A colza mutante Clearfield

Por: Paulo Rodrigues,

Foi recentemente anunciada a introdução, em França, de uma variedade de colza resistente a herbicidas, denominada de Canola Clearfield®, obtida com recurso a uma técnica de melhoramento genético clássico que recorre a mutações induzidas. Esta planta, colza mutante, não é considerada um OGM (organismo geneticamente modificado) pois não sofreu, no seu genoma, da introdução de sequências novas, tendo apenas por base a transferência/substituição de alelos ou a modificação da informação genética através da mutação induzida.

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O sistema Clearfield® envolve dois componentes, variedades de plantas tolerantes a imidazolinona e o uso do herbicida imidazolinona.

Para a criação da colza (canola) tolerante à imidazolinona recorreu-se ao isolamento e de micrósporos de variedades de colza expostos à colquicina. O uso de plantas duplo-haplóides permite, entre outras vantagens, a rápida produção de linhagens totalmente homozigóticas e a identificação de genes mutantes.

As plantas obtidas foram expostas ao herbicida imazetapir tendo apenas sobrevivido 5 plantas mutantes, destacando-se 2 como tendo uma maior resistência.

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Na tabela abaixo podemos ver, nos mutantes que se destacaram, onde foi feita uma substituição no codão 653 na planta P1 e 574 na planta P2 de um único nucleotídio nos respectivos genomas, sabendo que esta espécie tem dois tipos: o genoma A e C. Podemos também ver qual a modificação feita nos aminoácidos, os genes responsáveis pelo controlo das enzimas AHAS e o método de selecção feito.

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Foi a partir destas plantas que se desenvolveram todas as colzas tolerantes a imidazolinona, as quais foram, em 1995, lançadas no mercado como “Smart Canola”, sendo que hoje em dia são comercializadas pelo nome Clearfield® canola.

A vantagem da tecnologia Clearfield® é que as planas obtidas, sejam de colza, milho, girassol ou mesmo trigo, são tolerantes aos herbicidas da família das Imidazolinonas, e que inclui o imazapir, imazapic, imazetapir, imazamox, imazametabenz e imazaquin. Estes são herbicidas selectivos, pois são efectivos para um amplo conjunto de infestantes, incluindo a própria colza não resistente.

Estes herbicidas interferem na produção dos aminoácidos essenciais (isoleucina, leucina e valina), inibindo uma determinada enzima, a acetohydroxyacid sintase (AHAS) ou também conhecida como cetolactato sintase (ALS), importante nesta via. Os seres humanos e animais não produzem estes aminoácidos, o que contribui assim para a baixa toxicidade destes herbicidas.

A imidazolinona é comercializada pela empresa BASF, a qual dispõe de vários tipos para a canola Clearfield® e outras espécies, como milho, arroz, trigo, etc., também mutantes e Clearfield®. Já as sementes resistentes são produzidas e comercializadas por várias empresas.

No milho, as principais empresas que comercializam este produto são a Pioneer, Pacific Seeds e HRS Seeds.

Segundo a bibliografia disponível, o potencial de risco do cruzamento com variedades não Clearfield® é baixo, mas existe. Para evitar isto, o cultivo de planta Clearfield® não deve ser feito perto de plantas não Clearfield® e deve haver também o controlo de plantas de colza que nasçam espontaneamente no terreno por restos de culturas anteriores.

Quanto ao cruzamento com espécies aparentadas, o risco é ainda mais baixo que no caso anterior, pois a hibridação irá gerar plantas com um fraco vigor e uma esterilidade alta, as quais não irão sobreviver tanto no campo de cultivo como no habitat natural. Em todo o caso não são conhecidos riscos para a saúde animal, nem danos ambientais que possam resultar destes cruzamentos acidentais, e de como os genes presentes nestas plantas podem, eventualmente, ser encontrados nas populações selvagens.

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