Citricultura: um setor com potencial em Portugal

Da laranja à lima, os citrinos integram uma variedade numerosa em todo o mundo. Portugal não é exceção, com o Algarve, principal região produtora, a assumir um lugar de destaque. Uma combinação de elementos, como o solo e o clima, que permite produzir produtos com características únicas. Fomos saber qual o peso da Citricultura em Portugal e como pode o nosso país potenciá-la não só no mercado interno como no exterior.

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Maria do Carmo Martins, secretária-geral do Centro Operativo e Tecnológico Hortofrutícola Nacional (COTHN), começa por fazer uma radiografia deste setor.

«Os pomares de citrinos ocupam cerca de 17 mil hectares e distribuem-se por 24,8 mil explorações. A laranjeira é a espécie mais comum, ocupando 83% da área, seguindo-se a tangerineira com 12%. O Algarve é a principal região produtora de citrinos, com 68% das áreas de laranjeiras e 80% de tangerineiras», afirma.

A responsável diz que, nos últimos 10 anos, «à semelhança da tendência verificada nos frutos frescos, o setor citrícola foi severamente afetado, contabilizando reduções em número de explorações e em área, da ordem dos 46%e 28%, respetivamente. A área de laranjeiras diminuiu 22% (-4 mil hectares) e a de tangerineiras sofreu uma quebra superior a50% (-2,2 mil hectares)».

Já na principal região produtora, o Algarve, registou-se uma redução de cerca de 3,5mil hectares (incluindo -1,3 mil hectares de laranjeiras e -2,1 mil hectares de tangerineiras).

«O Alentejo passou a ser a segunda região com maior área de citrinos, tendo simultaneamente registado o menor decréscimo (em termos relativos) no Continente, e ultrapassado a área de citrinos do Ribatejo e Oeste. O declínio dos laranjais de Setúbal é evidente, tendo a área de citrinos nos municípios de Palmela, Montijo e Setúbal diminuído para cerca de metade da de1999, que mesmo assim ainda concentram mais de1/5 da área total de citrinos do Ribatejo e Oeste», acrescenta.

A secretária-geral da COTHN vinca que a dimensão média dos pomares de citrinos passou de 0,5 hectares por exploração em 1999 para 0,7 hectares em 2009, «sendo que no Algarve os pomares são, em média, três vezes superiores à dimensão média nacional».

«De referir que não se assistiu, ao longo da última década, a alterações significativas na distribuição das explorações com pomares de citrinos, por classes de dimensão. No entanto, em termos de área, mais de metade está já concentrada em pomares com 5 hectares ou mais, quando em 1999 estas explorações apenas representavam 39% da área», realça, citando números do Instituto Nacional de Estatística de 2009.

Importância do setor

Em termos de importância relativamente ao sector Hortofruticultura, Maria do Carmo Martins diz que «os citrinos constituem, juntamente com as pomóideas (macieira e pereira) e a vinha, um dos três principais grupos de culturas produtoras de frutos».

«36% da Produção Agrícola Nacional provem do setor hortofrutícola e destes 60% são hortícolas e 37% são frutos, destacando-se as pomóideas, citrinos, uvas e oliveira», aponta.

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Regiões produtoras

Podemos encontrar citrinos por quase todo o país, nos quintais e pequenas hortas, mas a produção de laranjas e tangerinas numa escala comercial «está limitada ao Algarve, ao litoral alentejano e a umas quantas zonas microclimáticas espalhadas pelo país», esclarece a responsável do COTHN, adiantando que «para esta situação contribui a condições únicas de solo e clima que permitiram diferenciar a laranja do Algarve, conferindo-lhe um estatuto de IGP».

«Relativamente à evolução da produção de laranja e de acordo com o quadro em baixo, tem-se registado um decréscimo de produção até 2008, tendo-se estado a assistir a uma recuperação nos últimos anos, de forma significativa. Em termos de área esta tem vindo a decrescer, o que significa a produtividade tem estado a aumentar», frisa Maria de Carmo Martins.

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Relativamente aos outros pequenos citrinos, «o Algarve é, por excelência, a região de produção e expedição, com uma representatividade de cerca de 90% na área e na produção total do Continente, no caso das tangerinas».

«Na produção das tângeras, destaca-se, para além do Algarve, o Ribatejo e Oeste, com representatividades de, respetivamente, 78% e 18% na produção total do Continente. Os citrinos do Algarve possuem Indicação Geográfica Protegida. As tângeras ocupam uma área de cultivo de 374 hectares e as tangerinas de 4478 hectares. A produção anual originada pelas tângeras e tangerinas é de, respetivamente 3.682 e 56.957 toneladas», esclarece a responsável.

Escoamento e exportação

Maria do Carmo Martins diz que no circuito de comercialização destacam-se, como principais intervenientes, os armazenistas, os produtores individuais com alguma dimensão e as Organizações de Produtores.

No mercado interno «os frutos destinam-se, na grande maioria, às grandes superfícies de venda, aos mercados abastecedores dos grandes centros urbanos e aos mercados regionais».

E adianta que, «em termos de escoamento, infelizmente esta questão continua a ser o elo fraco deste setor. A razão prende-se essencialmente com a falta de organização do sector versus a grande concentração da distribuição. Este desequilíbrio no poder negocial faz com que ocorra um esmagamento dos preços, levando a que os produtores tenham dificuldade em fazer escolar o seu produto a preços justos. Não é a questão da qualidade, que é bem reconhecida pelo consumidor, mas sim os preços impostos pela grande distribuição que fazem com que ocorram problemas de escoamento. Em termos de mercado internacional, apenas as organizações de produtores conseguem chegar a estes mercados».

No quadro em baixo encontram-se listados os dados que estão disponíveis no GPP, sobre o comércio internacional:

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Em termos de países de destino, destacam-se os seguintes:

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OP de citrinos

Dentro das organizações de produtores reconhecidas pelo GPP para a comercialização de citrinos temos atualmente três:

CACIAL - COOPERATIVA AGRÍCOLA DOS CITRICULTORES DO ALGARVE, CRL

FRUSOAL - FRUTAS DO SOTAVENTO ALGARVIO, LDA

FRUTALGOZ - SOCIEDADE AGRÍCOLA DO ALGOZ, LDA

Em termos de outras estruturas que atualmente exportam citrinos temos ainda a Unifarmers, Abrunhoeste, Alcitrus e as Frutas Martinho.

O trabalho do COTHN

Maria do Carmo Martins refere que o COTHN «não tem desenvolvido trabalho técnico em citrinos de forma direta. Temos alguns serviços que disponibilizamos às OP’s de Citrinos, tais como as inspeções do material de aplicação de produtos fitofarmacêuticos e apoio na área do controlo de qualidade e avaliação de sistemas de rega».

Os trabalhos que o COTHN tem feito «têm sido mais no âmbito da promoção da IGP. O COTHN em 2007 arrancou com um projeto de promoção das DOP e IGP hortofrutícolas nacionais. Desde essa altura que temos um site (frutaViva. Net) onde temos informação sobre as características, e operadores das diferentes DOP e IGP´s. Neste mesmo ano realizámos a primeira gala da fruta viva, que teve como mote as DOP e IGP», afirma a secretária-geral do COTHN.

Consumo

O componente maioritário dos citrinos é a água e, em comparação com outros frutos do seu género, aporta menos açúcares e, portanto, menos calorias. A quantidade de fibra á apreciável e encontram-se, sobretudo, na parte branca, entre a polpa e a casca.

Do seu conteúdo vitamínico sobressai a vitamina C, «o ácido fólico e a provitamina A. Também contém quantidades destacáveis de ácido cítrico, potássio e magnésio.

Em menor proporção encontram-se vitaminas do grupo B e minerais como o cálcio. Estes frutos são usualmente consumidos ao natural, ou na forma de sumos. Podem também ser usados na confeção de gelados, compotas e licores. Os gomos são também utilizados na doçaria, como ingrediente decorativo de tartes e bolos.

No Algarve, a produção e comercialização prolonga-se praticamente por todo o ano, devido à diversidade de variedades, com produções escalonadas, ao longo da campanha», esclarece a responsável.

Relativamente ao conjunto dos citrinos – laranja, limão e citrinos de pequeno fruto – «tem havido um aumento dos recursos disponíveis ao longo das últimas duas décadas, mercê de um intenso aumento da produção e também de um incremento no volume de entradas, mais expressivo a partir de meados da década de 90. Seja como for o consumidor nacional reconhece a qualidade dos citrinos nacionais, especialmente da laranja do Algarve, associa como fruta de inverno, sendo uma das frutas mais consumidos nesta época do ano».

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Sobre os desafios do setor, a responsável refere que «a citricultura portuguesa tem que a postar na modernização e na organização do setor, de forma a poder responder atempadamente aos novos desafios».

«Estes desafios passam por aumentar a produtividade, melhor as técnicas produtivas, apostar na qualidade e na diferenciação para ganhar novos mercados. No entanto para chegar a estes novos mercados tem igualmente que se organizar. São ainda poucas as estruturas (OP´s) que existem na região, pelo que há muito trabalho a fazer para organizar os produtores. Esta organização para além de permitir ganhar dimensão permite incorporar de forma mais rápida e eficiente novas tecnologias produtivas e assim tirar partido das condições únicas que Portugal tem para a cultura dos citrinos, no sul do país».

Algarve

O Algarve é a maior região produtora do país. Os longos períodos de sol e as temperaturas características desta região garantem-lhe um lugar de destaque para a produção de laranjas, que beneficiam de características diferentes, como o paladar, o equilíbrio entre ácidos e açúcares e o elevado nível de sumo.

É isto mesmo que Horácio Ferreira, diretor executivo da Cooperativa Agrícola de Citricultores do Algarve (CACIAL) e vice-presidente da Federação Nacional das Organizações de Produtores de Frutas e Hortícolas (FNOP) na área dos citrinos, diz que o setor fez «grandes avanços nos últimos 30 anos». «Podemos dizer que o setor atuava apenas no mercado nacional e, hoje, joga também no mercado internacional».

«A entrada do setor no mercado internacional deve-se, de facto, à grande procura e aceitação que a laranja portuguesa tem no mercado externo. Essa aceitação advém da diferença que existe entre a laranja de Portugal e a de outras origens», salienta.

Horácio Ferreira explica que «o que distingue a laranja nacional da concorrência mais poderosa – que é a Espanha, é o maior produtor mundial de citrinos para mesa – é o equilíbrio que existe entre o equilíbrio e a acidez. Os citrinos portugueses têm uma marca de frescura e que nos distingue do produto de outras origens. Isto tem também a ver com a nossa posição territorial, enquanto a maior parte dos países sofrem com os ventos do Mediterrâneo, nós temos os ventos do Atlântico que criam condições que são bastante boas para a produção deste tipo de produto. Por esta razão, a nossa fruta tem um aspeto menos agradável à vista, uma vez que a nossa fruta, do ponto de vista epidérmico, é bastante mais marcada, por exemplo, do que a espanhola. O que não interfere nem na resistência da fruta nem nas condições organoléticas. É unicamente o aspeto visual que ela tem. Isso faz diferença para os consumidores».

E garante que «o nosso consumidor precisa pois, por isso, conhecer a qualidade da fruta nacional e é essencial que nós, produtores, ajudemos nesse esclarecimento. Além disso, é igualmente importante fazer esse trabalho com o nosso cliente. É preciso educar ambos, até seguindo o caderno de encargos internacional dos citrinos. É essencial haver uma concertação do setor, uma dinâmica de marketing junto do consumidor e uma certeza junto dos nossos clientes para tudo isto».

Adianta que o Algarve tem mais de 80% da produção de citrinos em Portugal sendo que «a produção nacional andará à volta das 200 mil toneladas e a produção do Algarve andará à volta de 180/185 mil toneladas/ano», de acordo com os mais recentes dados oficiais.

«A força da produção deste setor é a laranja. Estou convencido que hoje se exportará cerca de 20% da nossa produção», diz.

Desorganização do setor

Contudo, alerta Horácio Ferreira «há uma desorganização no setor em termos oficiais e a números e é uma pena que não saibamos aquilo que produzimos na região, por variedades».

Em termos de exportação refere que a laranja do Algarve segue para a Europa (Espanha, França, Suíça e os países de Leste no seu conjunto), Médio Oriente (Dubai, Arábia Saudita), África (Angola, Cabo Verde, Moçambique).

«Queremos que o produto chegue aos mercados de destino e seja valorizado como um produto de qualidade, mas que não tem a ver com as massificações feitas por outros mercados de origem como Espanha», vinca, acrescentando que «temos que valorizar o nosso produto na qualidade e nas características que ele tem».

É por isso que defende a importância de «o setor se unir cada vez mais», com «organizações de cúpula que defendam os interesses da flieira, onde se concentre a informação, e onde as pessoas discutam os seus problemas».

No caso da CACIAL, esta ajuda a região e os seus produtores como pode, nomeadamente «dando resposta a todas as dificuldades que os produtores tenham». «Damos assistência técnica a vários níveis, desde a administração total da exploração do produtor até ao serviço mais ínfimo que ele não consiga efetuar», remata.

Fonte dos quadros: GlobalAgrimar

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