Portugal tem potencial para aumentar produção de cereais de qualidade
O Clube Português dos Cereais de Qualidade organizou, a 3 de junho, na sede da Cersul, em Elvas, uma jornada onde apresentou o seu trabalho pioneiro para a obtenção de matérias primas de qualidade usadas na produção de malte para cerveja, baby food e farinhas especiais para panificação.
A jornada contou com a presença de cerca de 60 convidados, entre os quais o ministro da Agricultura, que participou na visita aos campos de demonstração de trigo duro, trigo mole e cevada dística, realizados por agricultores associados da Cersul.
«Pude constatar que a organização da Fileira dos cereais é fundamental e que esta estratégia de aposta na qualidade é o caminho a seguir, porque existe um enorme potencial de aumento da produção por via da qualidade», disse Capoulas Santos, sublinhando que este Clube é bom exemplo de que o interprofissionalismo informal funciona.
O Clube Português dos Cereais de Qualidade existe há 17 anos, com o objetivo de juntar toda a cadeia de valor de cereais de elevado valor acrescentado, nomeadamente trigo mole panificável, trigos de força, trigos para baby food, trigo duro e cevada dística, com vista à obtenção de matéria-prima que corresponda às exigências de qualidade do mercado.
Além da produção e indústria, tem ainda assento nesta estrutura a investigação agrícola pública, através do INIAV, ex-Estação Nacional de Melhoramento de Plantas de Elvas.
«Este Clube é o primórdio de uma associação interprofissional que visa fornecer produtos de qualidade para que o consumidor prefira o que é português. Ao fim de 17 anos de existência, estes encontros têm permitido uma aproximação cada vez maior entre produtores e indústria e a adoção de soluções win-win», explicou Bulhão Martins, presidente da Direção da Cersul, uma das quatro organizações de produtores que compõem o Clube e anfitriã do evento.
Embora seja um nicho de mercado onde a procura é estável, a produção nacional satisfaz apenas uma pequena parte das necessidades da indústria em cereais de qualidade, estimando-se que exista uma margem de crescimento para o triplo da atual produção.
«Há poucos países a produzir para este nicho de mercado e Portugal tem boas condições de produção de trigos com elevado valor acrescentado. É uma oportunidade para trabalharmos em fileira e substituir importações», reconhece João Amorim Faria, responsável da Cerealis, uma das indústrias que integra o Clube.
«Em Portugal há condições de solos, clima e variedades que podem ser muito bem explorados, mas é necessária uma concertação de esforços para remarmos todos na mesma direção. Precisamos de lotes maiores e muito homogéneos, que só se conseguem com produção em escala e organização da produção», explica Paulo Cardoso, responsável da Ceres, outra indústria com assento no Clube que processa 130 mil toneladas trigo/ano, das quais apenas 20% é comprado em Portugal.
Os trigos melhoradores são usados para corrigir lotes de trigo com valor de força ou de proteína mais baixos e para produção de farinhas especiais. O seu valor de mercado é superior ao de outros trigos. Por exemplo, em 2015 o preço pago à produção por uma tonelada de trigo melhorador rondou os 240€, enquanto o trigo forrageiro não ultrapassou os 180€/ton.
Estima-se que Portugal produza cerca de 100 mil toneladas destes cereais, representando um valor de mercado de 4 milhões de euros.
As expetativas para a atual campanha de cereais de pragana são positivas, com produtividades acima da média no Alentejo.
«Os cereais foram mal tratados na última reforma da PAC, esperamos que no próximo QCA o cenário se altere, porque Portugal não pode continuar a importar 95% dos cereais que consome», disse Carpinteiro Albino, presidente do Clube Português dos Cereais de Qualidade, em tom de recomendação ao ministro da Agricultura.
A Cersul é pioneira na produção de cereais de qualidade usados na elaboração de baby-food, com um itinerário cultural praticamente isento de pesticidas e uso reduzido de fertilizantes; lotes de trigo mole de qualidade superior e homogénea, usados como corretores ou melhoradores pela indústria de panificação e de gritz de milho usado na produção de cerveja.
Os 170 associados da Cersul produzem 60.000 hectares de cereais, 30% dos quais de qualidade superior. A elevada capacidade de armazenamento do agrupamento e um laboratório para análises dos cereais permite-lhe formar lotes homogéneos que respondem aos requisitos da indústria.