Alqueva: 15 anos a abastecer populações, produzir energia e regar 120 mil hectares
Após 2.400 milhões de euros de investimento, 21 anos de obras e 15 a encher, Alqueva produz energia, reforça abastecimento de água a 200 mil habitantes, rega 120 mil hectares e poderá expandir-se para beneficiar mais 47 mil.
Esta quarta-feira, assinalam-se 15 anos do fecho das comportas da barragem do Alqueva, que ocorreu a 8 de fevereiro de 2002 e marcou o início do enchimento da albufeira, a qual já atingiu várias vezes o pleno armazenamento de 4.150 milhões de metros cúbicos de água, à cota de 152 metros.
Atualmente, a albufeira, localizada no “coração” do Alentejo, no rio Guadiana, armazena 3.143 milhões de metros cúbicos de água e está à cota 147.69 metros e com 78% da capacidade máxima, segundo dados prestados pela Empresa de Desenvolvimento e Infraestruturas do Alqueva (EDIA).
O atual volume da albufeira é «normal e compatível» com o objetivo da barragem: garantir uma reserva estratégica de água capaz de suprir todas as necessidades de água abrangidas pelo projecto durante quatro anos consecutivos de seca extrema, disse o presidente da EDIA, José Pedro Salema.
No projeto Alqueva, que é «estruturante» e representa «um forte contributo para o desenvolvimento» do Alentejo, já foram investidos 2.400 milhões de euros, distribuídos pelas valências agrícola, energética e de abastecimento público, disse.
José Pedro Salema faz um balanço «extremamente positivo» do projeto, que teve «adequações», como o aumento da área beneficiada pelo regadio, de 110 mil para 120 mil hectares, e cuja conclusão foi antecipada e terminou em 2016, nove anos antes do inicialmente previsto, para 2025.
Na valência agrícola, a EDIA acabou em 2016 a construção das infraestruturas necessárias para regar os 120 mil hectares previstos e que estão em exploração.
Quanto ao abastecimento público de água, a empresa concluiu, em 2010, as ligações entre a albufeira “mãe” de Alqueva e as quatro albufeiras abrangidas pelo projeto, que pode reforçar, sempre que haja necessidade, o abastecimento público de 13 concelhos do Alentejo com mais de 200 mil habitantes, incluindo os de Beja e Évora.
Na valência energética, além de ter construído as centrais de Alqueva e do Pedrógão, que começaram a funcionar em 2004 e 2006, respetivamente, e foram concessionadas à EDP, a EDIA terminou em 2011 a instalação das cinco centrais mini-hídricas do projeto.
A EDIA aposta também noutras fontes de energia renovável e já instalou pequenas centrais solares fotovoltaicas junto à barragem do Alqueva e nas estações elevatórias do Pisão e da Amoreira e um primeiro conjunto de painéis solares fotovoltaicos flutuantes para produzir energia para abastecer as operações do reservatório de água da Cegonha.
Agora, frisa José Pedro Salema, perspetivam-se «duas novas fases na vida» do Alqueva: o «amplo aproveitamento» das infraestruturas e da água e o aumento da área abrangida pelo regadio em mais 47 mil hectares.
A adesão dos agricultores ao regadio «tem vindo a fazer-se de forma exponencial nos perímetros do Alqueva», que, apesar da “juventude”, «já tem uma elevada taxa de adesão», que ronda os 67% em média e que, em alguns casos, ultrapassou os 80% logo nos primeiros dois/três anos.
«Uma taxa de adesão desta ordem de grandeza só pode ser considerada um sucesso e inédito» no panorama agrícola português e transformou a zona abrangida pelo Alqueva no «centro da nova agricultura», frisou.
Atualmente, a EDIA tem 3.500 agricultores clientes que usam a água do Alqueva, dos quais 157 são estrangeiros e exploram cerca de 35 mil hectares na região e, destes, 93 são provenientes de Espanha e o olival é a principal cultura em exploração, indicou.
Segundo um estudo sobre os impactos do projeto, encomendado pela EDIA, os 120 mil hectares beneficiados pelo Alqueva, quando se atingir a planeada adesão ao regadio de 80 a 85%, deverão gerar mais 7.500 postos de trabalho e aumentos de 340 milhões de euros no valor bruto e de 254 milhões de euros no valor acrescentado bruto da produção anual do setor agrícola na região, disse.
Segundo José Pedro Salema, a EDIA tem vindo a desenvolver o projeto para aumentar em 47 mil hectares a área abrangida pelo regadio do Alqueva, que vai implicar um investimento de 220 milhões de euros e cujo financiamento através do Plano Junker está em análise, «aguardando-se para breve uma decisão final».
A expansão do regadio terá impactos diretos e «no ano de cruzeiro» poderá gerar mais 2.630 postos de trabalho e aumentos de 119 milhões de euros no valor bruto e de 89 milhões de euros no valor acrescentado bruto da produção anual do setor agrícola na região.
O projeto global de Alqueva obrigou à construção de uma nova povoação para alojar os cerca de 400 habitantes da “velha” aldeia da Luz, submersa pelas águas da albufeira, num investimento total de cerca de 39 milhões de euros.
Alqueva, na sua capacidade total de armazenamento, é o maior lago artificial da Europa, com uma área de 250 quilómetros quadrados e cerca de 1.160 quilómetros de margens.
Fonte: Lusa