Agroalimentar sobe ao pódio dos recordes
Vinho, azeite, conservas, carne e laticínios, todas juntas, estas indústrias com um cunho tradicional tão profundo, conseguiram aumentar 3,6% as exportações, no ano passado, acima da média nacional, para um total de 4,6 mil milhões de euros, um recorde, como sublinha Jorge Henriques, presidente da Federação das Indústrias Portuguesas Agroalimentares (FIPA), na véspera da realização do 6.º congresso do setor, que decorre a 4 de abril,, em Lisboa, vocacionado para pensar o futuro.
Esse máximo nas transações externas segue o movimento que também se verificou na totalidade das exportações agroalimentares da União Europeia, que atingiram 130,7 mil milhões de euros em 2016, outro recorde. Ainda é possível crescer mais?
«Um setor que há 30 anos estava condenado a desaparecer» deu a volta e, em 2016, «faturou 15,4 mil milhões de euros, consolidando-se como o maior ramo da indústria transformadora nacional, além de representar 4,5% do Produto Interno Bruto».
Na fotografia, destaque para os laticínios, por ocuparem a maior fatia. «Este crescimento é a reafirmação da nossa capacidade, resiliência e afirmação», características que permitiram ganhar notabilidade, não apenas no exterior, mas também no mercado doméstico, «muito por via do maior afluxo de turistas», explica Jorge Henriques.
«É uma prova de que o mercado interno ainda pode crescer mais, mas pode ser um processo demorado, daí a importância das exportações», salienta.
Para mostrar que essa ambição tem reflexo na realidade, o dirigente da federação aponta os últimos dados das vendas ao exterior já deste ano, em janeiro, segundo os quais as expedições «cresceram muito para fora da União Europeia, o que mostra que há potencialidades e novas geografias para onde expandir, como os mercados asiáticos e da América Latina».
A ideia é também recuperar Angola, que era o principal mercado. Jorge Henriques acredita que a atual situação de declínio naquele país se irá reverter dentro de dois a três anos.
Por cá, apesar de todos os contratempos decorrentes do tempo da troika (2011-2014) - admite uma redução na rentabilidade das empresas por causa da quebra do poder de compra e do consumo -, observa: «esta indústria conseguiu sempre manter um nível de faturação estável ou crescente e isso estimula-nos para projetarmos mais crescimento no futuro». Mas com que armas?
O presidente da FIPA considera que as chaves do sucesso têm sido a capacidade que o setor teve de se reestruturar, mesmo antes da crise; a inovação e o talento das pessoas; e a flexibilidade de adaptação. Com um argumento adicional: «em momento algum baixámos os braços. Repare que o setor só foi para agenda política a partir de 2008, com a crise mundial das matérias-primas, por causa de fenómenos climatéricos».
Serão essas armas as mesmas para enfrentar o futuro, mas com mais três determinações, que Jorge Henriques resume: «é preciso criar marcas fortes, para podermos competir; que as instituições que apoiam a internacionalização prossigam o seu trabalho, que este setor dará uma resposta muito afirmativa; e é preciso unir todos os meios destas indústrias e criar valor, porque só assim conseguiremos ser grandes».
Neste contexto, recorda a importância de um protocolo celebrado no ano passado, no âmbito do Cluster Agroalimentar, que viabilizou a criação de um Conselho Estratégico para pensar a internacionalização e a promoção externa, sempre ancoradas na qualidade dos produtos nacionais, cada vez mais reconhecida no estrangeiro.
Mas o presidente da FIPA anota outra preocupação: «pensamos na criação de emprego e no apoio aos jovens talentos que saem das nossas universidades. É importante podermos contar com eles nas nossas empresas».
O setor dá emprego a 108 mil pessoas, diretamente, mas garante mais 500 mil indiretos.
Em relação a problemas recentes reportados pela equivalente da ASAE no Brasil, que dizia ter identificado azeite português impróprio, Jorge Henriques recorda que ainda não se sabe onde é que o produto foi embalado e que a informação carece de veracidade confirmada. Por isso, contrapõe que «todo o azeite exportado de Portugal respeita a legislação comunitária de nacional, e são produtos irrepreensíveis».
Já quanto à carne importada do Brasil com problemas sanitários, e que o Governo assegura não ter entrado em Portugal, o presidente da FIPA sustenta: «confiamos nas autoridades portuguesas. Achamos que temos uma autoridade [a ASAE] capaz de assegurar aos portugueses que a importação e a produção interna garantem as condições de segurança e as regras da concorrência legal».
Fonte: Dinheiro Vivo