana passada, a procura levou a um aumento do trabalho e das encomendas na ordem dos «70 a 80%, havendo falta de mão-de-obra, já que 10%» dos trabalhadores com dependentes tiveram de ficar em casa com o encerramento de escolas e centros de dia, explica o gerente Paulo Rodrigues à Lusa.
Já esta semana assiste-se ao «inverso». Nas explorações, «grande parte dos nossos trabalhadores são estrangeiros e não há falta de mão-de-obra, porque não têm cá as famílias», justifica Paulo Maria, da Hortomaria.
A central «não está a conseguir exportar nada e a quebra no mercado nacional está a sentir-se ainda mais», diz o empresário com preocupação, por ter duas centenas de trabalhadores a seu cargo. Para contornar eventuais despedimentos, a empresa vai começar a fazer venda de cabazes de frutas e legumes porta a porta na região de Lisboa, a partir da próxima semana.
Quer na exploração agrícola, quer na central hortofrutícola, desde há duas semanas que a entrada ficou restrita a pessoas dispensáveis à laboração e os trabalhadores mantêm distâncias maiores uns dos outros e estão dividimos por setores, não se cruzando, nem nas pausas para as refeições.
Na central, além do uso de luvas, máscaras, lavagem e desinfeção regulares das mãos e distanciamento entre trabalhadores, os leilões de produtos passaram a ser feitos pela Internet e nem motoristas, nem compradores entram nas instalações, sendo as encomendas feitas por telefone ou correio eletrónico.
Medição da temperatura, lavagem do calçado, lavagem e desinfeção das mãos e limpeza reforçada de objetos e espaços de uso comum passaram a ser rotina.
«Há mais paragens e mais tempo perdido na laboração», para serem efetuadas limpezas regulares nas zonas de embalamento, descreve o gerente Paulo Rodrigues, acrescentando que «têm de o fazer para que haja segurança alimentar».
«Assim como os profissionais de saúde estão empenhados em lutar e correr o risco para defender os doentes nos hospitais, os produtores estão também empenhados em correr o risco, porque, se não corrermos esse risco, não morríamos do vírus e morríamos à fome», enfatiza Paulo Maria, que é também vice-presidente da Federação Nacional Organizações das Produtores de Frutas e Hortícolas.
Se não houver descontinuidade dos fatores de produção, os produtores garantem continuar a fazer chegar aos mercados «produtos seguros e de qualidade».
FONTE: Lusa