APROLEP defende: É preciso subir o preço do leite ao produtor
Os produtores de leite terminam 2020 com o sentido de dever cumprido, porque não pararam de trabalhar para que houvesse alimento na mesa dos portugueses, apesar das dificuldades inerentes à pandemia da Covid-19. Contudo, persiste também entre os produtores um sentimento de injustiça, porque este foi mais um ano com o preço do leite abaixo da média europeia.
![Vaca leiteira](/userfiles/image/dropzone/blogs/20201221110756-vaca leiteira_Easy-Resize.com.jpg)
Em outubro, tivemos em Portugal um preço médio de 30,4 cêntimos por kg de leite, cerca de 4,6 cêntimos abaixo do preço médio comunitário. Foi o quarto pior preço entre os 27 Estados-membros.
Mês após mês, ano após ano, estivemos sucessivamente abaixo do preço médio de Espanha e da Europa, apesar de comprarmos combustíveis, adubos e rações a um preço equivalente aos nossos colegas europeus.
"Manter a produção de leite só tem sido possível recorrendo ao crédito, adiando investimentos, comprando máquinas em segunda mão ou recorrendo ao sacrifício pessoal de agricultores e familiares, que abdicam de receber uma justa remuneração pelo seu trabalho", a organização explica, em comunicado de imprensa. "Para agravar, além da subida anunciada do salário mínimo e dos aumentos habituais da energia e dos restantes custos de produção, ocorreu nos últimos meses uma subida significativa no preço das matérias-primas e cereais usados no fabrico das rações, necessárias para equilibrar o bolo alimentar das vacas, baseada no milho e erva que produzimos nos nossos campos. Apesar da ração comprada ser, em média, apenas 20% da quantidade total de alimento ingerida por uma vaca, representa cerca de 50% dos custos de uma vacaria".
A APROLEP acrescenta que "a preocupação é agravada pela decisão do Ministério da Agricultura em relação ao período de transição 2021-2022 que provocará uma perda de 12% na ajuda ao rendimento do nosso setor e mais ainda, no âmbito da reforma da PAC até 2027, com a anunciada redução das ajudas do atual RPB (Regime de Pagamento Base) devido à convergência a 100% em 2026 nas áreas de cultivo destinadas à produção de leite. Os produtores preferiam poder dispensar os subsídios e receber um preço justo pelo leite produzido, mas até que isso aconteça as ajudas serão essenciais para a sobrevivência do setor".
Nesse sentido, a APROLEP espera que sejam encontradas formas de mitigar a redução das ajudas, nomeadamente através do reforço substancial do pagamento ligado e da adoção de eco-regimes adaptados ao setor que permitam um futuro mais eficiente e ecológico na produção de leite, compensando os agricultores pelos serviços que prestam na defesa do ambiente e no combate às alterações climáticas.
Em 2020, a produção de leite não parou, a poluição baixou e ficou demonstrado que a culpa não era das vacas nem dos agricultores. Esperamos em 2021 continuar a ter a preferência dos portugueses pelo leite e produtos lácteos nacionais, receber um melhor preço por parte da indústria e distribuição e mais atenção por parte do Governo e da União Europeia.