A regulamentação dos agroquímicos: Abordagem de risco ou de perigo?

Durante a Alltech ONE Virtual Experience, David Brady, gestor global de conformidade da Alltech Crop Science, apresentou uma discussão sobre regulamentos agrícolas, abordando as perspetivas do seu impacto na maneira como os produtores e consumidores fazem considerações sobre as culturas. O objetivo passou por compreender se a química deixará de ser a força motriz da produção agrícola.

David Brady Alltech Crop Science

Segundo o gestor, se fossemos pela lógica dos números, o futuro da indústria agroquímica deveria ser «brilhante», pois a população mundial irá crescer até 11 biliões de pessoas nos próximos 100 anos. «Tal significa que precisaremos de mais plantações e, portanto, de mais proteção contra as perdas da safra para aumentar o rendimento», começa por explicar, destacando ainda a procura dos consumidores por alimentos sem imperfeições e o combate às alterações climáticas.

«Contudo, há muitos desafios que podem reprimir a disponibilidade dos agroquímicos no futuro», começa por apontar. «Estes desafios estão a acelerar e a provocar alterações nos produtos que estão já disponíveis no mercado».

Em seguida, David Brady apontou dois grandes desafios que são importantes analisar: os ciclos mais longos de desenvolvimento de produto e custos cada vez maiores, que estão conectados com o segundo desafio, que se relaciona com as exigências de regulamentação cada vez mais rigorosas.

«Será que os regulamentos se tornaram mais rígidos ou mais imprevisíveis?», questionou. «Na Europa, há um movimento para regulamentar produtos tendo por base o perigo e não o risco. Uma abordagem tendo por base o risco relaciona-se com a ideia de que podemos avaliar e gerir o risco para que as substâncias que são perigosas talvez possam ser permitidas, isto se o risco associado a estas for avaliado como reduzido ou confortável. Por outro lado, a abordagem europeia implica que, se uma substância ativa for considerada intrinsicamente perigosa, nenhum risco será assumido e o seu uso será completamente proibido sem necessidade de uma avaliação adicional», explicou David Brady.

«É óbvio que a abordagem europeia é muito mais restrita», conclui, apontando que as  abordagens tendo por base o risco ainda são utilizadas nos EUA e na maioria dos países não europeus. 

O gestor defende que as avaliações cientificas devem ser independentes de opiniões políticas, bem como de opiniões públicas sem conhecimento de causa sobre o tópico. «As ONG's ficam, muitas vezes, insatisfeitas perante os resultados de avaliação de risco dos orgãos reguladores o que, nos EUA, levou a processos contra as entidades, como a EPA. Isto faz com que os tribunais se envolvam cada vez mais nos processos de regulação agroquímica» o que, na opinião de David Brady, complica o processo a níveis demasiado elevados. 

Sobre a opinião pública relativamente aos agroquímicos, o gestor acredita que «a mensagem que é transmitida ao públicos é, muitas vezes, simplificada em demasia. A mensagem é sempre que os agroquímicos são "maus" para a saúde humana e que os pesticidas e fertilizantes podem não ser utilizados na agricultura e que tal eliminação não vai ter impacto na quantidade ou qualidade da agricultura». Além disso, David Brady acredita que o público pensa que os reguladores envolvidos na questão não são imparciais ao abordar o assunto. 

Regressando novamente à questão europeia, o investigador apresentou um estudo em que resultados apontam que 70% dos europeus acreditam que os riscos à vida e à saúde por parte dos agroquímicos aumentaram consideravelmente ao longo do tempo.

O gestor aponta que o escrutínio público afetou os regulamentos em vigor e expôs o exemplo da renovação do glifosato, que aconteceu em 2002. «Diversas autoridades mundiais concluíram que o herbicida não é cancerígeno. Contudo, mais de um milhão de cidadão das UE pediram à Comissão Europeia para proibir o glifosato com base em campanhas de ONGs», apontou, realçando assim a importância da opinião pública para os reguladores, que atenderam ao pedido.

David Brady defende que a regulamentação atual está a impedir a inovação no setor dos agroquímicos. «Desenvolver novos produtos nunca foi barato ou fácil. Em média, são necessários 11 anos de pesquisa e desenvolvimento para lançar um único produto no mercado e com um custo elevado», conclui, realçando que as opções estão a ficar reduzidas e a apontar alternativas de cariz biológico.

O gestor da Alltech Crop Science acredita que «a forma como a regulamentação progediu favoreceu empresas como a Alltech, cujos produtos são primariamente de natureza biológica mas, pela minha experiência a trabalhar no setor com defensivos químicos e biológicos, diz que precisamos de regulamentação baseada numa abordagem de risco e não de perigo», concluiu. 

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