Alimentos: preços caem para o valor mais baixo dos últimos quatro anos

preços dos alimentos

As excelentes colheitas de 2014 estão a pressionar o preço dos cereais nos mercados e nem uma procura estável atenua esse efeito. Fiona Stubbs, vice-presidente da BlackRock, não acredita que os preços caiam muito mais.

Os dados da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) relativos a março revelam que o preço dos alimentos voltou a cair, estando no nível mais baixo desde julho de 2010.

Apesar de o açúcar ter sido o grande causador da queda dos preços globais, os cereais aparecem logo no segundo lugar da tabela, segundo a FAO. O preço das matérias-primas agrícolas caiu 1% face a fevereiro e estão num valor 18,7% mais baixo que no mesmo período do ano passado.

As óptimas colheitas de várias culturas - trigo, milho, arroz, leguminosas - foram a principal causa desta queda dos preços, um pouco por todo o mundo, no ano passado.

A vice-presidente da gestora de fundos americana BlackRock, Fiona Stubbs, explica que, apesar de ser extremamente difícil prever o movimento dos mercados das matérias-primas, a verdade é que o preço dos cereais deverá, no entanto, abrandar a descida nos próximos tempos.

«Há fatores tão diferentes que podem entrar no jogo no que concerne à agricultura: as secas podem ser muito influentes em termos das yields, e isso, obviamente, condiciona o preço das commodities agrícolas. Ao longo do ano passado vimos boas colheitas nos EUA e noutras áreas, o que acabou por levar os preços a cair um pouco», referiu a responsável.

A pressionar o preço dos cereais tem estado ainda a quebra na procura de países como a China, que geralmente lideram as importações de commodities agrícolas, revelou a FAO no seu último relatório, publicado no mês passado.

«Se olharmos para o preço do milho, caiu cerca de 18%; o do trigo, cerca de 20%. Quando olhamos para 2015, à partida, não esperamos ver uma queda tão drástica dos preços. Esperamos que se mantenham relativamente estáveis», acrescentou ainda Stubbs.

A vice-presidente da BlackRock acredita, no entanto, que a «procura vai manter-se bastante robusta». «Estamos é a assistir a um reajustamento da oferta. Temos visto agricultores com rendimentos bastante agradáveis a ser capazes de entregar bons rendimentos ao mercado, também. Temos visto plantações quase perfeitas. As colheitas têm sido realmente boas, os rendimentos muito fortes e, portanto, a oferta a aumentar bastante», defende.

«A oferta não é um problema, mas é o que tem levado os preços a cair. Prevemos que, a menos que haja um evento natural, vamos ver novamente boas colheitas e, portanto, boa oferta durante 2015, e que os preços deverão ficar estáveis. Quer dizer, nós sabemos que os preços são muito voláteis, mas acreditamos que vão manter-se nos níveis atuais», acrescenta.

A especialista nota ainda que estes preços mais baixos deverão «ter um impacto direto na economia». Com os alimentos mais baratos, a expectativa é que a procura se robusteça, sobretudo numa altura em que a economia europeia já dá sinais de recuperação.

No entanto, a FAO também já aumentou as estimativas para as colheitas do ano passado. A organização acredita que a produção mundial de cereais foi de cerca de 2,5 mil milhões de toneladas, mais 1% que no ano anterior.

A Argentina, a Ásia e a Europa foram as zonas que registaram as melhores colheitas. Esta previsão sobe em 8 milhões de toneladas as estimativas da FAO feitas logo no início do ano, e a confirmar-se, será a produção global mais elevada dos últimos 15 anos.

Esta quebra nos preços pode favorecer os países em maiores dificuldades por serem muito dependentes da importação de algum tipo de alimentos - Portugal incluído.

Num estudo publicado em 2013, o Instituto Nacional de Estatística (INE) revelava que os cereais e oleaginosas representavam mais de 40% do valor global das importações agrícolas.

A redução dos preços pode ajudar as contas do país e, consequentemente, as contas das famílias que consomem estes produtos.

Portugal quer, aliás, garantir que essa redução de preço chega ao consumidor final.

Recorde-se que a Direção-Geral das Atividades Económicas, em parceria com o Gabinete de Planeamento de Políticas do Ministério da Agricultura e com a Direção-Geral do Consumidor, vai apresentar um observatório da cadeia de valor, no âmbito da Plataforma de Acompanhamento das Relações na Cadeia Agro-alimentar (PARCA), que inclui representantes dos ministérios da Economia e Agricultura, reguladores, grupos de distribuição, agricultores e fabricantes, tal como noticiou o "Sol" no mês passado.

Àquela publicação, o secretário de Estado adjunto da Economia, Leonardo Mathias, explicou que se «trata de acompanhar os fatores que influenciam a formação dos preços dos produtos agro-alimentares, desde a produção à transformação, distribuição e chegada ao consumidor».

Fonte: jornal i 

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