Cacau e café ganham outro sabor no Peru
Sabia que o cacau peruano pode ter até 20 sabores diferentes? E que um dos cafés mais raros do mundo é produzido nos Andes? Fique a saber como funciona o comércio justo peruano.
Jorge Minaya Huamàn é um dos cerca de 300 membros de uma cooperativa de café peruana chamada Huadquiña, situada perto de Machu Picchu, nos Andes. Todos os dias, de junho a outubro, sobe a montanha para colher grãos de café. Não é uma tarefa propriamente fácil: os campos situam-se entre os 1300 e os 2400 metros de altitude. Os familiares e vizinhos entreajudam-se nas respetivas colheitas.
«A cooperativa tem uma secção técnica que nos ensina a colher de forma mais eficiente, e também a selecionar as sementes, a fazer as plantações, a organizar os campos, a fertilizá-los», explica-nos Jorge.
Os agricultores são formados nos princípios do comércio justo: parte do dinheiro que recebem deve ser investido a tornar as plantações mais sustentáveis. Através da colheita seletiva, por exemplo. A qualidade do café saiu a ganhar.
A cooperativa utiliza grãos Pergamino, que consistem em sementes secas dentro da casca, ou as chamadas “cerejas”, que são processadas mal chegam às instalações. A polpa é removida, a vagem é deixada a fermentar durante cerca de 20 horas e as sementes são lavadas e secas.
«O nosso produto é muito homogéneo em termos de qualidade, tentamos manter a consistência. No que respeita aos preços, adiantamos 80% do dinheiro aos agricultores e depois, quando vendemos, a diferença normalmente ultrapassa os 20%, pode ir até aos 50-60%. Quase 80% da produção se destina ao Reino Unido. O resto vai para os Estados Unidos, Canadá e parte da Europa», diz Hebert Quispe Palomino, responsável da Huadquiña.
Esta cooperativa foi fundada há 52 anos. O salto na qualidade deu-lhe acesso a outros mercados e argumentos para competir com variedades exclusivas. Benjamin Schweitzer vem aqui escolher o chamado café especial para uma empresa de exportação: «a variedade desta região, a Typica, é uma das mais antigas. Mas é difícil encontrá-la porque não resiste às pragas que afetam as plantações».
Benjamin avalia o aroma, a acidez, o corpo do café. A variedade Typica é apresentada como floral e cítrica. «Decidimos o que é vendido como ‘café especial’, e pagamos ao produtor um prémio, e o que é vendido como café de comércio justo, que lhe garante sempre um valor mínimo», salienta.
Cacau que sabe a banana e rosas
Dos campos de Santa Teresa passamos para a cidade de Quillabamba. Fomos ao encontro de Edwin Cuentas Chacon, que nos deu a conhecer as plantações de cacau orgânico da cooperativa Urubamba.
«Temos duas variedades diferentes de cacau: o ‘Chuncho’ e o híbrido. O primeiro é melhor na qualidade; o segundo, na quantidade. O Chuncho tem aromas diferentes: pode saber a banana, a rosas ou até a manga», afirma.
Os cerca de 140 associados desta cooperativa que produzem cacau orgânico recolhem, em média, uma tonelada por hectare. «O nosso objetivo é, com a ajuda dos incentivos que recebemos, aumentar exponencialmente o cultivo de Chuncho», aponta Edwin.
O Peru é, neste momento, o oitavo maior produtor mundial de cacau e o terceiro maior produtor de cacau da América Latina.
A produção de café no Peru iniciou-se no século XVIII. A variedade Typica representa 60% das exportações, sendo que há mais de 110 mil produtores de café no país.
Entre 15% a 25% das explorações de café pertencem a cooperativas de comércio justo.
Fonte: Euronews