Uma nova solução para prevenir e detetar incêndios florestais

O Forest Supervisor é um sistema de deteção de incêndios florestais para governos e proprietários privados. Este utiliza uma série de sensores, colocados dentro da floresta, ao lado de algoritmos de ia, para prevenir e detetar o potencial e o início de incêndios. A ferramenta, vencedora da categoria desenvolvimento rural da 6ª edição do Prémio Empreendedorismo e Inovação do Crédito Agrícola, surge como algo essencial, numa altura em que as alterações climáticas estão longe de estar controladas.

Forest Supervisor

Texto Sofia Cardoso Fotos LADSensors

João Ladeira, CEO da LADSensores, responsável pelo Forest Supervisor, explica-nos que este é um «sistema que analisa dados atmosféricos como a temperatura, dióxido de carbono e humidade, realizando-o através da utilização de algoritmos de inteligência artificial, permitindo assim detetar e monitorizar precocemente incêndios florestais».

E como surge a criação deste sistema inovador? João Ladeira trabalhou durante mais de dez anos em programação, tendo desenvolvido um interesse crescente no «desenvolvimento de soluções para problemas do quotidiano». Em 2015 venceu o Tourism Innovation Competition, concurso promovido pelo The Lisbon MBA e o Turismo de Portugal, com o projeto “Análise do comportamento dos turistas usando social media”. O Forest Supervisor surge em 2018, após a criação da startup LADSensors. No mesmo ano, foi o vencedor do 8º Programa de Aceleração, promovido pela startup Sintra. Foi também premiado em 2019 pelo Programa Europeu DIVA com uma bolsa de aceleração. O último prémio que arrecadou foi o do Crédito Agrícola.

Quando questionado sobre as necessidades primárias e secundárias que levaram à criação deste sistema, o CEO da LADSensors destaca que «os incêndios florestais são um problema crescente a nível mundial, havendo a urgente necessidade de desenvolver novos métodos de deteção precoce e eficaz. Com o desenvolvimento tecnológico a que assistimos nas últimas décadas, tornou-se imperativo aplicar novas ferramentas na proteção do ambiente».

Assim, o principal objetivo ao criar o sistema passou por obter uma «solução custo-eficaz, que permitisse detetar rapidamente um incêndio, emitindo um alerta imediato para as entidades competentes, de forma a combater o incêndio num estágio inicial, minimizando a perda de fauna e flora, bem como de vidas humanas».

Apesar do sistema ter aparecido em 2018, a ideia que surgiu inicialmente foi «sendo desenvolvida e aperfeiçoada ao longo do último ano», explica-nos João Ladeira. «Os testes no terreno têm permitido fazer algumas melhorias tanto a nível de hardware, como de software, tornando os sensores mais sensíveis às alterações ambientais.

A caixa tornou-se mais resiliente a ambientes atmosféricos extremos, fundindo-se esteticamente com as cores da natureza». São consideradas como ferramentas essenciais para o sucesso do Forest Supervisor os sensores atmosféricos que, «juntamente com os algoritmos de inteligência artificial, permitem detetar um incêndio florestal rapidamente com um elevado nível de fiabilidade», destaca.

«Comparativamente a outras soluções existentes no mercado, o Forest Supervisor é uma solução de custo reduzido, que permite detetar rapidamente um incêndio florestal – a menos de 4 minutos – e a uma distância reduzida do foco do incêndio, a menos de 300 metros», defende. É importante compreender que a principal diferenciação do sistema em relação ao que já existia no mercado se relacionada com rapidez e custo, mas não só. «Tem também dimensões reduzidas, o que o torna fácil de instalar, sendo amigo do ambiente a nível energético, com a utilização de um painel solar, sem necessidade de utilização de baterias químicas».

Em relação a requisitos e licenças, as dificuldades não têm acontecido. «A nossa patente encontra-se emitida e em relação à caixa obtivemos certificação IP65 em testes de laboratório feitos pelo ISQ». O primeiro protótipo foi testado no Cartaxo, aquando do primeiro teste no terreno. «Temos também um piloto a decorrer em Sintra, com os Parques de Sintra Monte da Lua. Temos agendado para o início de 2020 um piloto com a The Navigator Company», conta-nos João Ladeira.

Segundo o próprio, os testes iniciais encontram-se agora finalizados, existindo, atualmente, uma melhoria contínua do sistema. «Os sensores já estão a ser comercializados, quer a nível nacional, como internacional. Neste momento, a nossa maior fonte de rendimento é a exportação para países como Grécia, Irão e Brasil», explica-nos.

Sobre as zonas de Portugal onde seria fundamental a implementação do sistema Forest Supervisor, João Ladeira defende que existem terrenos em risco por todo o território, mas destaca as zonas com menor acesso. «Portugal é um país rico em fauna e flora, com inúmeras zonas florestais que carecem de proteção e vigilância, principalmente nos meses de maior calor», começa. «A implementação do nosso sistema é de extrema importância em regiões de floresta densa, com dificuldade de acessos por parte de bombeiros e restantes entidades competentes, bem como em zonas com maior registo de incêndios florestais».

Sobre os funcionários, o CEO explica-nos que a equipa da LADSensors é constituída por quatro elementos: um pelo desenvolvimento de software, outro pelo desenvolvimento de hardware, um elemento responsável pela mecânica e um quarto elemento pelo marketing. De destacar que a empresa ainda se trata de uma startup com elevada margem de crescimento.

Sobre a emergência de negócios para a área agroflorestal, João Ladeira realça que, atualmente, «a inovação existente no setor agroflorestal no nosso país encontra várias dificuldades a nível de implementação, nomeadamente uma alta resistência a medidas preventivas de incêndio, privilegiando-se o combate quando um incêndio já se encontra com grandes dimensões».

O CEO corrobora esta ideia com dados. «Existem inúmeros estudos internacionais que apontam como essencial a prevenção, minimizando os custos associados ao combate, sendo os sistemas de redes de sensores os mais eficazes na deteção de incêndios florestais, comparativamente a sistemas de câmaras e de satélite. Infelizmente, em Portugal ainda temos um longo caminho a percorrer no que concerne a mudança de mentalidades e tomada de decisões».

E os produtores e proprietários já têm noção da importância da tecnologia para os setores agrícola e agroflorestal nacional? João Ladeira acredita que sim. «A divulgação por parte dos media das tecnologias aplicáveis ao setor agrícola e ao setor agroflorestal tem contribuído nos últimos anos para uma maior compreensão das vantagens e da aplicabilidade de novas estratégias pelos nossos produtores e empresários do setor. É necessário continuar a promover uma partilha de conhecimento de ambas as partes».

Relativamente aos próximos passos para a solução inovadora, o crescimento surge como a palavra de ordem, quer a nível de relações, quer à concretização de melhorias ao programa. «No futuro, prevemos escalar a nossa produção, estabelecendo parcerias chave a nível nacional e internacional, nomeadamente com empresas e governos. Estamos a trabalhar continuamente para a melhoria do sistema, estudando também as restantes aplicabilidades do sensor, como por exemplo ao nível da monitorização da qualidade da água e dos solos», conclui.

Nota: Artigo publicado originalmente na Agrotec 34

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