A PhytoClean e a proteção da saúde e ambiente

​Projeto lançado em 2019, dedica-se à criação de plantas que atuam na limpeza de águas e solos contaminados. Saiba mais sobre esta iniciativa numa entrevista concedida ao Agronegócios.

PhytoClean

AGRONEGÓCIOS: Em primeiro lugar, gostaria que nos descrevessem em que consiste a PhytoClean.

PHYTOCLEAN: A PhytoClean é uma empresa portuguesa pioneira, dedicada sobretudo à produção de plantas aquáticas autóctones com capacidades fitorremediadoras (remediação através de plantas). Estas espécies autóctones tem a capacidade de depurar águas e solos contaminados, eliminando elementos prejudiciais ao ambiente, permitindo assim a reabilitação de locais degradados.

Com aplicação desde lagos, piscinas, tratamento de águas residuais e industriais, reabilitação de locais contaminados/degradados, a PhytoClean fornece um serviço especializado “chave-na-mão” que passa pelo estudo, consultoria de base científica e implementação de soluções adequadas a cada caso, fruto de uma equipa altamente qualificada. A PhytoClean usufrui de local para testes e produção em larga escala, onde se efetuam ensaios com diversos efluentes de modo a investigar as espécies mais adequadas na remoção de elementos nefastos. Para tal, realiza também análises químicas de água e solo, possibilitando um acompanhamento periódico de importantes parâmetros analíticos, assim como o processo adaptativo das espécies vegetais ao meio, potenciado a criação de um equilíbrio ecossistémico.

AN: Gostaríamos também de saber mais sobre as pessoas que desenvolveram o projeto, bem como as entidades que vos apoiaram.

PC: O projeto foi desenvolvido por duas pessoas: Patrícia Gomes e Joel Castro.

Patrícia Gomes, de 34 anos, é licenciada em Biologia e Geologia e Mestre em Biologia. Atualmente é investigadora no Instituto de Ciências da Terra (Universidade do Minho), encontrando-se a terminar o Doutoramento em Ciências. Autora de vários artigos científicos, divulgadora ativa de ciência, é uma apaixonada pela natureza, animais e desenvolve todos os esforços na reabilitação ambiental.

Joel Castro de 35 anos, é licenciado em Engenharia Eletrónica. Possui larga experiência em gestão de equipas e no desenvolvimento de soluções sustentáveis. Uniu-se à PhytoClean pois desde sempre nutriu interesse pelo desenvolvimento de sistemas ecológicos e de baixo impacto ambiental.

Após ter surgido o mote para a criação deste projeto, é de destacar a importância de associações e entidades que tanto contribuíram para o financiamento como na aquisição de ferramentas necessárias ao arranque da PhytoClean. Como tal, destacamos o programa PDR2020 e a TecMinho, que permitiu a aquisição de conhecimentos práticos em empreendedorismo e gestão de empresas. A associação à Universidade do Minho, após a aquisição do estatuto de spin-off, foi uma mais valia para o projeto assim como para o desenvolvimento da ciência, nomeadamente através da investigação realizada em parceria com a instituição.

AN: A ideia que surgiu inicialmente foi a que se concretizou no final ou sofreu alterações pelo percurso?

PC: Uma ideia ou um projeto está sempre em constante atualização. Apesar de termos traçado um plano a curto, médio e longo prazo, o que verificamos foi uma antecipação do nosso modelo de negócio. Isto ocorreu devido à necessidade do mercado, ou seja, inicialmente a nossa ideia estava focada na produção e venda de plantas aquáticas para tratamento de água, mas o nosso plano a médio e longo prazo entrou em ação, tal como a investigação, consultoria e construção de projetos de raiz.

AN: Quais foram as necessidades primárias e secundárias que os levaram à criação deste projeto? E qual era o principal objetivo ao cria-lo?

PC: A PhytoClean nasceu da atual exigência da sociedade por produtos e soluções que protejam a saúde e o ambiente, privilegiando cada vez mais a flora autóctone.

Este projeto apresenta-se como pioneiro, sendo o principal objetivo contribuir para um caminho mais sustentável, ecológico e amigo do ambiente. A aplicação do conceito do tratamento para a posterior reutilização de um bem tão importante para todos nós, como a água, baseado numa economia circular e aliado aos principais Objetivos do Desenvolvimento Sustentável para 2030, foram a base de criação do negócio.

O facto de o tratamento não ser através de químicos, permite que a água possa ser utilizada para outros fins, nomeadamente a rega. Além deste importante aspeto, o elevado caracter ecológico, devido à utilização de espécies autóctones, fomenta ainda a biodiversidade local, sendo uma excelente opção para fins paisagísticos e educativos.

AN: Como explicam a vossa diferenciação em relação ao que já existe no mercado?

PC: No que diz respeito ao mercado, sabemos que a produção de plantas ornamentais, no que se refere à utilização em espaços verdes urbanos, é já bastante explorada em todo o território nacional. No entanto, quando se procuram fornecedores para plantas de cariz mais ecológico/funcional do que ornamental, nomeadamente para a integração paisagística e recuperação de zonas naturais danificadas, a dificuldade de oferta é já considerável. No que diz respeito a produtores de plantas adaptadas a sistemas aquáticos, a oferta, quando existente, remete-nos praticamente para fornecedores estrangeiros. Já no caso de plantas produzidas sob substratos muito saturados, não foram encontrados concorrentes.

AN: Como estão a funcionar as vendas?

PC: As vendas e os contactos que temos sido alvo estão a superar as nossas expectativas. Acreditamos que a nossa abordagem dinâmica ao mercado, criando soluções focadas nas necessidades dos nossos clientes, seja um fator de diferenciação.

AN: EsTá nos planos exportar o produto?

PC: Apesar de o foco atualmente ser o mercado português, está nos nossos planos a exportação para breve.

AN: Oferecem ainda serviços adicionais, como consultoria especializada. Como tem corrido essa vertente de negócio?

PC: É uma vertente que está associada de forma intrínseca ao nosso projeto, isto porque é necessário realizar um estudo antes de aconselhar um cliente sobre a melhor opção e quais as espécies a aplicar. É necessário, a título de exemplo, conhecer as características físico-químicas da água, o local a implementar, o tipo de utilização que o cliente pretende, etc.. Assim sendo, tem sido uma vertente muito bem aceite e valorizada pelos nossos clientes.

AN: Em relação a requisitos e licenças, têm enfrentado algumas dificuldades?

PC: Por ser um conceito recente e pouco explorado no nosso país, por vezes o que notámos é o difícil enquadramento. No entanto, com alguma resiliência, as dificuldades têm sido sempre ultrapassadas.

AN: Hoje em dia, é fácil inovar no setor agroalimentar em Portugal? Existem os apoios corretos para tal?

PC: Confessamos que para a criação e apoio à inovação existem apoios, mas por vezes difíceis de encontrar e concretizar. É necessário despender muita energia e tempo para encontrar os apoios corretos. As burocracias e prazos são outra vertente que acaba por criar constrangimentos à inovação.

AN: Atualmente, a evolução do natural é essencial para todo o setor agroalimentar. Consideram que os nossos produtores e empresários do setor já têm essa noção?

PC: Pensamos que sim. É essencial a introdução de novas ideias. Os conceitos pré-definidos podem muito facilmente desequilibrar uma empresa já bem estabelecida. É necessário estar à frente da corrente evolucionista, o que para nós é algo muito natural pois é a base daquilo que acreditamos.

AN: Encontram-se a desenvolver novos produtos?

PC: Como o objetivo, desde sempre, passou e passa pela investigação (área que vemos como fundamental na perceção do nosso produto e também no desenvolvimento de outras técnicas e áreas a remediar), estamos constantemente envolvidos em projetos de investigação que nos poderão levar a alcançar novos horizontes. De momento encontramo-nos a testar efluentes com características muito adversas, no sentido de criar um pré-tratamento com espécies selecionadas criteriosamente.

AN: Quais são os próximos passos para o futuro?

PC: O objetivo para o futuro passa por criar novos postos de trabalho, alargando a equipa técnica e não técnica; colaborar com diferentes entidades, desde centros de investigação e outras empresas, no sentido de criar sinergias nos mais variados contextos; entrar no mercado da construção com o objetivo de estudar soluções mais ecológicas e inovadoras para o dimensionamento de sistemas de tratamento de efluentes; e aumentar ainda mais os nossos níveis de produção.

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