Agricultura com rótulo…
A criação de rótulos é uma prática essencial para a descrição e entendimento da realidade. Mas, como em tudo, os rótulos têm vantagens e desvantagens.
Uma das desvantagens é o risco de o rótulo promover a estanquicidade do conhecimento, e mais preocupante, da sua aplicação prática. Felizmente, a realidade é bem mais complexa e os rótulos fraquejam quase sempre quando levados à prática.
O setor agrícola não é exceção, proliferando rótulos, uns mais oficiais que outros, como agricultura biológica, agricultura de conservação, agricultura de precisão, produção integrada, etc. Todos eles se referem essencialmente a sistemas culturais cuja aplicação está longe de ser mutuamente exclusiva. Pelo contrário, não só se tocam como interagem de forma sinergética.
Pode a agricultura biológica tirar partido da agricultura de precisão? Claro que sim! Por ventura até pode tirar mais vantagens, já que possui menos meios para o controlo de pragas e doenças. E o controlo torna-se mais eficaz com uma monitorização mais eficaz.
E a agricultura de conservação onde é que se cruza com a agricultura de precisão? Em toda a linha. O sucesso da sementeira direta, por exemplo, depende do tipo de solo, do teor de humidade do solo, da quantidade de resíduos, etc. Todos estes aspetos podem ser tidos em conta no momento da sementeira, fazendo variar a densidade ou a profundidade de sementeira. No caso do enrelvamento da entrelinha, também a densidade de sementeira (caso exista) pode variar espacialmente e até mesmo a proporção de espécies na consociação em função do potencial de cada zona ou do previsível efeito na cultura. Também a data e número de cortes podem variar espacialmente de acordo com o objetivo pretendido.
Estas duas últimas aplicações são já utilizadas em viticultura no nosso país (por exemplo para homogeneizar o vigor no talhão). Ou seja, a consociação para enrelvamento é mais rica em leguminosas do que em gramíneas e cortada mais tarde nas zonas mais vigorosas e vice-versa.
Sendo a agricultura de precisão um sistema cultural integrador e baseado no uso de informação para a tomada de decisão no local certo, momento certo e quantidade certa, as sinergias com as restantes “agriculturas” são múltiplas!
In Agrobótica nº 5 (editorial).
