Portel: à descoberta do montado e das paisagens do Sul

Chama-se “A Bolota - Pavilhão Temático” e trata-se de um espaço museológico, inaugurado em setembro de 2013, na vila alentejana de Portel. O presidente da Câmara, José Manuel Grilo, fala ao Agronegócios do projeto que proporciona ao visitante a descoberta e interpretação da paisagem e dos recursos locais. A bolota e o montado são os fios condutores desta viagem de sons, cheiros e sabores vitais para o desenvolvimento das economias locais e revitalização do Mundo Rural.

bolota

Situado no antigo matadouro municipal, na rua 1.º de Maio da vila, o Pavilhão tem como objetivo promover a bolota e o montado, símbolos de referência das paisagens do sul.

«Inicialmente existia a necessidade prioritária de intervir e recuperar um edifício público, construído no início do século passado, que estava bastante degradado e que no passado tinha tido um papel importante na economia do concelho, pois era o matadouro municipal», começa por explicar o autarca.

Foi então que o município pensou «numa nova utilidade para este imóvel e que de alguma forma pudesse servir novamente o concelho. Daí que, na continuidade da política municipal, do empenho e esforço do município em contribuir para a divulgação, valorização e conhecimento dos montados, um recurso natural que representa um importante ativo e suporte ambiental, cultural e económico no nosso concelho, tivesse surgido naturalmente a ideia para este projeto e que a autarquia candidatou aos fundos comunitário do Inalentejo».

José Manuel Grilo realça que o espaço museológico, inaugurado em setembro de 2013, «proporciona a descoberta e interpretação da paisagem e dos recursos locais, através dos cinco sentidos».

O visitante pode aqui descobrir os valores naturais e culturais e reencontrar os saberes seculares, «bem como memórias e vivências de quem habita este território no coração do Alentejo, em Portel».

O espaço conta com quatro salas: Sala Artesanato, Sala Cortiça, Sala Património, Sala Sentidos.

O edil conduz-nos na viagem ao espaço. «Através dos cinco sentidos, e de uma forma lúdica, divertida e pedagógica, podemos olhar as paisagens de sobro e azinho, ouvir o cante alentejano, cheirar a esteva e o rosmaninho, saborear o paladar do mel e sentir a textura da cortiça», começa por referir.

O visitante é levado, ao longo de todo o percurso interno, «a descobrir o montado e os produtos que lhe estão associados, e dos quais se destacam para além da cortiça, as plantas silvestres, as ervas aromáticas, os cogumelos, a apicultura, a caça, a criação do porco alentejano e da cabra serpentina, e ainda o artesanato e as atividades turísticas, um dos mais recentes produtos do montado».

Sons, sabores e texturas

Na Sala Artesanato estão expostos um conjunto de objetos em cortiça e madeira, esculpidos à navalha pelas mãos dos artesãos do concelho.

«São objetos que testemunham os usos e costumes de outros tempos. Para além da exposição, este espaço oferece ainda ao visitante a possibilidade ver um artesão a trabalhar ao vivo a madeira, o buinho ou a cortiça», explica o autarca.

Na Sala Cortiça há uma montra deste «nobre material» onde se encontram alguns exemplos das diversas aplicações atuais da cortiça, quer na indústria, construção civil, quer em particular no design de objetos e acessórios de moda, com destaque para a coleção de vestuário em cortiça da estilista Mónica Gonçalves, apresentada pela primeira vez em Portel, em 2014.

Na Sala Património «há uma explicação sobre o montado e sobre o próprio concelho de Portel, combinando as várias dimensões do Montado: Natureza, Vida Rural, Tradição e Turismo, com especial destaque para a albufeira de Alqueva».

No fundo, aqui o visitante é convidado a descobrir o património natural, a paisagem e o património cultural do território, «desafiando ainda o visitante a “cantar uma moda à alentejana”».

Por fim, na Sala Sentidos há lugar a um espaço interativo, onde, com recurso às novas tecnologias, o visitante é convidado a descobrir, de uma forma divertida e apelativa, os sons do montado, a paisagem através do olhar, os aromas da terra, o sentir a natureza e a provar os sabores locais.

salasentidos

Regularmente são realizadas provas e venda dos produtos tradicionais que têm origem nos montados do concelho de Portel, tais como os enchidos, os queijos, o mel, o azeite e o vinho.

«Este espaço torna-se assim numa montra de atividades e de produtos tradicionais, relacionadas com o montado, de grande relevância para a economia local e com o objetivo de promover e valorizar o que de melhor se faz no concelho», realça José Manuel Grilo.

Cinco mil visitantes em 2014

Desde a abertura do Pavilhão, o número de visitantes «excedeu as expetativas», e em 2014 mais de cinco mil pessoas pessoas visitaram “A Bolota”, «facto que é revelador do potencial turístico, cultural e pedagógico que este espaço possui, bem como evidencia o agrado demonstrado quer pela comunidade local quer pelos outros visitantes com origem nos mais distantes pontos do país», salienta o presidente da Câmara de Portel.

Fruto associado aos tempos de escassez no Alentejo, a bolota começa atualmente a ser aproveitada em várias vertentes, uma delas a gastronomia. José Manuel Grilho realça, por isso, o crescente interesse neste produto, «que noutros tempos teve o seu lugar na gastronomia alentejana, fruto da necessidade do povo».

Apesar da importância cada vez maior na gastronomia, «o seu aproveitamento continua a ser essencialmente como alimento de eleição para o porco alentejano do montado, cuja alimentação, tendo por base a “bolota” ou mesmo a “lande,” determina a excelente qualidade da carne destes suínos».

«A utilização da bolota na gastronomia, começa a dar os seus primeiros passos, existindo algumas experiências, na área da restauração e também na área da panificação e da pastelaria. Alguns profissionais da cozinha começam agora a interessar-se por este produto, e a utilizá-lo um pouco a título de ‘experimentação’, sendo que o “Chef” Pedro Mendes terá sido um dos pioneiros nesta atitude, realizando um exaustivo trabalho de investigação e acabando por editar o livro “O Renascer da Bolota”, que inclui cerca de três dezenas de receitas de culinária confecionadas com a bolota, para além de muitas curiosidades sobre a mesma», acrescenta o edil.

No entanto, recorda o autarca, ao montado «está associada uma exploração agrosilvo-pastoril de grande peso e importância local em termos económicos e sociais (e ambientais)».

«A possibilidade de uma gestão sustentável dos montados e do seu uso múltiplo, que permite conciliar a rentabilidade da produção de cortiça com outros produtos e serviços de valor económico, gera importantes rendimentos a nível concelhio, mantendo o emprego e algum equilíbrio no nosso mundo rural», sublinha.

montado

Lembra que, assim, relacionados com o montado, e para além da tiragem cortiça e da sua relevância económica, «surgem outras atividades importantes na economia local» como, a lenha e a produção de carvão vegetal (de azinho), a exploração das plantas e frutos silvestres (esteva, rosmaninho, medronho), a apanha do cogumelo (silarcas), a produção de mel (de rosmaninho), a caça (coelho, lebre, perdiz, javali), a criação do porco (alentejano) e da cabra (serpentina)».

«A este último aspeto, da exploração pecuária, está associado a indústria agroalimentar, bastante importante na nossa região, através da produção de presuntos, enchidos e queijos. Todos estes produtos, por serem do montado surgem com características de sabor e de qualidade reconhecida», vinca José Manuel Grilo.

Montado: um enorme ativo da Planície

O montado, criado pela acção humana (de pastoreio ou de práticas agrícolas), é um ecossistema caracterizado pela presença de azinheiras e sobreiros mas também por uma fauna e flora rica e diversificada.

Assim, a utilização dos montados como sistemas de produção e de aproveitamento agro-silvopastoril tem representado, ao longo dos tempos, um enorme ativo e suporte económico das populações da Planície.

«A bolota (e a lande), frutos com origem respetivamente nas azinheiras (e nos sobreiros), têm o seu fundamental e principal papel na alimentação e engorda do porco alentejano produzido nos montados através do tradicional regime extensivo de exploração, uma vez que o elevado teor em gordura daqueles frutos do montado conferem à carne, aos presuntos e aos enchidos deste tipo de suínos, caraterísticas organoléticas ímpares e que se acredita que sejam benéficas para a saúde dos consumidores», adianta o presidente do município.

Contudo, conclui, «e uma vez que são inúmeras as ameaças que se colocam hoje à sustentabilidade dos montados, levando ao seu declínio, condicionando o seu rejuvenescimento e colocando ainda em causa grandes investimentos e consequentemente o rendimento e emprego das populações, é importante que se desenvolvam espaços e fóruns privilegiados para o conhecimento, reflexão, debate e discussão dos problemas dos montados em todas as suas dimensões, na qual se inclui a componente pecuária».

Além dos quatro espaços temáticos há ainda uma sala de provas e venda de produtos regionais e merchandising.

Com entradas gratuitas, é possível visitar o Pavilhão “A Bolota” de terça a domingo, das 10h00 às 13h00 e das 14h30 às 18h00.

As entradas são gratuitas.

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