PSA nos kiwis ameaça produção nacional

PSA nos kiwis ameaça produção nacional

Por: Catarina Castro Abreu

PSA – Pseudomonas Syringae pv. Actinidiae é o nome da bactéria que está a assustar os produtores de kiwis. Já existem algumas zonas afectadas em Portugal, nomeadamente no Norte, mas o que mais preocupa é a ausência de respostas para combater esta doença que ameaça a produção nacional dos kiwis. Por não haver meios químicos eficazes para controlar a PSA, resta aos agricultores as medidas preventivas como a observação dos primeiros sintomas e a destruição das plantas infectadas.

A AGROTEC já tinha alertado para este cenário na sua edição anterior. Por isso, resolveu ir para o terreno e conversar com Fernão Veloso, da empresa Douro ao Minho, que actualmente produz cinco mil toneladas de kiwis. São donos da Delminho, a empresa que leva os kiwis nacionais para Espanha. Estão há vinte anos no mercado, contam com 110 produtores, entre as regiões do Douro e do Minho, que cultivam um total de 350 hectares. Este responsável é ainda membro da International Kiwi Organization.

Medo. Este é o sentimento que assalta os produtores. “Os agricultores estão assustados. Eu próprio tenho 20 hectares. Fui afectado em três hectares este ano, mas são 20 hectares juntos, o que pode afectar toda a produção”, diz Fernão Veloso, para que a melhor política é o “conhecimento das técnicas de controlo do ciclo da doença e decidir que, quando há focos, eliminar essa produção”.

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Apesar deste cenário preocupante, Fernão Veloso lembra que este é um “drama” que outras culturas já experimentaram e aconselha quem está a pensar iniciar-se neste negócio, a “esperar um ano ou dois”. “É que esta doença tem uma prevalência maior em novas plantações. E o kiwi demora dois a três anos a produzir fruta de qualidade”, disse.

Este responsável culpa a intensificação das culturas por esta massificação da doença: “a bactéria começou a tomar proporções agressivas em 2008, principalmente em Itália, na zona Latina, onde existe 60 por cento da produção italiana. Intensificaram a cultura e tornaram a planta vulnerável. Fomos à China buscar plantas, principalmente os kiwis de polpa amarela, que se relaciona com Itália porque é aqui que está centrada toda a inovação tecnológica. Os outros países europeus começaram a trazer plantas de Itália e a doença começou a propagar-se”.

Para piorar este cenário, “as condições atípicas que tivemos há dois anos com um Inverno muito rigoroso e uma Primavera anormal desenvolveu muito a doença. Estamos a tê-la principalmente nos pomares novos e onde fizemos os excertos vindos de Itália”.

Explica que a bactéria “ataca a planta e põe-na vulnerável e tem uma capacidade de multiplicação muito grande”. Mas Fernão Veloso vê uma luz ao fim do túnel graças a “um protocolo no sentido de eliminar todas as tecnologias de multiplicação de plantas que geraram esta propagação, usando agora uma tecnologia de produção de plantas pós-PSA. Não se fazendo novos pomares penso que poderemos baixar a população e o equilíbrio natural”. E acredita que não vai deixar de haver kiwis no mercado.

“Aquele aumento de produtividade que estavam a prever é que não poderá acontecer dentro daquele apogeu que se adivinhava. As profilaxias têm que ser tomadas: evitar adubações exageradas, fazer as podas e desinfectar os cortes, saber o momento oportuno de fazer o corte, escolher o material vegetativo, isolar ao máximo, fazer podas com condições climatéricas que não proporcione a penetração da doença. Tudo isso são passos que estão de imediato ao nosso alcance e que o agricultor não estava habituado”, realça.

Outra das esperanças de Fernão Veloso é na Ciência. É que a “comunidade científica está a tentar procurar estirpes de plantas resistentes a esta doença. Há estudos que se estão a desenvolver, no entanto não existem plantas que sejam imunes. E ter uma planta não acontece de um dia para o outro, demora cinco a sete anos”. Aliás, “é uma planta com 110 anos que aguentou muito tempo em termos de problemas sanitários. Pensa-se que os produtores foram os responsáveis pela proliferação ao criar novas variedades que são mais sensíveis.”

Fernão Veloso diz ainda que existe a produção do hemisfério norte – Península Ibérica (que produz 30 mil toneladas e consome cerca de 40 mil toneladas) e do hemisfério sul – Nova Zelândia e Chile – produtores importadores.

Biologia e meios de controlo

Pseudomonas syringae. pv. actinidiae é o agente causal da doença chamada "cancro bacteriano do kiwi".

Este organismo foi incluído na lista de alerta da EPPO (European and Mediterranean Plant Protection Organization) em Novembro de 2009. A doença foi assinalada pela primeira vez no Japão, posteriormente foi referida na Coreia e no Irão. Na Europa, surge em 1994, em Itália, na região da  Latina, onde a bactéria é isolada em plantas de Actinidia deliciosa. Na Primavera de 2008, na mesma região, a bactéria infectou três a cinco por cento de plantas num pomar de A. chinensis cv. Hort 16A, sendo a primeira vez que é identificada numa variedade de kiwi de polpa amarela.

Entre 2007 e 2008, a província de Treviso, na zona da Latina, em Itália, observou níveis de infecção entre os 50 e os 80 por cento. As incidências mais elevadas estavam associadas às variedades de polpa amarela, nomeadamente Hort 16A (sempre superior a 70 por cento). Ainda não há muita informação sobre esta bactéria, mas sabe-se que penetra na planta através de feridas naturais ou dos cortes da poda, tendo capacidade de se movimentar através do sistema vascular.

Na Primavera, em condições de elevada humidade relativa, há produção de  exsudado bacteriano, o que permite a dispersão da doença através de operações culturais inadequadas, da chuva e do vento. Invernos frios e húmidos, seguidos de Primaveras húmidas, parecem ser favoráveis à doença.  A utilização de plantas infectadas na plantação de pomares novos é responsável pela transmissão da bactéria a grandes distâncias.

Não existem meios de luta curativos, por isso deve-se evitar a introdução do agente causal no pomar. O pomar deverá ser inspeccionado com regularidade, nomeadamente no início da Primavera e no Outono, quando os sintomas são mais visíveis. Nas plantas que apresentem sintomas poderão fazer-se arranques (50 cm abaixo de lenho são), numa tentativa de regeneração a partir de nova rebentação. Os rebentos deverão ser observados e, caso apresentem sintomas da doença, as plantas deverão ser arrancadas e queimadas.

Os tratamentos com produtos à base de cobre são recomendados na Primavera, antes da rebentação, no Outono, após a queda das folhas, e sempre que as plantas apresentem feridas devido ao granizo ou ventos fortes. As adubações deverão ter por base análises de solo e foliares, evitando o vigor excessivo das plantas. Deve-se manter o controlo do coberto vegetal no pomar. Na poda, as plantas com sintomas deverão ser podadas em último lugar, tendo-se o cuidado de desinfectar as tesouras e os serrotes com uma solução de hipoclorito de sódio a 10 por cento ou álcool a 70 por cento. Deve-se podar com tempo seco, uma vez que não se pode excluir a hipótese de infecção através da aplicação de pólen contaminado, caso seja necessário utilizar pólen, garantir que este esteja isento da bactéria. Só para se ter uma ideia das consequências desta doença, no passado mês de Julho, os serviços de fronteiras da Nova Zelândia começaram a restringir a importação e a fazer controlos de quarentena de todos os produtos orgânicos que entram no país, no sentido de controlar a doença que está a devastar uma indústria multimilionária - os kiwis.

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