Confusão na certificação em bem-estar animal

Ao longo destes últimos anos, têm sido desenvolvidos e aplicados em diversos países inúmeros programas e esquemas de certificação em bem-estar animal (BEA) de forma crescente, quase exponencial. O objectivo maior destes esquemas é oferecer à sociedade, e aos consumidores em particular, uma garantia de que os animais nas explorações avaliadas vivem em condições condignas.

Certificação em bem-estar animal

Por: George Stilwell, Médico-veterinário, PhD, Diplom ECBHM, Faculdade de Medicina Veterinária, Universidade de Lisboa (FMV – ULisboa)

Supostamente, essa garantia é isenta e imparcial e a forma para a atingir é transparente e suportada pela ciência. Mas, então, porquê que há tantos diferentes sistemas de certificação e de acreditação? Serão todos igualmente válidos? Como é que o consumidor os pode distinguir?

A certificação em BEA é, sem dúvida, uma boa iniciativa e deve ser encorajada e aplicada em todas as fases de produção de alimentos de origem animal. É natural que o consumidor queira saber de onde vem e como foi produzida a comida que compra. Não só quer estar seguro quanto à sua qualidade e segurança, como quer ter a certeza de não estar a boicotar os valores éticos que lhe são queridos, como a defesa do bem-estar dos animais e a preservação do ambiente.

Pelo menos, não quer que as más práticas continuem a existir com o seu beneplácito e patrocínio. Assim, duas opções abrem-se ao consumidor: comprar apenas os alimentos cuja produção não ofenda essas suas exigências éticas ou alterar os seus hábitos de consumo e simplesmente recusar certos produtos (por exemplo, carne ou ovos). Duas respostas abrem-se, então, ao produtor: ir perdendo clientes até eventualmente não ser sustentável continuar a produzir ou responder a estes anseios.

Só que não basta dizer que se mudaram as atitudes ou que se melhoraram as práticas. É preciso que o consumidor saiba que tal está a acontecer e, principalmente, tem de acreditar nisso. Daí os esquemas de certificação que, através de auditorias e avaliações, asseguram que os procedimentos e as condutas proporcionam aqueles resultados e passam essa informação através de selos ou carimbos.

Há, no entanto, duas questões que têm de ser urgente e convenientemente discutidas: como garantir a credibilidade dos diversos esquemas e como assegurar a veracidade da informação que chega ao consumidor?

Como se disse, existe uma crescente oferta de esquemas de certificação, cada um com as suas especificações, com o seu selo e com o seu rótulo. Todos tentando atrair compradores e sossegar a consciência do consumidor. Só que esta imensidade potencialmente conduz a uma enorme desorientação no consumidor. No Reino Unido, o Comité para o Bem-estar Animal (UK Farm Animal Welfare Committee) escrevia, em 2011, que “muitos consumidores estão motivados a defender o bem- -estar animal, mas ficam confusos com a informação que recebem e por isso frustrados com as opções que finalmente tomam” (tradução livre do autor).

Esta multiplicidade de programas e diversidade de informação acaba por não ser útil, nem para o produtor nem para o consumidor, já que este último, com medo de não estar a responder às tais exigências éticas, ou desiste e opta pelo mais barato ou simplesmente recusa consumir aquele tipo de produto.

Por outro lado, existindo imensos esquemas, normalmente aquele que acaba por ter mais sucesso não é o mais sério, mas o que faz mais barulho (leia-se, publicidade). A defesa dos valores éticos é muitas vezes vista pelas empresas processadoras e pelos retalhistas (e também por certos produtores) como uma arma de marketing. Na verdade, a preocupação maior não é se o BEA ou o ambiente estão a ser defendidos, mas se o consumidor está convencido disso e, por isso, satisfeito com a sua compra. E se tal for conseguido mantendo um preço agradável, ainda melhor. Para isso, o que conta mais é o grande cartaz, a fotografia do animal com ar feliz e as letras garrafais.

Continua

Nota: Artigo publicado originalmente na Agrotec 35

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